domingo, 22 de janeiro de 2023

 A caminho da cidade de Guararema, ao ligar o rádio do carro, ouvi na Rádio Bandeirantes a entrevista com o Dr. Fábio de Abreu, neurocientista, pesquisador, psicólogo, psiquiatra entre outras formações que lhe são atribuídas em relação ao estudo da mente humana...





(Google images:freepick)




É possível vencer?


Manhã agradável de verão, o céu limpo e azul.

 Pela janela do carro observo a paisagem de pinheiros e bambuzais a caminho da formosa cidadezinha de Guararema, que diga-se de passagem é um local que serve de exemplo para muitas cidades; extremamente limpa, bem cuidada e preservada em cada canto, exibe paisagens agradáveis, seja às margens do rio Paraíba do sul, o Parque da Pedra Montada,  a Ilha Grande, em meio à mata Atlântica ou as lindas pracinhas repletas de história e flores.

 A reportagem transmitida pelo rádio referia-se ao mal de Alzheimer,  que atinge muitos idosos e até pessoas de meia-idade, trazendo inúmeros transtornos e tristezas às famílias, cuja única solução para o caso são as internações nas famigeradas clínicas de repouso. Com isso, o aumento de idosos acometidos por esse mal lotam essas casas, mais parecidas como locais de segregação e isolamento daqueles que deram tudo por seus filhos e hoje são um estorvo para as famílias, que sem tempo para dedicar-lhes, acabam optando por interná-los.

Mas a questão aqui a ser abordada não é essa, diz mais respeito à entrevista do influente doutor Fábio. Dizia ele que os motivos que acarretam esse mal estão relacionados principalmente a hábitos, estilos de vida, alimentação, ausência de leitura e atividade física e, principalmente ao uso indeterminado de telas de computador e redes sociais. 

Concluí que os hábitos estão muito relacionados à cultura que elegemos como padrão de conduta diária e estreitamente ligadas a nossa educação, uma vez que o que ensinamos para uma criança, a acompanhará pelo resto de seus dias. Este ensinar não é responsabilidade única da escola, mas também dos pais, avós e cuidadores de crianças de modo geral. Neste caso,  o exemplo, na maioria das vezes, vale mais do que palavras repetidas ao vento. Assim, se cultivamos a preguiça, a inércia infantil como forma de obtermos silenciar e dispensar trabalho com os infantes, é óbvio que os mantendo à tela de celulares, jogos eletrônicos entre outros, estaremos condenando-os para sempre à falta de atividade física, à carência do contato físico com a natureza e do próprio ser humano, causando outro problema relativo à comunicação e desenvolvimento social.

Segundo o neurocientista entrevistado, quando a doença se instala ela causa uma lesão na parte frontal do cérebro, responsável pela tomada de decisão, trazendo a confusão, falta de autonomia em resolver qualquer tipo de problema, por mais simples que seja levando à demência e perda total da memória.

A preguiça em outros tempos áureos da religião católica era rejeitada de forma muito didática; incluída nos pecados capitais faziam entender que devemos nos mexer, trabalhar e realmente surtiam efeito, em grande parte, dado ao estilo de vida de outros tempos em que carros nem eram bastante comuns entre os bens familiares e eram substituídos pelo caminhar ou o uso de bicicleta. Além do mais, passeios geralmente eram piqueniques em contato direto com a natureza, rios, cachoeiras, entre outros.

Conforme os tempos foram se modernizando, em minha jornada de professora, já convivia com crianças que nunca observavam um pássaro a voar, um rio a correr e a própria chuva que mais conheciam pelas telas de um computador; eram crianças que apresentavam déficit de atenção, falta de coordenação, pânico ao terem contato com pássaros próximo a elas. 

Acredito muito, embora não seja cientista ou médica, que padrões fixos rotineiros de comportamento não incentivem ou exijam do cérebro o exercício de que ele necessita para se manter plástico e saudável. Obviamente, o problema da idade degenera neurônios que não voltam jamais, porém sempre há uma forma de condicionamento do corpo físico e da mente, isso é inegável. Se alguém sempre age da mesma maneira a guardar objetos sempre no mesmo lugar; se desenvolve rituais habituais em suas ações, não proporcionam crescimento algum ou ativação neurocerebral. As tão famosas "mudanças de hábito" são salutares e proporcionam um exercício na parte frontal de tomada de decisões.

Quanto à alimentação, vivemos o momento único do caos. Os costumes mudaram radicalmente nos tempos modernos. Adeus a uma alimentação saudável: as commodities geradas em larga escala principalmente na agricultura adquiriram um aspecto estritamente comercial, com objetivo único de lucro, carecendo de uma aparência vistosa para o mercado, carregadas de agrotóxicos e adubos sintéticos, extremamente nocivas e  inadequadas para o consumo. Além de tudo isso, hoje, ninguém mais, na população jovem, com raríssimas exceções apresenta disposição para preparar alimentos para o consumo diário, entupindo-se de produtos prontos, cheios de conservantes, aditivos, aromas e corantes. Quando não, aquecem o mercado gastronômico das redes de delivery, que causam empobrecimento econômico e salutar, dado à falta de assepsia no transporte e muitas vezes no preparo de alimentos cuja procedência às vezes é desconhecida. A engenharia genética, apesar de todos pregarem como fantástica, traz a modificação dos genes dos alimentos, um problema ainda desconhecido a ser enfrentado num futuro próximo.  

A privação da leitura é algo que impera atualmente entre as novas gerações ocasionadas pela preguiça mental e provocadas pelo constante uso de telas, em que as mensagens já vêm prontas e não proporcionam a construção da imaginação. Nesse caso, o prejuízo vem com um adicional no caso da linguagem, que vem sendo desconstruída e substituída pelo internetês, sem norma gramatical que produz uma informação que não contempla o exercício da norma padrão aceita socialmente. 

O nobre Dr. Fábio não citou como vilã a televisão. Acredito que esse meio de comunicação é bastante incentivador de Alzheimer, uma vez que a repetição constante de informações e ideologias em todos os períodos do dia ocorrem em todos os canais de TV aberta, umas com  mais ou menos intensidade,  funcionando não apenas como uma formadora de padrão de comportamento unificado e estendido a toda a população, como também atingindo um nível de manipulação cerebral que se aproxima da terrível propaganda subliminar, nociva a qualquer cérebro em formação e adulto, agindo didaticamente diuturnamente em nossos lares, não oferecendo oportunidade alguma de ativação da imaginação e de crescimento cerebral.

Finalmente, o entrevistado abordou a questão de abandono de causa pela família quando seu idoso é diagnosticado com esse mal: desanima, não procura meios de atenuá-lo ou evitá-lo abandonando-o a sua sorte. 

Acredito que dado aos problemas e dificuldades abordados acima, fica bastante difícil conseguir sucesso num caso desse. A falta de atenção,  o isolamento a que os idosos são inevitavelmente submetidos são barreiras instransponíveis na maioria dos casos. Vivemos em tempos terríveis, onde há muito, o narcisismo e o egoísmo imperam. 

Fica aqui a ressalva: ainda restam algumas moedas de ouro no cofre, que sabem valorizar aqueles que lhes são caros...