segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Como não publiquei antes este belo artigo denominado Lembrança?"

O dia dos pais chegou, passou e nem me dei conta. Deveria ter publicado este texto maravilhoso que fiz para meu querido pai, estrela de primeira grandeza no céu do meu coração e que há onze anos já não está mais a meu lado. Conto ainda com minha querida mãe, que a despeito dos seus quase oitenta anos, uma verdadeira guerreira, sabe  defender os  filhos como uma leoa. Agradeço a Deus todos os momentos em que posso por poder desfrutar da sua presença.
Quanto a meu pai,cuja singela figura jamais poderei esquecer, passe o tempo que passe,apenas pude levar um presente simbólico de amor representado por algumas flores que ornamentam o túmulo onde jaz o seu corpo, porque o espírito, este eu sei que está na glória de Deus. Pensando nele e o que representou para mim é que escrevi estas palavras:






"LEMBRANÇA"


Tudo aqui nesta casa me lembra a tua presença: seja o solitário porta-retrato sobre a estante que exibe inocente o teu rosto simpático, ou até mesmo o relógio silencioso de parede com que me presenteaste e que continua trabalhando indiferente.

Aquela tua florzinha preferida no jardim...

O frasco do perfume, intacto no armário do banheiro, ou as roupas imóveis no guarda-roupa das quais não tive coragem de desfazer; os chinelos, o doce preferido, os discos... A Bíblia Sagrada esquecida sobre o criado-mudo...

As suas palavras carinhosas, o sorriso amável, a compreensão, o exemplo e a dignidade acima de tudo.

Você, agora, a sua imagem se esvaem no tempo qual fumaça que se dissipa rapidamente ao sabor do vento.

Sua morada já não é esta.

Engraçado como a fragilidade humana é imensa! Os objetos materiais permanecerão por muitos e muitos anos: uma simples folha de papel com anotações tuas ainda remanesce e remanescerá, não sei até quando, enquanto que de você nada mais restará.

Caminhando pelo cemitério silencioso, carregando o ramalhete que eu mesmo compus com suas flores prediletas do jardim, vou remoendo estas palavras, quase uma oração pessoal.

Revejo a lápide fria de onde o nada é a certeza mais dura que me invade o ser.

“Quando poderemos nos ver novamente, trocar confidências?”

De ti, ficaram-me as mais doces lembranças que um ser humano pode ter.

A vida deve continuar... A guerra não acabou, ainda mesmo que um combatente de ouro tenha tombado.

Nada espero... Nada cobro... Nada exijo... Vou vivendo à mercê da sorte...

A mim, resta-me a capacidade de poder fechar os olhos e recompor já com dificuldade o seu rosto sereno. O sentimento que nos uniu é o mesmo e será eterno, imortal, indiferente à fugacidade do tempo...