terça-feira, 17 de dezembro de 2019



Boa-noite,

A falta de inspiração, inúmeras vezes nos leva a pesquisar temas diferentes e aleatórios para desenvolver, sem compromisso algum. Isto ocorre agora comigo. No intervalo de uma semana da comemoração do Natal, não encontro um assunto relevante para desenvolver, já postei uma mensagem  natalina...


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Recorrendo a um site de busca na internet, verifiquei que a data de hoje faz alusão à religiosidade, uma vez que é dia de São Lázaro. Eu, particularmente, uma católica de batismo, crisma e algumas missas apenas, desconhecia a vida desse personagem da história bíblica...
Li também, que no dia 17 de dezembro se comemora o aniversário do famoso compositor Ludwig Van Beethoven, do importante escritor brasileiro Érico Veríssimo, além do Papa Francisco.
Todos esses ícones são de grande valor para a história do mundo, contudo, alguma coisa já foi ouvida sobre eles. Assim, resolvi me deter na história de São Lázaro, por curiosidade e durante a pesquisa me perguntava, se seria o mesmo Lázaro que, segundo a Bíblia, Cristo ressuscitara.
Descobri que é a mesma pessoa, Lázaro, cujo nome traz a etimologia grega e significa Eleazar na língua hebraica, quer dizer “Deus ajudou”. 
Era um fervoroso e adepto da doutrina de Cristo, oferecia sua casa para reuniões clandestinas da fé cristã, tão condenadas e perseguidas na época. No período, residia próximo a Jerusalém, na cidade de Betânia, era irmão de Marta e Maria e a amizade que existia entre ele e o salvador do mundo era muito profunda. Tão profunda, que quando ele morreu, Cristo chorou e realizou um grande milagre; o da ressurreição de Lázaro após vários dias de sepulcro.
Os registros históricos ainda comentam sobre a ida dele para Lamaca, na ilha de Chipre, tornando-se um bispo da igreja católica; da menção a dois túmulos para sua pessoa, uma vez que voltou da morte e, o mais surpreendente que não se trata de um leproso, cuja associação foi erroneamente considerada durante muito tempo.
Fico então a me perguntar a respeito da veracidade destes fatos tão perdidos no tempo e no espaço. Como crer neles, sem questioná-los, após inúmeras mudanças de postura que sofrem...
Muitos afirmam que é o mesmo Lázaro, o leproso, o ignorado e isolado homem condenado ao convívio de todos pela sua doença altamente contagiosa e sem cura na época.
Que me perdoe a Igreja Católica, porém torna-se difícil acreditar na vida de todos esses santos e na verdade sobre suas vidas. Talvez, mesmo não sendo prováveis esses episódios, a grande lição que ele nos passa é a da lealdade  acima de tudo, colocando em risco a própria vida a serviço da amizade.
Sendo este Lázaro, aquele que sofreu com a Hanseníase, fica a mensagem de um tempo cruel, sem recursos ou avanço da ciência, onde o reverso da medalha apresenta um quadro de discriminação desumana aos infelizes portadores dessa moléstia, relegando-os ao isolamento e exclusão da sociedade. 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019









E eis que outro Natal se avizinha, amarrado, lento, a passos de tartaruga...


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 Todo o Natal chega despercebido para mim, sempre acontece assim: muitos afazeres; a profissão exige demais e paga muito pouco pela quantidade de tarefas,  e a responsabilidade que elas encerram. Afinal, ser professor consciente não é serviço fácil, principalmente na atualidade, onde se tem a percepção da desvalorização do magistério a cada dia que passa. Um trabalho praticamente invisível para o estado, dificilmente suportado pelos alunos que não têm mais a disposição e vontade de desenvolver um currículo pesado como é necessário para a luta da vida profissional. Infelizmente, convivemos diariamente com casos escabrosos de discentes que mal conseguem escrever com letra cursiva razoável (aliás, diga-se de passagem, um problema de alfabetização que acompanhará o indivíduo por toda uma vida). Aprendi com a própria vida não ficar lamentando: em breve, acredito seriamente no fim da letra cursiva, apenas a digitação virtual restará...
Mas não estou aqui a escrever nestas páginas para enumerar as mazelas da educação, pois a matéria renderia um livro de muitas páginas... Iniciei citando o porquê da minha surpresa de todos os anos perante os primeiros ares natalinos.
Não consigo obter tempo suficiente para tudo que tenho que fazer nesta época: compra de presentes para todos, arrumação de enfeites e decoração, (consegui com dificuldade armar a pequena árvore e pendurar uma guirlanda semiartesanal na porta da entrada do apartamento); limpeza de casa, afinal, a festa de Natal será aqui em casa, dia 24; casa cheia para o almoço, graças a Deus. Dessa forma, tudo deverá estar organizado e limpo.
É preciso força, garra e saúde para dar conta de tudo nestes meus 68 anos... Entretanto, vou conseguindo com paciência, força de vontade. Não tive ainda tempo livre para fazer tudo o que preciso, geralmente as férias escolares vão começar já com o Natal batendo  à nossa porta. Aí sim, ele chega rápido, parecendo propositalmente nos deixar uma maratona para preparar tudo...
Volto a afirmar que isso não é  o mais importante, fazer uma ceia, um almoço, ter a árvore repleta de mimos e presentes que serão oferecidos àqueles que nos são caros, mesa farta e casa em ordem...
Há a grande necessidade de que o coração seja limpo, a alma seja pura, a consciência social esteja presente para o entendimento de  que a muitos não será possível nem sequer um alimento decente para colocar na boca, e isso muito me oprime e entristece: pessoas jogadas como lixo pelas ruas, subvivendo de migalhas, de esmolas, corrompendo o corpo e a mente para conseguir enfrentar a pesada jornada da vida.
Principalmente no Natal, não deve haver espaço para futilidades materiais de que muitos se ocupam; deve ser momento de reflexão, voltado a buscar formas de mudança para uma vida coletiva melhor. E a Educação que poderia realizar esse milagre, entregue às moscas e às traças por descuidos e despreparos de administração pública, pela negligência e ociosidade de muitos profissionais da área... Olha eu de novo batendo na mesma tecla, já disse que o assunto aqui é Natal...
Outro detalhe que borra a felicidade completa nesse dia de festa é a falta daqueles que já se foram, que fazem pesar a sua ausência e que são motivo de lembrança por um simples detalhe que aparece à mesa, ou na casa de maneira geral... Uma flor no vaso, um sorriso simpático, uma piada oportuna...
A vida é assim. Curta, passageira e carregada de momentos mais tristes do que alegres, (sabedoria daqueles que já passaram da idade adulta). Porém, para os mais jovens, é sinônimo de felicidade,  (percepção infanto-juvenil que enxerga o mundo cor de rosa e maravilhoso). E como é bom ter a ilusão da infância e da juventude! Ainda, em minhas reminiscências, guardo na memória os Natais de outrora sem nenhuma mácula, dor ou tristeza...
Contudo, é essencial que a vida continue, que a despeito de nossos sentimentos, respeitemos o desejo e necessidade de todos, que comemoremos com entusiasmo a paixão pela vida enquanto ainda a temos. Feliz Natal para o mundo e que tempos melhores consigam chegar para todos!

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Boa-noite. O texto de hoje é a respeito da demolição de um imóvel cuja ação visualizei hoje a caminho do trabalho...

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Sonhos desfeitos

Dirigia pela Rua Araguaya  no cruzamento com a Carnot, no bairro do Pari, trajeto que faço rotineiramente em direção à escola onde leciono, quando para minha surpresa, o sobrado da esquina mostrava o seu interior semidestruído, a exibir um cenário de entulhos amontoados ao longo da sala. Eram pedaços de parede, largos tijolos amontoados, resquício dos bons tempos, época em que os materiais usados, de maneira geral, eram muito superiores em qualidade.
Confesso que me senti incomodada e por  que não dizer, entristecida com a ausência visceral daquela moradia que visualizava todos os dias ao passar por ali. O congestionamento favoreceu minhas divagações sobre aquele acontecimento e me acompanharam por todo o caminho. 
Uma casa carrega em seu interior muitas vivências, inúmeras passagens: alegres, tristes, engraçadas ou fúnebres. Traz na sua construção , primeiramente, um mundo de expectativa, de sonhos que finalmente se concretizam e realizam as pessoas que tanto lutaram para conseguir um ideal, tão difícil nesses nossos dias, quase impossível para muitos.
Quantas surpresas agradáveis, confraternização entre famílias, horas de amor, mas também de desespero, desafetos  e separações... Isso é toda uma vida! Por esse motivo, não consigo me conformar com demolições, pois dão o fim em  histórias de vida. Ao deixar de existir, uma construção dessas jamais sobreviverá na lembrança daqueles que a habitaram. Como dizia o poeta Toquinho, " uma aquarela que um dia enfim, descolorirá"... 
Por enquanto, ainda não vi esse dissabor acontecer com a casa de minha infância e pré-adolescência, que continua a mesma na minha doce cidade natal, Araçatuba e espero nunca vislumbrar tal fato. Entretanto, esse triste evento ocorreu em um velho sobrado (dizem que tombado...) na região da Avenida Brigadeiro Luís Antônio com a  Paulista. Era alugado, ali passamos pelo menos dois anos, meu filho abrira uma pizzaria ao lado, e , todos convivíamos diariamente sob aquele velho, mas amigo teto... Ainda tenho na memória o desenho de seus cômodos, o velho piano na sala, onde na época aprendia e ensaiava a valsa maravilhosa de Ernesto Nazareth, "Coração que sente". Foi por aquela época, em 2010, que nasceu minha netinha. Logo nos mudamos, porque os negócios não iam bem e vimos com pesar, após algum tempo, a casa ser praticamente derrubada, ficando apenas o seu esqueleto. Foi transformada em uma grande loja comercial. Até hoje quando passo por lá, sinto um aperto no coração por não ver mais aquela imagem que nos abrigou durante algum tempo.
Não deveriam haver demolições, em hipótese alguma, deveriam acontecer...Por que isso ocorre? Venda do imóvel, certamente, falta de conservação e manutenção, vaidade, desejo de modernização... São muitos os motivos, mas para mim, nenhum deles justifica essa violência contra a memória e a vida e meu coração assim como o do magnífico Nazareth é um coração que sente...

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Estive em Ouro Preto e Mariana há dois ou três anos, nas férias de junho. Minas é um lugar apaixonante, diga-se de passagem. As paisagens naturais, o caráter histórico das cidades nos fazem voltar no tempo, numa imersão ao passado, uma coisa impressionante. Com tanta beleza natural, não se pode entender como tragédias que acontecem e ainda acontecerão por lá, podem ser permitidas... O texto de hoje vai relembrar momentos tristes vividos pelo povo mineiro.



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A cidade de Mariana fica próximo a Ouro Preto em Minas Gerais. Em novembro de 2015, uma tragédia inesperada e inaceitável levou 19 vidas. Quase quatro anos depois, em 25 de janeiro de 2019, outro triste evento do mesmo tipo na cidade de Brumadinho, causou a morte de centenas de pessoas.
Tanto a Samarco, responsável pelo primeira ocorrência,  quanto a Vale do Rio Doce são mineradoras poderosas financeira e politicamente, sendo que a última explora 70% dos minérios como ferro, do Brasil. O questionamento que se faz, primeiramente é de ordem existencial e ecológica: por qual razão o homem vem exagerando na extração de recursos da terra; uma loucura e avidez por status e poder dominou o cérebro humano e quanto maior a empresa, mais insaciável é o seu desejo de obter mais e mais lucro. Os próprios políticos não têm mais autonomia e dependentes de outros mercados afirmam diariamente a necessidade de crescimento do país, e nessa roda-viva, nesse afã de correr em busca de poder, não há mais tempo nem vontade de reflexão, de análise de ações, quais as consequências que essas atitudes acarretarão a longo e médio prazo para o planeta e para a natureza. 
A vida humana não é mais cuidada, sua segurança parece ser de pouca importância, uma vez que não houve precaução ou prevenção desses acidentes como forma de evitá-los. Os pobres trabalhadores do entorno que diariamente ofereciam seu trabalho foram simplesmente engolidos por uma cachoeira de lama, suas residências soterradas, a vida dos sobreviventes destruída pela tristeza de perder parentes e amigos que nunca mais voltarão, além de se verem privados de seus recursos hídricos, em sua grande parte poluídos pelos rejeitos de minério... 
Atualmente, todos se esqueceram, pois a dor só não passa para quem sente na pele, e viveu toda aquela catástrofe. As responsáveis tentaram, como sempre, comprar as vítimas sobreviventes, oferecendo dinheiro e benefícios, entretanto, jamais poderão repor as vidas que se foram... A mídia cumpriu seu papel de forma pouco eficiente, pois deteve-se a mostrar sensacionalisticamente, entrevistas antiéticas, com pessoas que perderam familiares, interrogando-as em momentos inoportunos e pouco agradáveis, buscando apenas elevar sua audiência aos níveis mais altos. Em nenhum momento, cobrou das mineradoras, entrevistas que esclarecessem seu descaso em prevenção, ausência que gerou o triste episódio.
A sordidez é tal, que hoje, em muitos canais de televisão há como que um comercial favorável à mineradora Vale, o qual exibe uma lista de benefícios que a empresa vem fazendo para reparar seu dano, que diga-se de passagem, é irreparável. Sabemos que a mídia só se importa com sua posição no ibope e por esse motivo, já nem se lembrará mais de entrevistar qualquer um dos sobreviventes da tragédia para saber como está subvivendo sem seus parentes próximos, sem a pureza de sua água, sem seus bens adquiridos com tanto esforço...
E assim vamos assistindo no Brasil, do palco da destruição, a subida vertiginosa de empoderados, aqueles que vivem da miséria alheia, explorando a natureza sem respeito algum, outros que produzem informação de má qualidade que favorecem e dão voz apenas a quem detém o poder. O estado de Minas e outros tantos que conservam represas, que se cuidem, porque não há garantia alguma de que outras calamidades como essas não voltem a acontecer. 
Se podemos apontar alguma solução é no sentido de cobrar dos nossos candidatos eleitos pelo voto direto, uma atitude mais séria e sensata que valorize a vida humana e a ética no trato do meio ambiente. Quanto à mídia massiva e podre, podemos resolver de forma muito mais simples: privando-lhe a audiência, em sinal de consideração àqueles que foram aviltados e privados do seu bem mais precioso: a convivência diária com seus entes queridos. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Boa-tarde. O assunto hoje é sobre o poder do voto, considerado pela sociedade como a maior arma de transformação. Mas, será ele tão eficiente assim?



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Muito se fala em democracia, direitos adquiridos como o de eleger um candidato através do voto, principalmente para as mulheres que em tempos mais distantes não teriam esta chance como os homens já o faziam. Negros, pobres, ricos, artistas, professores, advogados, enfim hoje, podem dizer em alto e bom tom que vivem uma democracia e exercem este poder de colocar um presidente, um prefeito, um vereador ou um deputado entre outros.
Apesar de toda a modernidade de que dispomos atualmente, urnas eletrônicas, variedade de locais, e proteção das leis, percebe-se que votar não é tudo. Principalmente, em um momento onde grassa a corrupção, a falsidade e falta de caráter. Meios de comunicação de massa induzem a este ou aquele candidato, igrejas tomam posição política a favor deste ou daquele partido, e o que é pior: educadores que se acham donos da verdade manipulam a opinião de seus alunos, convencendo-os a qualquer custo que sua ideologia é correta na questão política.
Como ter prazer em exercer a cidadania num momento como este: o partido dos ricos não presta, o dos pobres se corrompeu, mas não dá o braço a torcer, enquanto outros tentam se eleger criticando e se bandeando para o bojo daqueles que detêm o maior número de eleitores. Honestidade, ética, sinceridade e bom-senso são atitudes que permanecem no passado. A mídia escancara diariamente a vergonhosa escalada do crime, da contravenção, do assalto dos criminosos de colarinho branco. E a ladainha  repete a mesma cantilena, passando de geração a geração as mesmas figurinhas do álbum, que só são trocadas de pai para filho ou neto.
Verbas para eleição então é algo bizarro, que lança na mediocridade milhares de cédulas monetárias que seriam melhor aplicadas em tantos setores carentes da sociedade. Ao lado deste cenário decadente, alguém é capaz de imaginar ainda que a eleição do seu candidato mudará alguma coisa? Tenha certeza absoluta que não, pois a própria população não pratica o civismo, o respeito a direitos e deveres que todo cidadão deve saber e pôr em prática. Sem essa formação de caráter, primeiramente não haverá condição de seleção de um bom candidato, e até mesmo a noção do que seja um bom governo. Obviamente os nossos homens acreditam apenas egoisticamente em satisfação pessoal, nunca no altruísmo e benefício coletivo.Vivemos uma crise existencial, de caráter, de bons costumes, de moralidade... Tudo bem, não há mais certo ou errado, aquilo que dantes era prejudicial ao bem comum hoje é aceito normalmente, porque como todos afirmam o mundo se modernizou e precisamos mudar a nossa postura, a nossa maneira de sentir e agir, mesmo que estejamos reprimindo a nossa vontade...
Deste modo, não chegamos a lugar algum, não sabemos cobrar de nossos governantes, aquilo que já não temos mais: a essência, a sensibilidade, a humanidade. É fundamental que haja uma mudança radical na educação familiar, nas escolas e na formação espiritual das pessoas, principalmente,coisa que nossas instituições não estão capacitadas a fazer agora. Há que se esquecer o dinheiro, status, poder e perceber o óbvio: não há mais seres humanos, eles se materializaram e se concentraram apenas em aquisição de coisas  fúteis, indolência e egocentrismo.
Podemos dizer que a tão sonhada democracia pela qual lutamos tanto para conseguir é deformada, autoritária e inútil, não está preparada para mudar o mundo para melhor, infelizmente.

sábado, 21 de setembro de 2019

Quanto tempo! Retorno a esse espaço que me serve de desabafo, reflexão e emoção voltada para mais uma primavera que se aproxima... Boa-noite e sejam bem-vindos.







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Presente surpresa

Na próxima segunda-feira começa a primavera. Mais um período de beleza no campo e nas cidades, onde a maior representação da perfeição divina aparece estampada na beleza das flores. É algo maravilhoso, a chegada de cores espalhadas  em cada pétala, em cada cálice, em cada pistilo...
Naturalmente, são poucos os que ainda têm tempo e sensibilidade para surpreender-se com sua chegada, com as novas visitantes, filhas dos antigos vegetais, antes, totalmente verdes, uniformemente análogos com os quais a vista já se acostumara.
Pressenti sua presença, há algumas semanas, quando saí à rua no caminho para o trabalho, onde dois ipês fortemente amarelos exibiam cachos de flores, que ao caírem, já formavam um lindo tapete colorido na calçada.
Essa é certamente a mais linda estação do ano. Deveria ser percebida por todos, desde a mais tenra idade ao mais antigo ancião. A reverência à natureza e à sua exuberância deveria constar nas leis que regem o mundo, mas não! Muitos destroem as árvores quando ainda são pequenas e indefesas, não deixando que se desenvolvam e cumpram sua bonita missão.
No meu caso, jamais isso aconteceria, desde criança aprendi a respeitá-las, admirá-las e cultuá-las como um tesouro precioso.
Todavia, a maior alegria dessa primavera chegou dentro do meu próprio apartamento; melhor dizendo, na sacada onde mantenho em prateleiras e na parede, várias tipos de plantas: há mais de dois anos plantara num meio vaso preso à parede um trepadeira da espécie thunbergia grandiflora, mais conhecida por tumbérgia azul, que para mim não é azul, pois mais se aproxima da cor lilás. Havia tirado a muda de um estacionamento próximo a minha casa, onde cachos de flores caíam pelo alambrado de arame num espetáculo visual nunca visto. Esperava que com o passar dos meses, veria aquele festival majestoso a enfeitar com sua formosura a minha parede sem graça...
No entanto, nada. Passou-se o tempo, no estacionamento que me dera origem à planta, nada mais havia, fora cortada à raiz, nada sobrara do que antes era a sua magnífica e perfumada presença. Indignei-me quando um ano se passou e nada de floração. Adubos, terra nova, regação regular, nada me trazia a presença das flores.
Havia já desistido. Suas folhas cor de esperança mostravam-se constantemente atacadas por fungos de cor branca que teimavam em persistir, apesar da lavagem, escovação e borrifação com óleo mineral...
Ouvindo um programa na TV sobre jardinagem, alguém perguntara da ausência de flores em plantas e o especialista respondera que são muitos os motivos, e entre os que eu já conhecia, citou o caso de mudas que quando plantadas só trouxeram o lado masculino. Essas, jamais dariam flores, era necessário que a muda tivesse também o lado feminino. Pus-me a pensar no que ele disse e um belo dia em uma pérgula visualizei a espécie, não hesitei, tirei um pequeno galho florido e trouxe para casa. Mergulhei-o em uma vasilha com água e aguardei alguns dias para plantá-lo no mesmo vaso.
Meses se passaram sem que nada acontecesse, fazendo-me acreditar que a dica fora em vão.
Um lindo dia de manhã, ao dedicar-me à rega costumeira, vislumbrei por entre as folhas um leve tom azul. Meu coração sobressaltou-se como o de uma criança que aguarda ansiosamente um brinquedo e o recebe sem esperar. Afoita, afastei os galhos com cuidado, e, lá estava ela: ostentando seu lindo tom lilás, a primeira flor a olhar-me , e mais dois grandes botões ainda fechados em segredo como que a desafiar-me a conhecê-los.
Indescritível essa emoção,  sorri e quase cheguei as lágrimas com aquela aparição tão desejada.
As três flores já se abriram, murcharam e caíram. Agora as folhas apresentam o seu verde costumeiro... 
A minha inquietação cessou, já não as procuro todos os dias, porque sei que daqui a algum tempo, elas virão me visitar novamente, trazendo o presente colorido mais valioso cuja presença agora é garantida!