sábado, 31 de dezembro de 2022

 Mais um ano para minha coleção... Já são consideráveis em quantidade, acredito que em qualidade também, tenho sempre a preocupação em melhorar a cada dia, identificar meus erros e tentar corrigi-los, árdua tarefa...






A HAPPY NEW YEAR!  



Os eventos de Natal e réveillon caracterizam-se mais por seu cunho social. São os mesmos desejos e votos a cada ano, até momentaneamente sinceros acredito, entretanto de difícil realização, uma vez que a própria individualidade do ser humano, a sociedade familiar a que está engajado o impedem de doar-se inteiramente aos parentes e amigos próximos e distantes. Interesses econômicos envolvidos em cada vida determinam os grupos a que devem se aliar para o alcance de objetivos e realizações profissionais. E não tenham dúvida, isso é o que mais importa ao ser humano hoje: status, posição social, estabilidade financeira, haja vista que sem esses requisitos não há aceitação, nem mesmo valorização do indivíduo no meio em que vive. 

Muitos ao lerem  textos como esse podem indignar-se com eles, afirmando o contrário, tentando contradizê-los, chegando até a chatear-se com seu conteúdo, uma vez que incomodam e nos impelem a refletir sobre ele. Pois é meus amigos, não me levem a mal, quando aqui escrevo após muitas reflexões sobre a vida, não há o intuito de ofender ninguém, uma vez que as alegações aqui depositadas estendem-se de forma generalizada e nunca particular. A humildade que muitos pregam como virtude do homem, só se justifica naqueles que são privilegiados socialmente e nunca àqueles que não alcançam um status invejado perante à sociedade em que vivemos, por mais despojado que esse sujeito seja. Quando criei esse blog não o fiz com o objetivo de apenas agradar, exibindo textos melosos e piegas, mas sim, com o intuito de apontar as falhas que todos nós, pobres mortais, cometemos diuturnamente.

Também me incluo nesse rol, também sou pecadora e mortal como todos. Acredito que só melhoramos e depuramos nossos espíritos a partir de críticas e autocríticas coerentes e construtivas com base em reflexões sensatas. Nesse contexto, na maioria das vezes, menos é mais, uma das frases mais inteligentes de que tenho conhecimento. Não exageremos em elogios, em doação de amor ao próximo; em sinceridade e piedade quando realmente não estamos nos importando com isso ou não vamos conseguir tais intentos. Devemos nos lembrar que a nossa atitude é tudo, o exemplo que deixamos para nossos filhos e gerações futuras. Se não somos sinceros o bastante para realizar o que dizemos, para que afirmá-los com tanta veemência?

A futilidade, algo que infesta a alma de muitos seres, manifesta-se na valorização de quinquilharias materiais, bens de consumo que nunca levaremos conosco, não são essenciais para o nosso crescimento. Porém, são extremamente valorizados e invejados por aqueles que não trabalham seus espíritos e resumem toda uma vida a um amontoado de coisas inúteis adquiridas por alguns sob sacrifícios descomunais. 

O apego exagerado ao dinheiro consome muitas existências que deixam de valorizar e aprender com a escola da vida o que realmente importa. Não que devamos esbanjar, nos tornando pródigos, arriscando nosso futuro e o de nossos filhos; é preciso ponderação, preservação para uma velhice segura em que possamos gerir nosso próprio sustento sem o transtorno da dependência econômica de filhos e parentes. 

A indiferença é uma das grandes mazelas que o ser racional e inteligente tem a capacidade de apresentar. Quando isso acontece e acomete a alma é capaz de ferir mais do que uma arma letal, pois diminui, desvaloriza uma pessoa que pode se sentir a pior das criaturas da face da terra, acredito que o desamor gera essa atitude tão vil.

Estou aqui a escrever e a recordar da minha infância quando ao frequentar a igreja nos eram apresentados os pecados capitais e a didática que usava para ensinar era fantástica! Como exemplo, a soberba, ou melhor dizendo, a vaidade, a sensação de superioridade perante outrem não é bem-vinda, uma vez que produz pessoas arrogantes que se prevalecem sobre as outras por vários motivos: aparência física, privilégio de classe social ou familiar, aparato intelectual, entre outros. Quem dentre nós já não padeceu com esse mal e muitas vezes teve que engoli-lo pois partia de alguém com posição mais favorecida?

O ódio, a ira levam ao desvario podendo provocar danos à vida de outros ou a nossa própria, acabando com a paz e a fraternidade. Quantas famílias perdem seus membros por essa causa tornando-se amarguradas pelo resto de sua existência...

Se pararmos para  pensar são muitas as falhas que estamos arriscados a cometer, como a inveja, a preguiça, e não apenas os pecados capitais, existem aqueles  classificados como mortais responsáveis por tornarem infelizes milhares de seres...

Temos capacidade de evitar tudo isso, basta parar um pouco para pensar, no que temos feito ao longo de nossas vidas. Podemos melhorar certamente; cada ação causa uma reação, consequência, é uma lei da física, mais especificamente a terceira lei de Newton da qual não podemos fugir. E alguém já disse: "Você recebe do mundo o que dá a ele".



sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Reflexões sobre o Natal






 Sempre que essa data chega, não canso de falar: me pega de surpresa. Perdida em afazeres mil, sempre acordo com uma grande árvore natalina a exibir suas cores e luzes à porta de shopping centers, ou com um Papai-Noel gigante. Às vezes, saio às compras rotineiras e me deparo com produtos natalinos aos borbotões nas portas de entrada de lojas populares. Esse ano não foi diferente: não havia saído muito nesses últimos dias, porém, quando abro a porta do meu apartamento, me deparo com a grande guirlanda de flores e arranjo de porta dos vizinhos em meu piso. E nem havia pensado em Natal ainda. Jogos de futebol pela Copa do Mundo misturaram-se com a data trazendo o esquecimento temporário. Do último evento, não há o que falar, só decepção, também nessa altura do campeonato consigo perceber a conotação política que envolve o acontecimento, de modo que competições esportivas de uma maneira geral, não me passam  credibilidade alguma quanto à lisura e ética necessárias. Acredito que até a década dos 50 ou 60, foi diferente, atualmente...

Não posso falar de Natal sem citar vivências, experiências ao longo dos anos que já não são poucos. Recordo-me bastante da infância distante em Araçatuba, minha querida cidade natal na casa de meus avós maternos, a preparação de uma ceia interminável, a casa cheia, a molecada correndo de um lado para outro a incitar os puxões de orelhas, os castigos e tudo mais no sentido de reprimi-los. Família grande, apesar de a casa ser bastante espaçosa não deixava canto algum vazio, fosse na sala ou em qualquer outro cômodo, áreas e quintal. Apenas o quarto de minha avó era sagrado, nenhum neto entrava ali, para bisbilhotar ou reinar; a cama sempre impecável assim como a arrumação dos móveis e acessórios simples. Me vem à memória os preparativos que antecediam o evento; cansei de ajudar a forrar formas de empadinhas, fossem de camarão ou palmito. Os netos adoravam comer salgadinhos, mas a ceia dos adultos era farta, graças a Deus. Nessas ocasiões. a casa era invadida por um aroma delicioso do preparo de carnes a assar, arroz de forno, entre outras delícias apreciadas pelos mais velhos. Para meu avô, de descendência portuguesa, não podia faltar a rabanada que ele mesmo fazia e o doce de aletria, que não me era muito simpático pela semelhança com o macarrão espaguete. Todos à mesa, a criançada a bater com os talheres nos pratos produzindo um som insuportável, até que lhes tolhesse uma repreensão bem dada.

 Ajudar a enfeitar a grande árvore natalina de meus avós, para mim um gigante, dado a meu tamanho, me provocava uma sensação de alegria mista de medo;  era necessário subir em uma escada para este fim! Como os ornamentos eram feitos de louça fininha, forravam o chão ao redor com cobertores macios para que não houvesse o risco de quebrá-los. E depois, o mais interessante para as crianças: o presente que receberiam na madrugada da véspera. Não podíamos deixar de limpar e engraxar os sapatinhos e enchê-los de grama, para as renas do bom velhinho pastarem, era uma festa! Coisas que jamais voltarão! Verifico que hoje, os Natais são tão diferentes, poucos acreditam no mito da festa, outros o criticam por pertencer à mitologia nórdica, apenas para incentivar e aquecer o comércio. Não compartilho desse ressentimento. As crianças hoje, como é  natural,  não apresentam mais os mesmos gostos para presentes, vivem num mundo virtual com a mente povoada de ficção de outra natureza...

Da residência de minha avó paterna também tenho algumas lembranças: a refeição era outra, peru recheado que em nada me agradava, pois certa vez conseguira ver a pobre criatura aguardando o seu sacrifício enquanto lhe davam bebida alcoólica para que a carne ficasse mais macia e apetitosa... Leitão  assado à pururuca. Tenho um particular a dizer aqui, peguei verdadeiro nojo de carne de porco por conta das maneiras de uma prima, que não vou citar o nome, à mesa: ficava enrolando pedaços entre as palmas das duas mãos e depois comia. Até hoje não consegui esquecer esse fato. Os tios bebendo muito querendo saltar muros gigantes, empoderados pela bebida, os brindes intermináveis com champanhe que varavam a madrugada.

Me vem à memória o Abrigo Ismael em Araçatuba, onde uma de minhas tias maternas, a Luíza, trabalhava e morava. Tomou essa decisão desde muito nova, seguia a religião espírita e assim ali, alfabetizava os infantes nos caminhos de Deus. Assisti a algumas de suas aulas, eram fantásticas, usava figuras em flanelógrafo para ilustrar as passagens bíblicas. Certo Natal, como cantasse bem e tivesse boa memória, ela me convidou para interpretar uma música naquela noite. Sempre fui muito extrovertida e fui. Cantei Natal das crianças, mas na minha pureza infantil, me senti desconfortável ao cantar a frase: "Tocam sinos na matriz" uma vez que a religião pregada ali era outra... Coisas de criança!

Acreditei durante muito tempo em Papai-Noel, até que por volta dos 11 anos aproximadamente, fui buscar meu presente em casa, pois segundo meus genitores, o bom velhinho o deixara lá, assim como o do meu irmão. Havia pedido uma pasta decorada com a imagem de Santa Cecília, a protetora dos músicos para guardar partituras de piano, cujo estudo iniciara e apreciava muito.  Não sei porque cargas d'água, meu pai achou de colocá-lo em um vão entre duas portas abertas naquele exato momento, talvez ele se atrasara na compra e deixou-a cair, fazendo um grande barulho. Foi quando parei de acreditar naquele mito tão esperado e mágico. 

Muitas ideologias de cunho político não orientam o fortalecimento dessa crença em Papai-Noel, porém jamais conseguirão destruir sua imagem, uma vez que simboliza poesia, só bons valores e sentimentos que vêm de encontro à inocência de uma criança.  Não importa a sua origem, ou país que representa. Além de fazer parte da festa de Natal, é uma tradição de muitos anos passada de pai para filho, de mãe para filha, de avós para netos... E por aí vai. Essa festa é mais do que a fidelidade à passagem bíblica, é responsável pela agregação, comemoração da vida, união entre as pessoas, respeito mútuo, amor... E se traduz em lembranças. Não há quem não se recorde de alguém querido que nos deixou, mas que está presente em nossos corações.

 Aos mais velhos, saudades dos Natais passados, aos mais jovens construção de experiência que ficará eternamente guardada em seus corações! Nesse Natal, desejo a todo mundo, muitas felicidades e boas lembranças!


sábado, 17 de dezembro de 2022

A duras penas...

 Na idade dos três anos uma criança vive praticamente de ilusão. Segundo Piaget, a fase em que ela se encontra é a do período pré-operacional, que só termina aos sete anos...

Esse episódio faz parte de meus passeios pela memória, sinto saudades de Paulo Bonfim em seu programa do mesmo nome na Rádio Cultura...


Disponível em Google image




Foi assim que tudo aconteceu: exatamente nessa idade. Meu primeiro filho não aceitava não como resposta: se queria um brinquedo tinha que ganhá-lo. Acredito que todas as crianças nesse estágio agem assim, pois não há o desenvolvimento cerebral necessário para raciocínio e entendimento das situações conflitantes nessa faixa etária. Lembro-me bem ainda hoje apesar do avançado da idade, do que fazia quando era contrariado. Podia ser em shopping, na casa de alguém, enfim, ainda me recordo daquele cabelinho loiro e muito liso,  sacudindo quando ele tentava convencer, batendo a cabeça contra o chão. Aquilo me deixava louca, mas reunia toda a paciência que conseguia para aparentar calma, conversar com ele e aquela crise, se prolongava por minutos que pareciam uma eternidade. Só fui descobrir que ele batia contra o chão levemente quando numa dessas tentativas, sem querer, fê-lo com mais força entrando em choro sincero.  Nem sempre era possível presenteá-lo da forma como queria e o resultado era sempre o mesmo. E o tempo foi correndo, não me recordo se estava grávida de minha filha quando ele me fez um pedido para presente de Natal. Como  sempre, queria um robô caríssimo ou um carro de controle remoto, um Pegasus, que para o salário de professora e de um comprador estava além das posses econômicas. Pagando mensalmente o imóvel que adquiríramos somado a outras despesas mensais de primeira necessidade, não hesitei: quanto ao robô Percival, nem sonhar! Acabei comprando  um carro de controle remoto, contudo,  não era o Pegasus. Confesso que sentia uma sensação de remorso por não poder atendê-lo e assim, comprei também um outro presente, algo que ele nem conhecia: um balão solar! No afã de presentear nem procurei saber que esse tipo de balão traz riscos ao tráfego aéreo; hoje com mais idade, raciocinando melhor, tomei conhecimento do meu erro, apesar de o balão descer durante a noite e não agredir o meio ambiente por ser biodegradável. Acho que ainda existe; mais parece um saco de lixo na cor preta e até hoje desconheço o processo que ele desenvolve para subir tão alto. 

Depois da noite de Natal, só posso dizer que ele se decepcionou com a falta do  carro que pedira, mas, com o tal balão, ficou encantado! Não via a hora de colocá-lo no céu como afirmava em sua cândida inocência. Como morávamos próximo à represa de Guarapiranga em São Paulo, na década de 80, um local maravilhoso onde apenas a natureza imperava, lá fomos nós com o  balão já cheio de ar e lacrado. Conhecendo o filho que tínhamos, resolvemos não soltar o balão definitivamente; amarramos um tipo de linha até forte, porém não o bastante para suportar o peso que ele adquiriria ao sabor do vento e que não soubemos prever. 

Lembro-me bem da alegria dele ao ver o balão subindo, os olhinhos brilhando de tanta felicidade, aquele presente acertara na mosca, fê-lo esquecer da frustração pelo robô e o carro. Segurava, pelo menos, fazia a maior força para segurar a linha que prendia o balão a suas pequenas mãozinhas quando o inesperado aconteceu: a linha se rompeu com o peso que o objeto alcançou a uns 10 metros de altura.

Nunca me esquecerei do seu grito de dor e tristeza que ecoou pelos ares. Erguia os bracinhos para o vazio como que querendo alcançá-lo em vão, passou do desespero ao choro sentido, lágrimas rolando pelo rosto enquanto pedia pelo balão. E o objeto do encanto foi sumindo cada vez mais no infinito, até se resumir a um pontinho negro no azul do céu. De nada adiantava falar com ele, dizer que compraria outro igualzinho, ele queria aquele...

Voltou para casa cabisbaixo a soluçar, confesso que até chorei também por dentro, e por reconhecer que acertei em minha tentativa de agradar e falhei  em não manter pelo menos por um dia o objeto do sonho e da ilusão infantil.

Assim  crescemos, impulsionados pelo sofrimento que aos poucos nos aproxima da realidade e do que é a vida em seu aspecto. 


sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Abençoai, senhor, o alimento que vamos comer...

 Fiquei muito tempo sem consumir carne. Praticamente a adolescência inteira, para a loucura de minha mãe que se preocupava muito temendo uma anemia...






Tachada como enjoada, comia muito pouco. Na verdade, não tinha apetite e tampouco sentia fraqueza. Bastante ativa, lembro-me a ensaiar peças de teatro e atividades de apresentação de dança coordenando os grupos de colegas na maior disposição possível. Hoje, me ponho a conjeturar porque não comia carne. Recordei-me da casa de meus avós maternos, os Ferreira Santos no bairro Santana em Araçatuba, minha cidade Natal. Ali, não havia um simples quintal. Quase uma chácara, tomava a esquina toda; espaço que abrigava árvores frutíferas, criação de cabras e abelhas, e  me vem à cabeça a imagem de meu avô, José, homem ativo, trabalhador a retirar o mel de Jataí e de outras abelhas que ele mesmo coletara em grandes caixotes. Era interessante o modo como ele fazia isso: quando via um enxame desses insetos, corria a queimar açúcar em ponto de caramelo para esfregar nas caixas  juntamente com folhas de cidreira, folhas de laranja e, batata! Com o cheiro doce invadindo o ar, os animaizinhos se aconchegavam embolados em seu novo lar! Lembro-me das cabras e de uma em especial, a Branquinha, tão dócil, a minha preferida que adorava comer folhas de mandioca, que lhe dava escondido, pois meu avô dizia que lhes fazia muito mal, mas a mente infantil não alcança a compreensão do perigo. Havia também um bode, que sempre ao sair para o passeio se indispunha com o outro de um vizinho chamado Delico. Quanta saudade daquela época! A velha engenhoca num canto, uma fábrica de mel de cana, garapa pura da melhor qualidade. A minha avó, Chica como era conhecida,  a fazer o melado daquela cana e queijos com o leite das cabras. A grande parreira de uvas rosadas, doces como caramelo a agradar as crianças e adultos por ocasião do Natal. Num cercado, a criação de alguns porcos e o quintal praticamente todo tomado pela criação de aves: patos, galinhas Rhodia e Angola, a cantar o seu cocorocó incessante; patos e marrecos que nadavam no tanque de cimento ao longo da cerca próximo ao pé de beladona...

Comecei a observar com o passar do tempo, a execução das galinhas e patos naquela comunidade animal  para os dias de festa. Aquilo me dava um arrepio frio por dentro que subia dos pés à cabeça não conseguindo atinar com o porquê da morte daquelas pobres aves que para mim soava como vítimas à mercê  de homens covardes. Os patos recebiam um tipo de abate diferente, tinham o pescoço decepado. Vendo um tio, Jaime, hoje falecido a cometer esse "crime" como entendia na minha concepção de criança, pus-me a chorar, desesperada ao aconselhamento para me afastar, pois o choro segundo ele, fazia com que o animal sofresse ainda mais . Certa vez, por ocasião do Natal, contrataram um homem para que matasse um dos porcos e para meu desespero, pois encontrava-me por lá, constatei que o animal fora submetido a um intenso sofrimento, uma vez que o "matador" não acertara a faca no local letal do animal e ele se punha a correr desnorteado pela dor, todo ensanguentado a grunhir em desespero para minha tristeza, fugindo dali aos prantos. Desde criança, revelei-me muito sensível, pedia licença aos matinhos e florzinhas do quintal para passar, segundo informações de minha mãe, haja vista que isto ocorria por volta dos meus dois ou três anos...

Foram essas as razões que me fizeram odiar o sacrifício dos animais, foram elas que não me permitiam colocar na boca nenhum tipo de carne e sentir prazer em algo que envolvia um sofrimento sem fim causado a inocentes por mãos de pessoas vis  que abusavam da sua força e poder. Os anos se passaram, tornei-me adulta e com o tempo essas lembranças foram se apagando aos poucos da minha mente. Comecei a comer carne depois de muito tempo quando tive meu primeiro filho aos 28 anos. Até hoje, antes de ingeri-la agradeço a dignidade daquele animal cujo corpo nasceu e morreu para nos dar energia e vida, peço perdão no meu âmago por cometer esse pecado que antes considerava inaceitável.

Todos esses fatos me levam a refletir sobre a triste sina destes seres abnegados. Os bois, como exemplo, animais magníficos de extrema beleza que vivem tão pouco e são dizimados aos rebanhos para alimentar homens,  entre os quais, poucos são merecedores desse imenso sacrifício. O mesmo destino ganham os porcos e galinhas, mortos aos milhares diariamente no mundo todo para garantir a vida de seres humanos que durante as refeições nem se lembram de agradecer a esses mártires puros. E, existem ainda os animais que são executados pelas mãos de  homens mesquinhos por valerem dinheiro como os felinos, paquidermes, répteis, etc.

O assunto é mais sério do que pensamos. Uma correção de textos entre as  que faço regularmente, me chamou especial atenção, aliás, não era correção e sim uma versão de trabalho acadêmico para a Língua Portuguesa a ser entregue na Faculdade Mackenzie. O relato era assustador, uma pesquisa científica sobre a biogenética, engenharia genética envolvendo o  bem-estar animal. Ali se exibiam quadros aterrorizantes, os quais nunca vou esquecer: um ser submetido a uma mutação genética, em benefício do ser humano, revelando  maus tratos e desprezo total a que era submetido pelo seu criador: perus que para produzirem carne macia e ganho de peso, mal conseguiam suster-se de pé exibindo os membros inferiores totalmente rachados e dolorosos; Chester, animal de laboratório que não era mostrado dado à aparência pouco aceitável,  no entanto,  consumido em larga escala;  vacas com câncer de úbere, provocado pelo abuso de ordenha mecânica e excesso de aplicação  de hormônios; sofrimentos em grandes granjas em que as aves viviam encarceradas, sem o mínimo de espaço necessário; recebendo altas doses hormonais de crescimento, tornando-os aptos para o abate aos seis meses de vida;  pintinhos sacrificados em máquinas trituradoras quando não apresentavam as condições de comercialização esperada...Tudo isso e uma Bioética que tentava inutilmente lutar contra essa tortura toda sem conseguir sequer atenção das autoridades.

Quando terminei a tradução, estava praticamente em lágrimas, voltou-me à memória o suplício sofrido pelos animais constatado na infância e  hoje verificado numa exacerbação exponencial sem respaldo algum,  não para matar a fome, mas para enriquecer grandes produtores inescrupulosos e  insensíveis...

Por isso, peço: agradecei  a carne daquele animal que enriquece sua mesa, lembre-se o quanto sofreu para te proporcionar uma vida saudável,  na sua inocência tomando amor pela mão do carrasco que o criou e o conduziu à morte. 

Penso comigo que não haveria necessidade desse tipo de alimento: a terra nos dá uma  imensidade de frutas, verduras, legumes, cereais, leite e derivados, sementes comestíveis, castanhas, capazes de manter nosso corpo saudável sem a necessidade de exterminar ou tripudiar sobre a vida dos pobres animais. 





















sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Sala de aula - local de estudo ou de ascensão social?

É sempre bom conversar com os pré-adolescentes, principalmente os  dessa geração, cuja inteligência digital aflora em conclusões rápidas e coerentes. O diálogo com minha netinha  foi um dos motivos que me levou a escrever sobre esse tema, o outro foi a experiência de 35 anos no magistério...



Sala de aula - personagem importante no desenvolvimento humano



Sempre me pergunto sobre o papel que a sala de aula representa para as crianças, adolescentes e adultos. Muitos dirão que é o local de aprendizagem e não posso dizer que não, porém os conhecimentos específicos que ali são desenvolvidos não estão em primeiro lugar da pirâmede para os alunos. Existe como o próprio *Bordieu afirmava, um desejo de ascensão social, porque ninguém pode negar que ela encerra um grupo em constante interação e o mais importante: a busca por classificação; ou você lidera, assume uma posição de destaque ou se isola, não se integra, e procura outros subgrupos de menos prestígio para se relacionar. 

A hierarquia ali presente traz a figura do professor como líder, entretanto, os  novos parâmetros e rumos que a Educação tomou coloca os alunos em evidência, agrupados ou não, em posição privilegiada. Recordo-me dos meus tempos de aluna, já bastante  distantes em que a disciplina e a ordem eram obrigatórias, havia o medo de errar, a ansiedade por melhores notas, a luta interna para conter-se e não expressar livremente  anseios e revoltas, uma vez que qualquer atitude indisciplinar gerava expulsão, assim como reprovação por três anos consecutivos ocasionava o jubilamento, que nada mais era que a exclusão de qualquer escola pública; apenas as particulares acolhiam o aluno nesse caso, o que na época, causava o desprestígio da escola privada em detrimento da pública que tinha o conceito de excelência pela população. Apesar de todas exigências no setor da educação na década de 60 e 70, era visível a projeção de certos alunos dentro da escola, fosse por porte físico privilegiado, por pertencimento a familias de prestígio na esfera social da cidade ou até mesmo, por aproveitamento e desempenho escolar. Nesse sentido, lembro-me de uma aluna que não vou citar o nome, que causou grande impacto, digo até alvoroço em nossa turma com sua transferência para o nosso grupo: havia um comentário, diria até um alvoroço; uma explosão de disse-me-disses sobre ela no aspecto físico, independência feminina e carisma.Assim que chegou, revelou-se dominante e admirada garantindo seu status de líder. Desde o curso primário, hoje chamado de Fundamental 1, destaquei-me não por porte físico; era uma pessoa bastante comum, extrovertida, apreciadora de literatura, música e poesia o que me impulsionavam a declamar em todas as solenidades e comemorações cívicas,  tornando-me em consequência bastante conhecida na escola que frequentava, o que foi diminuindo no ginásio, hoje Fundamental 2, uma vez que comemorações cívicas resumiam-se mais em desfiles acompanhados da fanfarra em que tive oportunidade de participar. Como obtivesse sempre excelentes notas no primário era sempre elogiada e colocada em posição de destaque. De memorização rápida, participamos eu e um colega até de um certame na rádio local, um concurso de perguntas muito acompanhado pela população escolar. De algum modo, consegui manter meu lugar na hierarquia social. Agora me pergunto: e aqueles discentes sem desempenho relevante, de baixa classe econômica, sem porte físico marcante e comportamento introvertido, que tipo de classificação recebem ou recebiam? Algo inevitável e injusto, todos são seres humanos.

Atualmente tudo mudou, a maneira como se vê educação hoje difere radicalmente, o desenvolvimento no aspecto social apesar de ser um dos principais motivos que impulsionam a educação, não são suficientes para evitar bullying, cyberbullying, violência verbal e até  física, haja vista a liberdade de expressão de que os alunos dispõem, até o ponto de desrespeitar, agredir e até matar seus professores, direção e funcionários envolvidos no processo.  Mais de três décadas no magistério público estadual possibilitam essas conclusões e constatações feitas aqui por essa autora. 

Mesmo com toda essa estrutura, alguns educadores mais ousados arriscam-se a indispor-se contra o sistema batendo de frente com o problema, agredindo alunos e funcionários tentando manter seu status de líder da pirâmide educacional. Há aqueles que desrespeitam os direitos discentes, avançando além da sua função assediando moralmente e até sexualmente seus discípulos. Uma grande parte, felizmente, cumpre sua árdua missão de entregar muito e receber pouco como retorno, seja no caráter financeiro, afetivo e reconhecimento da dignidade que a profissão envolve.  

As escolas privadas não são diferentes, contudo apresentam  uma particularidade gritante: a necessidade de manter a clientela a qualquer custo, principalmente em tempos de competição capitalista selvagem, até diria. Nesse caso, os professores são praticamente obrigados a dar atenção a todos, valorizar  veladamente alunos provenientes de famílias com maior poder aquisitivo. Para que mantenha seu emprego nessas instituições o professor deve ser totalmente ético, neutro em suas ideologias, seguidor comprometido do projeto pedagógico da escola em que trabalha. Quanto aos alunos dessas escolas, o caráter do ter sobrepõe-se sobre o ser, de forma que os de classe social mais favorecida predominam, exibindo produtos e acessórios de prestígio determinados pela grife e poder aquisitivo. Os demais alunos de classes em ascensão ou emergentes  absorvem a cultura vigente e sofrem na tentativa de acompanhar e até ultrapassar os primeiros. Os mais pobres conseguem ocupar os mais baixos patamares, são vítimas de bulying e levam por toda a vida uma baixa autoestima, apenas superada por esforço próprio ou a poder de sessões de análise conduzidas por um profissional.  

Em todas as salas de aula, não importa a qual categoria pertença, há intrínseca uma problemática geradora de insatisfação, de classificação e desclassificação de pessoas e grupos, de rotulações infinitas, julgamentos. O habitus citado por Bordieu em suas pesquisas impulsiona as ações humanas e estas são baseadas em aprendizagem no próprio lar ou com a sociedade, infelizmente, daí afloram os preconceitos de raça, cor, credo e religião e estereótipos diversos como a xenofobia entre outros. A sala de aula é muito importante, pensem sobre isso.

  

*Bordieu 1930-2002. Pierre Félix Bordieu foi um sociólogo francês de origem campesina. Foi filósofo de formação e docente na École de Sociologie du Collège de France. Um grande pensador.

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quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Linguagem digital x encontro presencial

 Parece incrível, mas as mudanças que ocorreram após o século XX, são relevantes no aspecto da interação humana, ressaltando-se que até um tempo atrás os diálogos só aconteciam de forma presencial, hoje...




A atualidade  nos reserva coisas novas que já se tornaram hábitos: o diálogo digital, feito de forma on-line, tão presente nas redes sociais, palestras, conferências, aulas... No início de sua utilização, causava estranheza, desconforto, agora se mostra como uma necessidade. O processo do distanciamento social de caráter físico difundiu-se principalmente durante a pandemia;  uma mola impulsionadora de grande poder que aproximou as pessoas de uma forma diferente, imaterial, porém, como única maneira de proporcionar comunicação entre todos os setores da sociedade, salientando-se que o discurso à distância revela uma grande vantagem perante o contato presencial: não é prejudicado pela barreira do espaço físico uma vez que podemos interagir com cidadãos de qualquer lugar do planeta.

Mas não foi esse o motivo que me levou a criar esse texto. O objetivo é mostrar que a medida que usamos essa linguagem virtual e nos habituamos a ela, verificamos o quão eficiente nos tornamos no sentido de entender o interlocutor do outro lado da tela,  seus sentimentos, sua raiva, o seu contentamento, tédio. Aprendemos com a conversa diária a descobrir o que há por trás das entrelinhas, o que cada internauta pensa, conclui, seus sentimentos e emoções seja pela própria pontuação utilizada, pelo tipo de fonte usada, pela ironia constante nas frases, pelo que deixam de escrever...

Os leitores devem participar de redes sociais e entender o que estou a dizer aqui, quem de vocês já não postou um comentário qualquer,  seja em Facebook, Instagram, Twitter entre outros; quem não está inserido em um grupo de Whatsapp? Este pela convivência diária com os mesmos integrantes nos tornam verdadeiros psicólogos, gestaltistas com um poder de análise surpreendente. Ali são descobertos, os líderes, vaidosos, orgulhosos, hipócritas, os displicentes, tímidos,  os sinceros, os invejosos, os carentes...

Percebemos por exemplo, quando há cumprimentos para aniversariantes aqueles que deixam de parabenizá-lo, ou elogiam demasiadamente apenas alguns dos integrantes, em detrimento de outros. Há quem manipule os diálogos chamando à atenção só para si, não dando importância ao que os demais dizem ou postam. São coisas até divertidas de se observarem. Alguns usam de ironia nos falsos elogios com a finalidade de ferir outros e há até os diálogos agressivos, que usam a linguagem de forma crítica em relação  a algum comentário feito pela pessoa que não apreciam. Há quem necessite de ser amparado, ouvido em suas fraquezas e tropeços pela vida... Muitos se ausentam por não se identificar com os outros, e, felizmente há quem seja sincero, simpático e verdadeiro  em sua conduta. 

Lembrei-me aqui de uma visita que fiz ao blog de um seguidor e o assunto que ele desenvolvia era sobre a atividade de ciclismo urbano, no qual houve a citação de um ciclista que havia cruzado grandes avenidas de São Paulo fora das ciclovias. Postei apenas um comentário ressaltando a coragem daquele cidadão, a realizar tal trajeto, comparando à roleta russa que poderia até levá-lo a acidentes de percurso, quando do nada, alguém que não conhecia não gostou do comentário e iniciamos uma verdadeira guerra verbal de opiniões. De nada adiantava dizer que, infelizmente, não há o devido respeito ao ciclista por parte dos veículos de grande porte, a outra parte usava um discurso agressivo que desceu à mediocridade quando revelou-se chulo, repleto de palavrões, tendo como consequência à exclusão dos seus comentários pelo administrador do blog. Acredito que isso aconteça quando alguém perde em uma discussão, não aceita essa perda, passando a insultar seu parceiro. 

Voltando ao Whatsapp, ocorre ainda que alguns participantes adoram dar lições de moral repassando longos vídeos e geralmente não seguem nada do que ali é exposto, fazendo exatamente o contrário; mensagens que pregam a humildade quando o quem postou é extremamente orgulhoso; por vezes, egoístas exibem mensagens de altruísmo e solidariedade que não condizem com suas atitudes percebidas mesmo no diálogo virtual.

Enfim, tenho pensado  seriamente sobre isso. Chego a associar a participação nestes grupos com  Reality shows tão apreciados por telespectadores hoje:  só sobrevivem  até o final, aqueles que conseguem revelar valores que convençam de sua sinceridade, simpatia, humildade e autenticidade, os demais são excluídos. No grupo de relacionamento à distância é a mesma situação, muitos saem por não apresentar jogo de cintura, amabilidade, humildade ou sinceridade no trato pessoal ou não se sentirem aceitos pelos demais participantes.  

Chego à conclusão  de que o contato virtual realizado nos grupos de internet não são muito diferentes daqueles em que nos relacionamos presencialmente, o ser humano é complexo e nunca conseguiremos entendê-lo em toda a sua psiquê, aí reside a beleza e a motivação da vida, é preciso uma luta diária no sentido de construirmos um mundo melhor, mais sincero e empático. 

  









quarta-feira, 16 de novembro de 2022

As pérolas do ENEM

Após quase 35 anos a serviço da educação, como professora de línguas da rede pública estadual, acredito estar apta a escrever sobre o assunto.





 

Por longos anos, a tentativa de descobrir antecipadamente o tema a ser abordado neste exame foi em vão. Acredito que isto tenha ocorrido com  muitos professores como eu; fiquei sabendo que muitos educadores, professores de cursinhos preparatórios para os vestibulares do país chegam ao ponto de seguirem literalmente os passos dos preparadores da prova, descobrindo que bancas de jornais frequentam, a  que programas assistem, que livros leem, nessa tentativa; uma investigação infindável cujo intento quase sempre é infrutífero.

Verifico que a cada ano o nível cultural e de desenvolvimento dos alunos decai terrivelmente e apesar dos slogans pregarem o contrário, é assustador o grau a que projetos curriculares utópicos aliados a falta de atitude e envolvimento intelectual dos alunos e  incompetência docente em vários casos  têm levado grande parcela de nossos jovens das escolas públicas estaduais; incapazes de elaborar um parágrafo sequer em uma linguagem formal que apresente correção gramatical. Nem sequer frases coesas e coerentes  fazem parte do seu discurso escrito,  pobre e muito aquém do que o Exame cobra, o que me deixa terrivelmente triste perante a impotência de atitude a que o professor é submetido perante os parâmetros curriculares impostos pela Secretaria da Educação. Abro aqui um parênteses para incluir outros vilões responsáveis pela decadência de conhecimentos linguísticos e de outras áreas: as redes sociais e mídia em geral. O conteúdo digital que chega através da internet é imenso e grande parte dele de muito boa qualidade, ocorre que esse tipo de leitura formal contida em artigos científicos, arte, reportagens sérias que não vêm carregadas de ideologias políticas há muito deixou de interessar o jovem pelo próprio distanciamento que ele apresenta desse tipo de padrão linguístico. E, regra geral, não há interesse em algo que não conseguimos compreender. As consequências são graves e colorem um quadro dantesco no campo educacional, pois os adolescentes entregam-se ao lazer das redes sociais, satisfazendo-se com a enorme quantidade de jogos e sites de relacionamento, utilizando da linguagem do internetês, sem obrigatoriedade da correção gramatical, já que esse discurso é um misto de linguagem coloquial, abreviaturas, siglas em inglês e outros recursos, bastante distante do que é cobrado em avaliações externas.   Em muitos casos, os jovens aventuram-se pela dark internet, geradora de verdadeiros monstros sociais, haja vista  não apresentar regulação legal, ética ou valores dignos do ser humano. Os programas televisivos pouco apresentam de novo, repetitivos, muito pouco oferecem em qualidade e cultura. Reafirmo a impotência do professor como agente de mudanças necessárias na área da educação primeiramente quanto ao conteúdo programático, pois  quanto à carga horária disponibilizada pelo sistema às aulas de Língua Portuguesa, atualmente, mostra um número de aulas satisfatório, uma vez que são oferecidas diariamente, o mesmo não acontecendo em Língua Inglesa; apenas duas aulinhas semanais e exclusão da disciplina em alguma série do Ensino Médio. Apesar das grandes mudanças de cunho social que envolveram todas as áreas da Educação, uma delas, não pôde e não pode ser mudada: a qualidade da linguagem. Pela sua  própria efetividade responsável na compreensão, padronização de caráter prestigiado nas áreas científicas, o padrão formal torna-se  uma obrigação e ponto. Falando sob conteúdos do currículo de Línguas,  todo educador se vê envolvido e praticamente obrigado a cumprir planos de caráter puramente, perdoem o neologismo, "polititesco": comemoração das mesmas datas durante todo o ensino básico; coisas que alunos já estão cansados de saber através da mídia massiva que exibe diuturnamente os mesmos exaustivos e enfadonhos temas, não saindo do mesmismo de sempre. Obviamente, se temos esses projetos a desenvolver é notório que cada um deles envolverá grande parte das aulas na confecção de cartazes e outras atividades em detrimento do exercício da construção e reconstrução de texto específicamente formal,  extremamente criterioso que ocuparia todas as aulas e ainda, em alguns casos, dependendo da dificuldade do aluno seria insuficiente. Grande número de  instituições privadas e estaduais, da atualidade,  formadoras de professores na área de Letras, não os capacitam para esse fim. Por experiência própria e diálogos com esses profissionais, depreende-se que não conhecem gramática de estilo, figuras de linguagem; gramatica normativa, ortoépia, prosódia, grafia; sintaxe de colocação, concordância, regência entre outras. Por que os grandes homens da educação, criadores de currículo, instituições inteiras público-privadas  não veem isso? Usam um tapa-olho ou são obrigados a usá-los? Como permitir a oferta desse tipo de formação medíocre? Já adentraram em uma sala de aula? Porque qualquer leigo que observe os seus próprios filhos, evidencia a fraca competênica desenvolvida nas instituições públicas e grande parte das particulares no âmbito de linguagens principalmente. Nessas últimas, os pais sofrem para custear um filho apenas para obter maior atenção e garantia de segurança, não que toda a rede estatal esteja entregue às traças,  mas grande parte realmente deixa muito a desejar. Durante as aulas, uma parcela considerável de educadores dedica-se apenas a conduzir seus discípulos a absorverem a sua própria ideologia política, não respeitando a individualidade, a vontade e o espírito de análise crítica do discente. Isso é tão forte, que os próprios gestores não têm a força necessária para impedi-los. O resultado reflete-se no nível de conhecimento, no desinteresse, ausência do exercício na disciplina específica, além de visão unilateral do mundo. Fanatismo de tipo algum produz excelência. 

Esse assunto merecia uma Conferência entre todos os envolvidos, com cartas na mesa, jogo duro, orientação na cultura da educação, noções de altruísmo; um mestre não é colocado nesse posto nobre para induzir, obrigar alguém a pensar como ele. O tema desse ENEM 2022 não poderia ser diferente pelo andar da carruagem socialista que tomou conta de todo o mundo e por que não dizer de todo o processo educacional:  "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais do Brasil". Um misto da área de história, geografia física e política com viés sociológico.  Apesar de ser  apologeticamente apresentado com base numa reportagem da jornalista Vivian Souza do G1 e estar entre as finalistas do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos  e outros textos de apoio  o assunto a ser desenvolvido não é nada atraente, nada que motive ou instigue alguém a escrever, é o mesmo cânone de sempre, a mesma nota dó que de tanto tocada já desgastou o piano. Minorias, miséria, carência, diferenças, vêm acompanhando a árdua vida humana do estudante. Ninguém se preocupa em indagar do que o jovem realmente precisa, os valores que vêm desenvolvendo na escola, pois através deles todos os problemas são evitados e resolvidos e o principal: ao desenvolver o valor respeito, todo o ser será respeitado, o humano, o animal e o material. A liberdade excessiva que contraria a disciplina necessária a qualquer atividade intelectual  foi deliberadamente aceita e convive-se com ela diariamente.  Como escrever um texto desse quilate em uma linguagem de cunho  formal que não está ao  alcance do discípulo?  O que o ENEM espera com os temas que elege? Verificar a competência escritora ou verificar o nível de sociologia política que ele adquiriu? Não ficará sabendo, as dificuldades são imensas... 

Quando o tema é atraente, motivador,  inspira a escrever, do contrário, é uma lista de palavras em um discurso artificial sem alma, apenas  para obtenção de nota, permitido somente aos que conseguem manejar com habilidade esse jargão.  Isso a meu ver é pura covardia, é engodo, não condiz com o que pode e tem sido ensinado nas escolas.


terça-feira, 8 de novembro de 2022

 




O dia mundial da água  já passou... Foi em 22 de março. Criada em 1993, pela Organização das Nações Unidas, (ONU) essa data traz como objetivo principal a preservação dos mananciais de qualquer tipo ou tamanho como garantia da sobrevivência do ser humano nesse planeta magnífico chamado Terra.



Foto do rio Tietê na cidade de Salto (maio de 2022).


Terra, planeta água?


Parece inacreditável,  mas a foto acima é do rio Tietê. Servindo populações de todo o Sudeste nacional por mais de 6000 anos, essa fonte importante abastece uma grande parte do interior paulista, percorrendo 1100 quilômetros, abastecendo 62 municípios paulistas antes de desaguar em outro gigante; o rio Paraná. O incrível nisso tudo é que nasce na Serra do mar a aproximadamente 22 quilômetros do oceano, mas a geologia do terreno, faz com que ele tome o caminho inverso...

Se alguém já teve a chance de visitar a sua nascente, pôde perceber a diferença na qualidade da água. A foto que ilustra o texto foi tirada por mim e mostra a degradação, a miséria humana, sua capacidade e poder de destruição. Deus nos dá a pureza, a garantia de uma vida saudável e o homem  transforma em veneno, tornando impraticável a potabilidade daquelas águas. 

Estamos brincando com a natureza? O que ela tem a nos devolver com essa atitude insana, irresponsável? É do conhecimento de muitos que a água própria para o consumo, a chamada água potável existe na proporção de apenas 2,5 % em nosso planeta.  

As agressões começam nas grandes cidades, em São Paulo, por exemplo, é tradicional um grande rio como o Tietê servir de esgoto, receber lixo e detritos sem tratamento sério, obtendo como resultado mudanças lúgubres nesse manancial, que se manifestam pela cor escurecida, textura grosseira e odor insuportável. Entretanto, infelizmente, como é grande o poder de adaptação do homem,  todos acostumam-se com essas irregularidades, fechando os olhos para o problema ou lavando as mãos à moda de Pilatos... Afinal, a labuta diária,  corrida pelo dinheiro, a falta de planejamento e  organização social afastam as atitudes racionais que deveríamos tomar, repudiando essa situação inadmissível.

Aqui na capital paulista, inúmeros foram os mandatos de prefeitos  que fecharam os olhos e apesar de slogans como "Cidade Belezura", Cidade Linda" entre outros,  jamais moveram uma palha para mudar esse quadro triste, e pelo que podemos perceber o rio Tietê está morrendo aos poucos. Viajando de São Paulo para a cidade de Salto podemos constatar essa triste realidade; a eutrofização, ou seja, a poluição das águas por detritos faz crescerem as algas, em consequência disso,  há redução de oxigênio e morte do ecossistema aquático.  Do alto da pequena serra na Estrada dos Romeiros, temos a visão da perda tremenda de grande parte do rio, inclusive, trechos consideráveis em que a água foi substituída pelas algas...

Não entendi até o dia de hoje o porquê de slogans que não condizem com o estado real das coisas... Como desconsiderar um tesouro destes  de que o Brasil dispõe, enquanto outras nações sofrem com a escassez de rios e lagos? Como não arregaçar as mangas e colocar os mananciais como prioridade, como principais fontes de saúde e vida para a população? Os termos"Belezura" e "Linda" soam jocosamente quando passamos e constatamos essa calamidade toda.

Grande alarde é feito hoje em eventos internacionais que tratam do meio ambiente, a falácia toma conta dos homens públicos e dirigentes de países que levam seus depoimentos em nível mundial, mostrando em seus discursos a existência de  grandes projetos, cuja  realização  na prática não acontecem. Vemos a cada dia a extinção das águas potáveis, lençóis freáticos, dos nossos rios e mares sem que nada seja feito de eficiente, que corte o mal pela raiz, que garanta a sobrevivência dos nossos ecossistemas.Uma grande parcela da sociedade é terrivelmente culpada por tudo isso: grandes e pequenas empresas inconscientes que lançam seus resíduos industriais nas águas; grandes mineradoras que maculam com mercúrio o ambiente aquífero visando apenas poder e dinheiro; da mesma forma grupos do agronegócio poluem as águas com uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos; pessoas que utilizam o curso dos rios para nele escoarem embalagens, detritos, animais mortos  e até móveis numa amostra deplorável da ausência de cidadania e empatia. Sabemos de longa data, que as propriedades da água são ausência de cor, de cheiro e sabor. Qualquer criancinha no início de sua instrução acadêmica é orientada nesse sentido, então por que continuamos ou deixamos que essas ações aconteçam, que essas propriedades sejam alteradas?

Países bem estabelecidos financeira e, sobretudo, culturalmente já passaram pelo problema e o resolveram como o caso do rio Tâmisa da Inglaterra,  que travou uma luta incansável durante os anos de 1850 a 1970, entendendo o valor daquele recurso para o país . Da mesma forma, a Europa realizou um trabalho magnífico com  rio Reno durante 20 anos,  e dispondo de 15 bilhões de dólares para  a despoluição de produtos industriais e agrícolas que maculavam a pureza das águas. 

Muitos amigos com quem converso diariamente em um grupo da adolescência, alegam que o rio Tietê ao noroeste do estado ainda está bem cuidado, mas todo o cuidado é pouco, é preciso manter a vigília diária, a reação pronta contra qualquer tipo de ameaça e isso independe de apenas uma região, uma vez que se os detritos aumentam no leito de um rio vão contaminando todo o seu  percurso fluvial.


Para que um tesouro do quilate do rio Tietê seja resgatado, é necessário antes de tudo, vontade, consciência, humanidade, ética, sensibilidade e porque não dizer espírito de trabalho. Tratamento de  qualidade na questão de esgoto, fiscalização criteriosa dos grupos empresariais; fiscais éticos que não façam olhos grossos à causa; população mais educada e passível de punição em caso de crime ambiental; do contrário só teremos doenças e morte. 

De nada valem os discursos vazios em grandes congressos, porém,  distantes da realidade. Palavras que se esvaem ao vento...

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

 Saudade é a palavra em que se resume o dia de hoje...








SAUDADE...




Sentada em frente a esse ecrã, ao som de pérolas musicais de um passado distante, entretanto, vivo,  presente em meu ser, sinto  mil coisas passarem pela minha cabeça... Lembranças infinitas de coisas e pessoas que já não estão perto de mim; algumas muito especiais, que se foram, mas deixaram um exemplo magnífico como lição de vida aos pobres coitados como nós que ainda carregamos cada qual a sua cruz pelos caminhos da existência; quantas decepções sentidas ao peso dos anos que não podemos mudar, divergências   que nos conduzem ao sofrimento,  frente à  discordância de opiniões, levando muitas vezes ao erro, à má interpretação e até à morte ... 

Quantos se perderam por caminhos incertos da vida, uma grande parte desistindo ou entregando-se a eles. A grande questão é como saber viver. Não nos faltam fórmulas mágicas em mensagens de texto e obras musicais lindas, contudo impraticáveis como regra geral. Entretanto, cada um  sabe quais são suas preocupações e tentamos da melhor maneira nos adaptar e procurar mitigá-las como podemos.

Amigos são poucos com que podemos contar, as barreiras do tempo e do espaço efetuaram seu papel na ação do distanciamento, até mesmo irmãos afastaram-se no afã de cuidar da própria família, restando apenas uma saudade infinita de tempos que não voltam mais. Choramos os mortos, lamentamos nossas perdas, sabendo que um dia também, espera-se que alguém se lembre e chore por nós.

Por que todo o dia de finados nos leva à reflexão existencial? É um dia deveras melancólico que, obrigatoriamente nos conduz a um balanço de nossas atitudes, abrindo caminho para que possamos mudar algumas delas ou, mantê-las. Só posso dizer que tudo se resume em Saudade! Uma preciosa palavra que não existe pelos inúmeros idiomas com essa precisão do termo em Língua Portuguesa...

Saudade  de momentos  de liberdade de expressão, o que realmente não mais existe; todos se calam por medo de coação, de atraírem para sua vida perdas de uma sobrevivência mais tranquila financeira e mentalmente, porém menos felizes! Isso porque se afirma que vivemos em uma de-mo-cra-cia. Leda ilusão! hoje, o debate mais acalorado e sincero é definido como "discurso de ódio", poderia ser assim intitulado: " Cale-se, não tente convencer seu interlocutor sobre a realidade, do contrário..."

Saudade de uma discussão saudável em todos os setores da sociedade, diálogo que levava a soluções e, apesar disso,  conservação da amizade, sem o medo de precisar calar-se ou expor opinião ante o risco  de ser excluído, cobrado pelos donos da verdade! 

Saudade de quando a fraternidade entre os homens não permitia a presença de psicólogos, racismo, homofobia, peconceito, estereótipos entre tantos outros termos ofensivos que são debatidos hoje momentaneamente. 

Saudade dos tempos livres da infância e da juventude, quando a vida era um sonho colorido pincelado com a amizade e amores juvenis!

Saudade de poder viver livre de limitações físicas e mentais, saúde percorrendo todo o corpo até a ponta dos dedos!

Saudade de instituições educacionais que  formavam cidadãos de bem e não se detinham em projetos de vida insanos e utópicos em detrimento de conhecimentos básicos, aplicáveis à vida prática e desenvolvimento cultural verdadeiro nos campos da  arte. É óbvio que se chegamos a esse ponto da necessidade de conduzir crianças e adolescentes a construírem seu próprio caminhar pela vida é pelo motivo de que tudo desmoronou: os alicerces familiares, responsáveis pela formação do caráter dos filhos, desagregando a convivência de todos através de constantes separações, excesso de liberdade, didática dos meios de comunicação de massa,  paternidade e maternidade irresponsáveis, falta de respeito e ética...

 Ao mesmo tempo o estado, manipulador de opiniões, conta com o auxílio de meios de comunicação insensíveis aos reais problemas do ser humano, vivendo vergonhosamente do poder e dinheiro gerado pelas suas ações. Nunca na vida convivemos com tanta vulgaridade, corrupção e anticultura aliadas a falsas informações de grande parte da mídia, a real  responsável por tais atos e que aponta seu dedo acusador para quem não merece.

Saudade de tempos em que não havia tanta jurisprudência na área judicial, desviando-nos da Constituição e de direitos adquiridos por todos, incluindo aí os profissionais, familiares e sociais.

Fala-se da aversão à censura, porém extrapola-se na libertinagem e mau exemplo oferecido a crianças e adolescentes em mensagens indesejáveis no conteúdo  de novelas, filmes, numa tentativa velada de formar cidadãos com desvios de personalidade e por que não dizer, até intromissão na decisão da naturalidade dos fenômenos físicos e mentais esperados de um ser humano em desenvolvimento saudável.

Saudade de quando os profissionais poderiam agir livres, sem imposição de medidas, ou condicionados ao controle de seu  trabalho no momento histórico-político em que vivem sob o perigo de perder seu emprego e,  até em muitos casos, ser preso por agir livremente, pela sua autenticidade e senso de justiça!

É amigos, quando se vive o bastante, chegamos a muitas conclusões, porém não contamos com o respeito e a admiração dos mais jovens, que, infelizmente, veem na velhice insanidade, demência, inutilidade; coisas do mundo ocidental... Apenas o novo importa: roupa e de preferência de grife, bens materiais que lhes deem status social, pessoas para relacionamento, novos países, novas viagens e novas experiências! 

Filhos são para o mundo, ouvimos em altos brados e com isso eles se vão de nós, perdem a nossa convivência e lá estão a sofrer pelo mundo afora, longe de nossos conselhos e orientação quando estamos em plena  maturidade necessária para tanto... Seria cruel dizer "Filhos são para o mundo e os pais para as casas de repouso da vida quando forem um estorvo para eles?

Finados, resumiria Olavo Bilac na frase célebre: Saudade, presença de ausentes" e eu complementaria: "e de tudo que se e foi e que não pode mais ser resgatado..."


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

 Um episódio desconfortável envolvendo questões políticas em um grupo de amigos da adolescência no Whatsapp, e o comentário de um dos membros do grupo a esse respeito foram a mola que me impulsionaram a escrever mais um texto.


Quando seremos nós mesmos?





O ser humano é complexo, é um misto de emoções diversas, tem a capacidade de amar, sentir saudade, arrependimento, compaixão e ódio...

Mas que sentimento é esse chamado ódio? Sabe-se que vem de longa data e é responsável pelo desmoronamento de amizades, amores, relacionamentos em geral. Em que momento ele nasce, apodera-se do comportamento, para liderar sozinho uma conduta destruidora? Através dele, grandes guerras foram planejadas e levadas a cabo, grandes amores foram exterminados, amizades quebraram seus laços e deram lugar ao isolamento e insatisfação. 

A humanidade, em outros tempos, de compreensiva, tolerante e  inofensiva passou à tolerância zero, a usar palavras rudes no trato, ações agressivas emocionais e físicas capazes de levar à morte; pôr fim a uma existência, muitas vezes de pessoas próximas, queridas; cônjuges, irmãos, vizinhos, parentes. Nada é capaz de deter uma pessoa acometida pelo ódio, desaparece o poder de análise e reflexão para ceder lugar a atos insanos que jamais poderão ser consertados ou esquecidos.

Temos como principais motivadores o materialismo selvagem,  o egoísmo, a vaidade ferida, a traição, ou até mesmo contradição de opiniões. Eu diria que a falta de respeito, o avançar no território ideológico de outrem, o orgulho, a apropriação da verdade seriam as principais causadoras deste mal que assola o mundo moderno . 

A mídia apresenta-se como a vilã capaz de gerar, bem como, instigar o ódio e inseri-lo no bojo da sociedade. Através dela, verificam-se a separação dos homens e seus pares, o racismo, o preconceito, a comparação e guerra entre os sexos e sua ideologia, a  inimizade política, a instabilidade entre casais e poderia aqui, enumerar milhões de incitações provocadas pelas mídias massivas como a televisão, internet em suas redes mundiais.

Muitos podem discordar de que os meios de comunicação tenham responsabilidade nessa tragédia toda, entretanto, se pararem para analisar, verificarão  a repetição maçante,  não de informações, mas de intenções, objetivadas por poder econômico e competição exacerbada em detrimento da utilidade pública e apresentação de uma cultura e educação de qualidade. Diante disso, estamos presenciando um racismo selvagem como nunca visto dantes, crimes de ordem político-partidária, homicídios e feminicídios em grande escala, isolamento social, preconceito econômico, ocasionados pela  divulgação de violência, tráfico de drogas e pessoas, produção de literatura que incita a banalização de sentimentos nobres, de valores imprescindíveis do ser humano, da sexualização precoce, da valorização de grandes marcas como forma de status,  da cultura inútil, entre tantas outras pérolas geradoras de enriquecimento para quem as elabora e as tornam pública. 

Os próprios assuntos tratados nas redes sociais tem seu princípio em temas levantados pela mídia; as pessoas esqueceram-se de como iniciar um diálogo saudável com suas próprias palavras e falam com a linguagem publicitária. 

Há sempre os partidários de opinião que se tomam como "donos da verdade absoluta", que além de não apresentar a ética de respeitar concepções contrárias a sua, agridem verbalmente seus interlocutores, usando palavras ofensivas que provocam o início de uma discussão que muitas vezes não acaba no território digital. É preciso lembrar que atitudes impensadas e não ponderadas afastam e magoam pessoas que poderiam ser nossas companheiras, aliadas nessa estrada única,  chamada vida.

Insistir muito em um tema é a matéria-prima dos jornais e reportagens atualmente, é uma forma de puxar a corda para formar paranoicos, seres sem raciocínio e robôs descontrolados. É lamentável, mas precisamos urgentemente nos libertar das mídias e reconhecer sua intencionalidade em criar adversidade e rancor!




E o que você, caro leitor pensa a esse respeito? Deixe aqui seu comentário, ele será muito bem-vindo!


terça-feira, 18 de outubro de 2022

 Não sei sobre o que escrever hoje, só sei que já é tempo...Muitos dias já se passaram desde a última mensagem postada, porém são tantos os assuntos que me perco divagando sobre eles e não chego a decisão alguma... Há dias que um tema surge como ideal para desenvolver, no entanto os afazeres diários não permitem que me envolva naquele momento e a inspiração vai embora como o vento que passa...Fico na dúvida entre uma crônica e um texto de opinião, mas acabo decidindo que hoje não é um bom dia para brigas, decido pela primeira...






A sinceridade favorece a oportunidade?


Lá estou eu, em meus maravilhosos 21 anos, rosto alegre, corpo delgado e bem feito em um vestido branco e azul-marinho numa entrevista de emprego. Tarefa difícil era essa na década de 1973, em minha querida cidade natal de Araçatuba. Terra do gado, como era conhecida, os donos das terras, os fazendeiros proliferavam naquela região, e dificultavam a chegada de indústrias e empresas que eram vistas como um chamariz para afastar os homens do trabalho no  campo. Um calor infernal... Olhando para a rua asfaltada, dava para ver a evaporação em forma de fumaça saindo do chão! Ao menos, o vestido que usava era agradável em conformidade com a estação do verão, além de me tornar atraente. Havia realizado uma verdadeira maratona  em busca de aulas para ministrar, pois, recém diplomada em Letras, seria o ideal conseguir algo nessa área de formação. Entretanto, estava desistindo, muitas tentativas frustradas não estavam nada animadoras nas sessões de atribuição.

Noiva, a aliança fininha no dedo, quase não chamava a atenção. Perdida em pensamentos mil, ali estava eu entre vários candidatos esperando a minha vez de entrevista que por sinal, naquela época não era nada complicada, só que naquele momento, não tinha conhecimento disso. Não estava estressada, sentia a ansiedade normal da espera. A empresa que solicitava a vaga de secretária era a Nestlé, localizada próximo à rodovia Marechal Rondon, aliás acabo de pesquisar o endereço, situa-se  na própria rodovia, quilômetro 31, Jardim Nova Iorque. Lembrei-me do antigo namoradinho de infância, cujo pai era dono daquela localidade, daquele projeto imobiliário. Distraída, fui bruscamente tirada de minhas divagações com o chamado do meu nome e a informação da sala em que deveria entrar.

O rosto simpático do entrevistador me surpreendeu, esperava por alguém sisudo, de meia idade, sério e compenetrado, mas não, era jovem e bastante comunicativo. Começou por tomar informações sobre minha idade, escolaridade, por qual motivo procurava por aquela vaga de secretária e respondi a verdade, pois nunca soube mentir, era um livro aberto a qualquer leitor. Expus minhas dificuldades em encontrar colocação em minha área profissional, a minha inexperiência por não ter tido oportunidade de desenvolver um tipo de trabalho até aquele momento. Pareceu-me que estava agradando, quando ele me pediu que datilografasse  um pequeno texto  na máquina de escrever, uma vez que naquela época não havia a teconologia de um computador ou de um celular como nos dias de hoje. Apesar de tocar piano, havia feito curso há bastante tempo, não era nada hábil e o que logo foi notado pelo entrevistador. Não me deixei intimidar, disse a ele que não tinha prática, mas que teria o maior prazer em treinar incansavelmente e conseguir esse objetivo se conseguisse uma oportunidade. Quanto ao teste de conhecimento em Língua Portuguesa e redação,  me saí  muito bem e ele me disse que poderia começar a trabalhar e com  o tempo a minha habilidade em datilografia podia melhorar. Estava tão feliz com essa afirmação que não reparei que ele começou a olhar intensamente para a minha mão direita, a da aliança de noivado.

Foi quando perguntou se aquela aliança era de compromisso ou um simples anel. Respondi que sim, que era um anel de noivado e que no próximo ano trocaria de mão, pois pretendia resolver um namoro de sete anos através do casamento.

Foi como botar água na fervura, como muitos dizem em linguagem popular. Ele fitou-me como que com pena e afirmou que infelizmente, a empresa não contratava moças noivas prestes a se casar. Inconformada e até um pouco decepcionada com o meu excesso de sinceridade, (deveria ter afirmado que era um simples anel, sem compromisso algum), e também por minha ingenuidade (quantas daquelas candidatas não deveriam ter retirado alianças de noivado ou até mesmo de casamento antes da entrevista?), questionei o porquê daquela atitude empresarial, daquela discriminação, e ele, gentilmente foi dizendo que mulheres noivas se casam, têm filhos e aquela empresa encarava esse fato como um empecilho à assiduidade e comprometimento quanto à profissão. Revelei a minha opinião, argumentando que quem é profissional, realmente não deixa de cumprir sua obrigação, mas não teve jeito, com o mesmo sorriso simpático que ele me recebera, estendeu-me a mão, agradecendo minha presença, desejando-me boa-sorte e me dispensando literalmente.

Agradeci e ainda meio atônita, saí dali sem emprego e sem promessa alguma  de sucesso nesse intento. Até hoje, já realizada e aposentada em minha profissão de professora me questiono se a sinceridade e a ingenuidade valem a pena nesse mundo tão competitivo e difícil!


Gostaram da crônica ou ela não foi relevante ou agradável, deixem comentários, eles são bastante bem-vindos!


quarta-feira, 16 de março de 2022

 


E a vida continua...



Fazer um blog é muito bom, escrever nele melhor ainda. Porém, a dita liberdade de expressão que muitos afirmam estar presente nos dias atuais não condiz com a realidade, apenas a teoria ostenta um lindo discurso utópico e mentiroso. Não temos liberdade alguma, não somos donos de nada, nem de nossa própria casa, carro, filhos e o que é pior:  da nossa própria vontade. Deliberar contra o gado ordeiro e disciplinado nunca foi tão difícil,  nunca discriminou e criminalizou o destemido que ousa contradizer a verdade estabelecida. Vivemos num mundo cruel, hipócrita e desleal em que meias verdades são tomadas como veracidade e viram lei; e acredito: se Cristo voltasse a Terra e se se rebelasse contra esse sistema nojento e vil, certamente seria cruelmente assassinado de forma mais covarde e mais severa que a primeira. Essa é a tristeza, a pedra no sapato do blogueiro, do twitteiro ou de qualquer outro influenciador digital que acaba se acostumando, tal qual no período da ditadura militar, a escrever sobre temas outros, diversos dos que queria realmente versar...




😪

Verba volant, scripta manent

A frase latina acima significa que a palavra dita voa e a escrita permanece. Por essa razão, principalmente nos presentes dias,  temos tanto medo da scripta  pelo motivo de ela permanecer durante os tempos registrada em algum lugar material ou virtual.
E o mais incrível é que temos uma mídia altamente competente para dominar o grande público e enfiar-lhes cérebro adentro, qualquer ideologia que lhes apeteça: quando surgiu a composição de Zé Ramalho na década de 79, "ei, vida de gado, povo marcado, e,  povo feliz", não estávamos num estágio de abdução tal  como o que nos encontramos hoje. Essa indução forma um grande rebanho que se revolta contra  alguns seres pensantes do planeta se eles diferem na forma de pensar. Assim, corre-se o sério risco de ser preso, ou até mesmo linchado pela esmagadora maioria que politicamente correta, defende seu ideal de unhas, dentes e  o corpo todo se necessário for.
Como e quando aconteceu tudo isso? Inicialmente, a partir do momento em que os seres humanos deixaram de se encontrar face a face em praças e locais públicos distanciando-se de seus pares para se "esconderem" nos lares em frente a um aparelho de TV. Nesse momento infeliz, a mudança começou a se operar de maneira macabra, covarde e intencional, muito embora quase ninguém tenha se dado conta disso. E num crescendo contínuo o desenvolvimento tecnológico da comunicação  ganhou dimensões assustadoras fazendo seu trabalho com excelência até chegar onde estamos.
Se acha exagero, basta conversar com alguém e prestar atenção no seu diálogo, que é produto da mídia; ideias próprias ninguém mais as tem, e se alguém ousa demonstrá-las, é cruelmente crucificado com palavras ofensivas que o faz sentir a pior das criaturas. Muitos se omitem e seguem a corrente por temer até perder seu emprego e criar inimizades.
Todos os setores da sociedade são vítimas desse processo de manobra e a marca que atingiu chega a tal dimensão que é praticamente impossível uma reversão.
Me lembrou agora a célebre frase que os policiais em filmes americanos sempre despejam  sobre seus réus: "Tudo o que disser, será usado contra você no tribunal", provocando um silêncio temeroso, uma vez que até a  exposição verbal (verba volant) torna-se extremamente perigosa. Imagine então  a palavra escrita (scripta manent)  quão grave se torna em seu teor; escrever com propriedade e reflexão torna-se arriscado, para qualquer autor que se aventure a sair dos modelos pré- construídos e eleitos como verossímeis  por todos.
O leitor já assistiu a um filme intitulado "Idiocrassy", lançado em 2016? Estamos já naquele estágio da população bitolada e sem raciocínio lógico que ali se presencia, ou até pior.
Tudo isso só ocorreu por um motivo: a crença absoluta, a ausência total de ceticismo que tomou conta da sociedade. Tudo é aceito passivamente; e a partir disso fica difícil, pois teremos uma missão muito mais impossível  do que remar contra a maré de um rio.Como afirmei na introdução, nos bons tempos, não pagávamos tantos impostos como hoje, não havia, IPVA, Imposto de renda agressivamente conduzido, juros bancários abusivos, e tantas outras explorações a que somos submetidos nesses tempos ditos tecnologicamente desenvolvidos. O planeta sendo destruído e dilapidado, terrivelmente explorado para enriquecer alguns e escravizar outros que também são seres humanos. Os filhos, maior patrimônio de uma família, sendo didaticamente educados por meios de comunicação de massa em detrimento das lições de vida paternas ou terei que politicar corretamente incluindo maternas? Os profissionais condicionados à obediência de um sistema se quiserem continuar a ganhar o seu pão de cada dia, porém seu ideal totalmente estrangulado e distante.
Ridículas essas colocações que nos humilham, nos antagonizam até sermos rotulados de neonazistas, neofascistas, neos sei lá o quê, se nosso diálogo difere do discurso que nos foi sutilmente imposto.
Para compreendermos melhor essa situação, basta olharmos um pouco retrospectivamente e relembrar de como a adolescência é vulnerável nesse sentido; os artistas que idolatramos foram usados, venderam-se por status, ascensão social, fama e consequentemente nos usaram para que os fins sórdidos vingassem. E assim continuam até hoje, de forma mais atroz ainda. É preciso uma vida razoavelmente longa e  pensante para que possamos tirar algumas conclusões sábias, entretanto, devem ser  guardadas num cofre de segurança máxima, pois são joias raras que não são identificadas por leigos. 
Muitos dirão ao ler textos como esse: " Será que o autor endoidou?" Estará em suas perfeitas condições mentais?
Infelizmente, não há mais solução e muitos já aderiram à frase:
"Não pode com eles, junte-se a eles"! Ou então: "Aceita que dói menos!"