Começam as meditações infinitas de pessoas queridas ou não, que já abandonaram o palco da vida; saíram de cena inevitavelmente, sem chance de escolha entre ir ou ficar.
Quando novembro começa, essas recordações, invadem meu espaço e preenchem todo meu ser de melancolia e nostalgia.
Lembro-me da avó materna, sua energia e rigor para educar as crianças, netos irrequietos e barulhentos, mas no fundo, hoje, analiso melhor e sei que não era pessoa má como diziam. Simples, educada com o mesmo rigor em sua infância, sem recursos, trabalhando desde tenra idade para ajudar a mãe viúva e com os filhos para criar... Lembro-me que sempre me dei bem com essa avó, recordo-me de quando a levei ao cine Pedutti em Araçatuba, minha cidade natal, na estreia do filme Romeu e Julieta: a fila quilométrica que se estendia pelo quarteirão, e confesso que fiquei preocupada pensando se havia feito a coisa certa, mas no final, tudo acabou bem.
A avó paterna sempre me mimando e me tratando bem, oferecendo-me chocolate ou chá da Ìndia no regresso da missa quando a visitava convidando a mim e minhas amigas para irem até sua casa quando quiséssemos. Ah, quanta saudade!
As tias queridas, os avós, os primos quase irmãos que nos deixaram há um bom punhado de anos...
Amigos, colegas de classe, uma infinidade de pessoas que já, como dizia um personagem de filme: "não mais respiram o mesmo ar que nós"...
Mas a lembrança mais marcante é sempre do meu querido pai que apesar de há quase três décadas distante, ainda é lembrado por vários momentos em minha vida. O quanto ele fez por mim, o quanto sofreu nos meus momentos de doença, o quanto se fez presente também na minha vida adulta, me orientando, amando seus netos como ninguém.
Lembro-me do seu abraço forte por conta do Natal quando o visitava em sua casa em São Paulo, por essa época residia em Rio Claro, distante uns 200 quilômetros da capital. Já doente, não demonstrava tristeza e contrariedade, ao contrário, procurava sempre ter um sorriso no rosto e orava muito para poder suportar o peso de sua cruz.
Ele me ensinou a respeitar o dia dos mortos, me fazendo presente desde pequena, rezando e pedindo pelas almas no Cruzeiro, no pequeno cemitério da cidade na década de 60, onde morávamos. As músicas eruditas enchiam nosso dia por essa ocasião.
Por tudo isso, é que amanhã estarei presente no pequeno cemitério de Arujá, levando-lhe flores, velas e a pequena Bíblia para ler salmos e provérbios de que tanto gostava...
Ainda ressoa na minha mente a pergunta que minha filha fez: " Para que ir ao cemitério, não há mais nada lá". Realmente, mas o meu dever de visitar os mortos nesse dia foi o que aprendi e não quero desaprender. Existe esse termo, ou criei um neologismo? Verifiquei que a palavra existe no dicionário.
Contudo, acredito plenamente que não fiz tudo que podia por ele, deveria ter feito muito mais... A pior coisa de que me lembro é o comportamento adolescente que sentia vergonha quando ele aparecia e eu estava com amigos ou namorados...
Ai se arrependimento matasse! Creio que seja o mal da aborrescência, essa fase da vida tão maravilhosa e tão idiota nas atitudes.
De nada adianta arrependimento, o que está feito, está feito, (já usei essa frase em um texto, não me lembro qual).
O comparecimento, a visita que faço ao cemitério anualmente em Finados, não me redime, mas busca me conectar com sua presença espiritual e amiga que me acompanhará para sempre na minha jornada nessa terra...


