domingo, 12 de fevereiro de 2023


Progresso X Qualidade de vida



Muitas vezes, me pego pensando sobre  o progresso e me questiono sobre a evolução espiritual da espécie humana...


💀😈😈



Por certo, ela não evoluiu proporcionalmente; infortunadamente, evoluiu para pior.  Ouvindo uma programação dominical sobre pecuária e avicultura, as vozes dos repórteres foram se tornando distantes em minha mente, cedendo lugar a análise e reflexão, uma vez que uma tremenda revolução tecnológica tomou conta de grande parte da vida dos homens do campo que dispõem de capital para financiá-la. São mudanças que trazem maior rentabilidade e certeza desse lucro no sentido de derrubar de forma selvagem a concorrência menos favorecida economicamente neste setor. 

Por um lado,  apoiadas pela publicidade milionária,  essas novas transformações são apontadas como responsáveis por favorecer positivamente o bem-estar animal,  assistido cientificamente  e sistematicamente ao lado de uma bioética que na maioria das vezes não tem força para agir de forma contrária. Desse modo, vemos grandes criações de gado leiteiro reduzindo o rebanho a seres mecanicamente conduzidos, por exemplo, com uma alimentação voltada basicamente à produção de leite de modo inconsciente, através de máquinas, que longe de terem a suavidade da mão humana na ordenha, conduzem os pobres animais a inflamações e casos de câncer de úbere, visando apenas obtenção de lucro e poder. Hormônios de crescimento aplicados insanamente produzem o amadurecimento precoce para  o abate, assim como a utilização de produtos  químicos objetivando um  efeito de carne mais macia e apetitosa, que roubam do animal a possibilidade de longevidade e vida natural. A alimentação reduzida a rações fabricadas em uma grande indústria  que almeja apenas redução de custo para o criador abrindo margem a aumento de lucratividade,  afastando definitivamente o orgânico e o sabor natural dos alimentos que o animal poderia saborear em um passado não muito distante, sem falar na fecundação, totalmente artificial, privada do contato físico, gerando milhões com o aumento da produção. Uma engenharia genética obcecada por aprimoramento da raça, mais preocupada com o armazenamento e venda de sêmens do que com o próprio bem-estar animal.

Muito triste tudo isso. O que falar então sobre a avicultura, em que o confinamento dos animais aproveita os mais exíguos espaços das granjas infinitas, voltados essencialmente para a produção de ovos ou abate, afastando para sempre o modo clássico da criação desses pobres seres, atualmente, proibidos de contato com o solo e uma vida saudável no campo. Novamente, através da tecnologia, os hormônios aplicados favorecem um crescimento precoce que garante um abate em menor tempo, gerando maior fonte de renda ao produtor. Em muitos locais, o controle de qualidade leva a destruição dos animaizinhos que não oferecem os requisitos exigidos pelo mercado, acabados como objetos em máquinas trituradoras. Algo terrível de se acreditar, mas acontecia e devem acontecer em vários locais.

Nesse momento, paro para indagação: a que ponto chegou a maldade humana absorvida pela avidez da obtenção de lucro. Tecnologicamente, o avanço é exponencial da mesma forma que a alma do ser humano que perde toda a sensibilidade e humanidade em detrimento do poder econômico e status social, deturpando-se, afundando-se na lama da mecanicidade, transformando-se em um robô movido pelo dinheiro apenas. Sem contar que o nosso país figura como grandioso no segmento, ao lado da China, Estados Unidos e países da União Europeia.

Manter a receita bilionária de maior produtor tanto no abate como produção de insumos não é nada fácil, torna-se uma verdadeira guerra e coincidentemente aparecem as doenças trazidas por vírus e bactérias que por vezes atingem todo um rebanho trazendo um prejuízo incalculável para os criadores: é a febre aviária, aftosa, maculosa, suína, doença da vaca louca e outras mazelas mais, tão oportunas para exterminar a concorrência...

Para a população consumidora, a qualidade do produto não beneficia a saúde, uma vez que absorvemos todo o pacote químico e tecnológico a que o gado é submetido. Há a possibilidade de um orgânico, caríssimo em que temos que  confiar, sem possibilidade de  acompanhamento ...

Resta a pergunta: há como resgatar a vida natural de outrora?

O leitor pode imaginar e responder.