quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Volto aqui, neste cantinho tão especial onde as palavras são personagem principal na luta em busca da esperança, de uma luz no fim do túnel, do resgate da justiça, tão desclassificada e desusada na sociedade em que vivemos.
(Texto em homenagem ao dia do professor, próximo dia 15)


Quantas moedas de valor ainda restam no cofre?





É incrível como a desumanidade e o desrespeito grassam por todas as partes, agredindo àqueles que não merecem e que cumprem sua missão com dignidade e consciência profissional. Mas o que são essas palavras que menciono aqui? Estamos quase ao ponto de “Idiocracy”, não se esqueçam de que a vida imita a arte ou vice-versa. Nossa população acostumada à preguiça mental, embora não queira assim ser rotulada, sequer conhece significados desses valores tão imprescindíveis à vida que valha a pena. Dignidade, honra é coisa para poucos idiotas que ainda remanescem teimando em cultivá-la como orquídea no meio do pântano. E este lodaçal que insiste em engolir essa bela flor, já começa a sufocá-la, fazendo-a murchar com constantes agressões, falsidades e inverdades que sendo maioria acabarão por matar o que é belo e necessário, da mesma forma como se destrói o planeta, deflorando-o, poluindo terra, céu, água e ar. A área da educação, onde atuo, cada vez mais decadente e incompetente, produzindo já um grande abismo entre o ideal e o real, revela  o mais triste quadro já visto: discípulos que já efetuaram uma grande inversão de papéis não conhecendo uma hierarquia, incapazes de reconhecer o valor do estudo, insistindo apenas em obter um diploma. Mas que certificado será este? O da incapacidade, o da inconsciência do efetivo significado das palavras estudo, escola, conhecimento,  ética.
Em muitos momentos, os mestres devem lembrar a seus alunos do local onde se encontram, a lerem o nome que está grafado na parede da entrada: ESCOLA e mesmo após essa constatação,  estes continuam simulando dentro das salas de aula, clubes, cinemas, drive-in, salão de beleza, chat de bate-papos entre outros, onde o que menos interessa é saber do que vieram ali fazer. Para a nossa salvação e do planeta principalmente, ainda restam algumas poucas moedas de ouro no cofre que ainda “compensam o crime” de se aventurar a transformar essa juventude vazia, banalizada, desestruturada com que nos deparamos hoje com algumas exceções, felizmente.
Dessa forma, não existe faixa etária privilegiada na questão da educação, vemos pessoas amadurecidas em plena exposição de matérias ou debates, qualquer que seja a atividade  trocando mensagens e fotos em facebooks, whatsapps onde a língua portuguesa é assassinada a cada momento cedendo lugar à língua estrangeira com seus ASAP, LOL entre muitos outros trocando o necessário pelo supérfluo, o futuro pelo mesmismo de condições, o desenvolvimento pela atrofia cerebral. Muitos futuristas dirão que há desenvolvimento de outras inteligências e habilidades, que aquela aula não era interessante para aqueles alunos...Porém, vemos a resposta nas pérolas oferecidas por eles  nos Enems da vida onde nem conhecimentos básicos são oferecidos, onde os vocábulos insignificantes do dia a dia sequer conseguem ser grafados corretamente, escolas fechando, presídios surgindo exponencialmente. Quando não se entregam à tecnologia, alunos agridem seus educadores com palavras pesadas, pouco verídicas tendo a coragem de fazer reclamações sem razão alguma. Mas onde é que vamos parar? Mudaremos o currículo, entregaremos a nossa missão intelectual a robôs quando a ignorância for total? O que estamos pretendendo com tudo isso?
A legislação da educação revela um progresso maravilhoso exibido em ranks de IDEBs, e estatísticas de avaliações externas realizadas incessantemente para avaliar o conhecimento em nível de escola, diretoria, país. Entretanto, como seres humanos, temos falhado sobremaneira criando pequenos monstros que se embrutecem gradativamente, na cultura do ter desenfreado, valorizando apenas as causas materiais em detrimento das intelectuais, agindo com uma grosseria sem limites contra aqueles que tentam lhes ajudar, questionando horários e grades curriculares, num desejo interminável de lazer, sua única prioridade, onde cultura e desenvolvimento pouco importam. Se quiserem continuar os estudos, encontram dezenas de Unis espalhadas por todo canto onde nem exame de seleção precisa ser feito... Que tipo de profissionais teremos no futuro? E não adianta a velha concepção das autoridades da educação tentarem responsabilizar apenas os professores por toda essa catástrofe que assola o país e por que não o mundo. A grande evolução científica, o tecnicismo em si, a globalização que serviu de porta de entrada para a destruição da cultura nacional, o permissivismo, companhia inseparável da impunidade que já começa cedo nos lares e culmina nas escolas, a promiscuidade sexual grande geradora de desestruturação entre casais, a irresponsabilidade familiar, os ícones de valores deturpados presentes no comportamento das celebridades induzidamente vistas como ideais, enfim, há motivos que comporiam uma lista infinita mostrando quem são os grandes vilões que destruíram a essência do ser humano e a beleza virginal da criação original.Crescemos como robôs tecnológicos de alto desempenho, mas somos vazios por dentro, insensíveis de espírito.
Por outro lado, temos profissionais relapsos que fazem do magistério um “bico” por assim dizer, sem a dedicação necessária e o empenho numa missão tão sublime quanto esta. Muitos de conduta indolente acomodam-se a velhos saberes e práticas onde o aperfeiçoamento e autocrítica tão necessários na profissão não têm lugar.Outros, ainda sem a competência necessária, oferecem uma formação pobre, que não incita o crescimento, a pesquisa o questionamento nem ao menos, no sentido de preservar o local onde vivemos...Descumprimento de horários já é tradição entre muitos profissionais da educação que sequer se sentem constrangidos perante aqueles que cumprem sua obrigação.É a tal consciência ético-profissional tão falada e tão pouco praticada nos nossos dias. Toda essa incompetência bem abordada no Princípio de Peter,  o pai da administração moderna, gera atitudes tímidas perante alunos causando o nivelamento de conhecimento e atitudes entre estudantes e profissionais o que gera a liberalidade imoral pelo medo da evidência da falta de conhecimento necessária para a função ,o que para uma instituição de ensino é uma desgraça pública que jamais poderá ser reparada.
Aos bons profissionais, que ainda não se corromperam pela injustiça que o sistema ajuda a construir, fica a mensagem de esperança apesar da quase incerteza,  de que sua atitude exemplar apesar de incompreendida e criticada possa ser multiplicada por aquelas poucas moedas de ouro que ainda restam no fundo do cofre...