sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Desconhecido?

 Boa-noite, leitores deste blog. Ontem, 14 de setembro, foi o dia do frevo; um ritmo contagiante, cujo nome provém da palavra ferver... Mas não vou escrever sobre esse assunto de amplo conhecimento por todos...

musimed.com.br



O assunto é  outro e deveras intrigante: como é possível que pessoas com um talento singular, um potencial incrível possam ficar no anonimato. 

No final de 1992, se não me falha a memória, concluí o curso de piano em primeiro grau. São oito anos de estudo do instrumento nesta primeira fase e mais três anos no segundo grau. Não sei se atualmente possa ter ocorrido alguma mudança nesse aspecto.

Morava por essa época na cidade de Rio Claro, estado de São Paulo. Entrei no conservatório aos quarenta anos, decidira terminar oficialmente esse estudo, realizei um teste de classificação e obtive o quinto ano de piano. Decorridos  mais três anos, houve a entrega de diplomas e apresentação dos formandos. Cada um tocou uma música diferente no auditório do Colégio Köelle, uma escola conceituada da cidade. Lembro-me que interpretei a peça Aragonesa de Massenet ,da ópera El Cid. Uma das alunas, se não me engano de nome Carolina, interpretou um maxixe intitulado Zurara. Ficamos curiosos para conhecer o histórico daquela composição, no meu caso particularmente, nunca ouvira falar em tal partitura e do seu respectivo autor, Benedicto Leite.

Era uma música bastante atraente, alegre, sincopada como no caso do maxixe, ritmo considerado como "tango brasileiro" que lembra a polca e a habanera  que nasceu por volta de 1870, na segunda metade do século XIX, possivelmente de origem africana. Na época, bastante explorado, o maxixe foi um dos ritmos que a maestrina e compositora Chiquinha Gonzaga usou e um deles, O corta-jaca foi muito criticado, pois sua dança erótica era considerada chula e imprópria no próprio discurso de Rui Barbosa. 

No entanto, não é o maxixe o tema desse artigo. Devo dizer que a ideia da interpretação e amostra de Zurara foi de uma das donas do Conservatório Musical Rio Claro, a simpática e querida Vera que apresentou a composição e um pouco da vida de Benedicto Leite, compositor rioclarense. Os anos passaram e concluí o segundo grau no instrumento piano em 1995.

Porém, da interpretação de Zurara até o momento, já se passaram 31 anos, e ontem , ao iniciar pela manhã meu incansável estudo de piano, encontrei em meio a inúmeras pastas de partituras, a de nome Zurara e resolvi escrever nesse espaço sobre seu autor. Qual não foi a minha surpresa ao pesquisar que o grato compositor está invisível para a mídia; encontramos apenas um homônimo, político maranhense de destacada proeminência, cujo nome serviu para criar uma nova cidade no nordeste brasileiro.

Após pesquisa incansável, pois não escrevo ou passo informações sem fazê-la, inclusive no canal Rio Claro e no acervo histórico do município, chego à  triste conclusão de sua inexistência para o público que aprecia a arte musical mais tradicional; apenas a sua partitura encontra-se à venda em um ou dois sites da internet. Em um desses deles, questionei a falta de informações sobre o compositor na mídia escrita e falada e aguardo impaciente a resposta.

Ficou a lembrança de que Benedicto Leite apreciava composições campesinas, da vida dos escravos da fazenda, que era um jornalista além de compositor e viera tentar a vida em São Paulo, entretanto desgostando-se profundamente da cidade grande... Nada mais, perdi o contato com a dona do conservatório que infelizmente hoje, já não existe mais na cidade...

Constatei o poder da mídia no seu papel de destacar e manter imortal  a memória daqueles que viveram intensamente uma paixão, dedicando-se por toda uma existência a um ideal. 

Não foi o que ocorreu com o autor de Zurara.


sites de pesquisa

Canal Rio Claro - acervo histórico do município

fundaj.gov.br