sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A semana voou. Setembro já começa a prenunciar adeus e em breve, mais um ano que agoniza...Estive pensando seriamente sobre o que escrever nesta postagem, fiquei entre três temas provocadores: Ditadura x Democracia, Transporte coletivo e Velhice, a melhor idade?Todos bastante polêmicos visto do prisma de quem gosta de questionar...Como devia optar, escolhi este que aí vai...



VELHICE, A MELHOR IDADE?




A melhor fase da vida para muitos é a infância,  cultuada em versos do maravilhoso poeta Casimiro de Abreu em "Meus oito anos", ali ele ilustra tão bem quão  é realmente magnífico esse período onde construímos tudo que levaremos para a idade adulta. O mais gratificante no sorriso de uma criança é a inocência, a pureza  e a sinceridade estampadas sem nenhuma artificialidade, acima de tudo. Não foi ainda compuscada pela maldade e  inveja doentias que mais tarde implodirão em belas máscaras para cada ocasião. A idade adulta, apesar de revelar um amadurecimento cerebral, domínio motriz e desenvoltura de habilidades, infelizmente, traz algo de antinaturalidade, condicionada ao meio onde se  atua. Já houve tempos, que já se vão longe, quando ainda o regime patriarcal resumia a família no principal grupo social, em que a dissimulação estava bastante longínqua da personalidade humana, o amor era verdadeiro e único. Nos tempos modernos, com a revolução industrial e tecnológica os pequenos grupos familiares cederam lugar a agrupamentos maiores de trabalhadores onde já não  existia mais lugar para o afeto paterno, foi quando a transformação foi ocorrendo aos poucos e nos transformando no que somos hoje; escravos do relógio em potencial, dos celulares, computadores, televisão. Antes, o pai educava o filho, hoje quase não tem participação, que coisa triste, na formação daqueles que coloca no mundo. É considerado ridículo culturalmente em nossos dias, a permanência de um filho na casa paterna já na mais tenra mocidade. É necessário conhecer a podridão do mundo, abandonar sua cidade, até seu país em busca de aventuras, aliás, nada mais pode ser julgado errado, os valores sofreram também uma brusca inversão onde o que é certo é errado e vice-versa. Posso até ser acusada de apresentar uma visão maniqueísta, unilateral em meus textos, porém para quem ainda está sóbrio e relembra todas as etapas da vida vivida no decorrer de vários períodos político-históricos e as mutações que foram se sucedendo paulatinamente até chegar no momento atual, é a mais pura realidade. Chega-se agora ao ponto: a terceira fase da vida, a derradeira, também ironicamente nominada de "a melhor idade." A frase revela-se bastante controversa para aqueles que nela se encontram e que ainda apresentam-se lúcidos e reflexivos. Neste ponto, no ápice do desenvolvimento cerebral visualiza-se um descambar, um descer ladeira abaixo, vertiginosamente, sem volta, sem paradas.Tudo isso rodeado de hipocrisias, rejeição e falsos sorrisos. Verdadeiramente, há os engajados em programas sociais que são tratados como crianças e levados a constantes atividades em grupo na tentativa de mostrar-lhes que ainda devem se divertir e divertir muito, viajar e viajar, aproveitar o curto tempo que ainda lhes resta. Entretanto, é visível a discriminação que os idosos sofrem no seu dia a dia: filhos em visitas forçadas, estabelecimentos públicos que forçam um atendimento prioritário e simpático contra à vontade, internações que soam como descarte em casas de repouso à espera do momento final solitário. O idoso, francamente, não é bem aceito em grupo nenhum: para os mais jovens sobretudo nos países ocidentais, é o palhaço que serve de diversão onde a falta de respeito prospera, para os adultos a chateação, a falta de paciência para partilhar coisas do passado quando tantas oportunidades de comunicação à distância do momento são muito mais relevantes! Esse momento único  é aquele em que voltamos a nossa origem solitária de nascimento, do esvaziamento dos lares até o derradeiro instante solo.
É preciso acordar enquanto ainda resta tempo! Despertar o pouco do humano que ainda restou em cada um de nós, resgatarmos o carinho, o respeito mútuo por todos, indefinidamente, reconhecer o quanto o artificialismo, o mecanicismo nos mataram pouco a pouco levando embora o verdadeiro amor, aquele que ficou perdido em "nossa infância querida que os anos não trazem mais...
  
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