terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Ironia do Natal

Já escrevi várias vezes sobre a consciência abrupta que tomo do Natal...É incrível como todos os anos os afazeres profissionais, intelectuais e domésticos me absorvem totalmente e quando menos espero, dou de cara com uma grande árvore natalina na porta de um shopping, um imenso Papai-Noel em portas de supermercado ou até mesmo figuras significativas de um presépio espalhadas pelos lugares onde passo.
Também é impressionante o sentimento de perda que esse evento me transmite, o qual   consigo traduzir como um avanço da água do mar, levando, impulsivamente, muitas aquisições construídas durante todo o ano, como se estas fossem um castelo de areia, formado passo a passo e que, subitamente, se desmoronasse pela violência das águas...
Outra detalhe que sempre me deslumbrou nessa época do ano é a magia das belas imagens contidas em cartões natalinos, tão mimosamente elaborados, com suas cores chamativas e características, falando direto aos corações, ressuscitando almas até nos mais endurecidos indivíduos da espécie humana. Porém, esses cartões, hoje, já não são tão físicos, presenciais como dantes, diluíram-se no tempo e espaço, virtualizando-se, banalizando-se e, multiplicando-se exponencialmente a um leve clique de mouse...
Revendo alguns sites, muitas dessas ilustrações, me remetem a antigos natais, representados em muitos cartões que recebi desde a infância e que por gostar muito deles, nunca os joguei e tive o capricho de fazer um lindo álbum, que exibe sortidamente por ordem de data, as pessoas que os remeteram e as mensagens que ali deixaram gravadas. Afinal, não me arrependo de tê-los guardado e armazenado como recordações de belas passagens da minha vida.
Quantas daqueles seres ali, presentes, hoje já não existem mais a meus olhos e apenas são lembrados por seus comoventes dizeres que ainda ecoam em minha mente: uma tia querida, uma avó, um primo quase irmão, um pai Natal que jamais voltará...
As festas natalinas e tudo o que as acompanha têm esse poder de calar fundo, trazer, por momentos, o tempo passado que retorna repleto de aromas e sentimentos por segundos que se tornam anos e,  instantaneamente, se esvaem num meneio de cabeça como fumaça.
Na infância, felizmente, a ausência do senso crítico, torna tudo lindo e maravilhoso, sem um julgamento ou a consciência social que marca presença na idade adulta, responsável por mudanças em nossa maneira de sentir e pensar. Como título de exemplificação, essa imagem que exibo acima, que despertaria no infante, uma beleza pura e verdadeira, não me seduz da mesma forma na faixa etária em que me encontro, pois não é representativo de um Natal brasileiro, assim como aqueles cartões que exibem a branca neve a cair do céu  não têm relação alguma com nossa realidade.
Lareiras, enormes e luxuosas salas, repletas de presentes são uma ironia, transmitem falsidade, imagens inverossímeis, são até um paradoxo com a veracidade que vemos nas ruas, nos locais onde convivemos diariamente, onde a miséria, a privação, a injustiça social e econômica exibem seus quadros de cores feias e deprimentes.
Tenho plena consciência de que poucas e selecionadas pessoas realizam um Natal luxuoso, desses representados nos belos cartões natalinos. Que aproveitem e serão muito felizes se não abrirem suas janelas para observar a fria imagem a sua frente; se não abrirem seus olhos para focalizar o outro  lado da moeda, presente além de seus muros e grades.
Não, infelizmente, não dá mais para ser feliz, se a alma não é pequena, como já afirmava nosso querido Fernando Pessoa, e para grandes almas, conscientes do grande problema que nos rodeia, é impossível fazer ecoar um "Gingle Bells" quando muitos não têm sequer um pedaço de pão para colocar na boca.


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Boa-noite, senhores leitores. Depois de toda a polêmica envolvendo a reflexão da filósofa Simone de Beauvoir em seu desabafo sobre a boçalidade que invade a população e que foi trazida à tona em uma questão do ENEM, venho registrar nestas páginas uma crônica até comovente envolvendo a questão do raciocinar, do pensar, do sair do mesmismo. Espero que gostem.








Quem planta, colhe

Sentada em um  banco do vagão do metrô da linha azul, magrinha, cabeça encurvada, óculos na ponta do nariz e um coque desarranjado na cabeça, mais parecia uma velhinha vista assim de perfil. Interessei-me em observar aquela mocinha de atitude senil que, atenciosamente, com uma caneta na mão, escrevia alguma coisa, o tempo todo em que o trem se movimentava por sobre os trilhos. Pela distância em que me encontrava, precisei forçar a vista já cansada pela idade para poder vislumbrar depois de algum tempo o que ela fazia: lições de inglês em um tipo de apostila colorida. Verifiquei também, que pelos olhos oblíquos e formato do rosto tratava-se de uma oriental. Vestida de maneira simples; uma blusa um tanto grande cobria o corpinho magro enquanto os ombros caídos deixavam perceber que o tamanho da peça era maior do que o corpo que a usava. Só posso dizer, que aproveitava cada minuto, sem interrupção, para dedicação total à leitura e a realização de seus exercícios. Olhando ao redor, reparando nos jovens da sua idade e até mesmo nos adultos ocidentais, constatei que, com raríssimas exceções, a maioria deles se ocupava com celulares, perdidos nos Whatsapps e Facebooks da vida, jogos eletrônicos, quando não traziam os ouvidos tapados por fones a escutarem a cansativa música atual, alguns, em um volume exageradamente alto que deixava passar um zunzunzum irritante.
Mas, você, menina de ouro, que nem me conhece e nem percebeu que havia uma observadora a te contemplar, se preparava para a luta da vida, gastando seu precioso tempo e desperdiçando horas de lazer para sua formação futura. Você sabia que tempo é ouro e ouro não se joga à toa. Enquanto os adolescentes ao seu redor entediavam-se com tanta diversão, adquiria cultura e saber.
Tenho que te dizer algo, sei que talvez nunca entre neste blog e leia estas páginas que aqui escrevo até comovida. Saiba que me emocionei com sua figura compenetrada e séria. Saiba que do fundo do meu coração, te desejo a maior sorte deste mundo e, certamente, ela virá, pois a ventura é amiga do trabalho e a quem a ele se dedica. Enquanto muitos se lamentam no porvir a queixarem-se da pouca sorte, em breve,  você estará encaminhada, certamente com um curso superior bem feito, que lhe garantirá a certeza da formação de um profissional competente e dedicado a seu trabalho. Para você e para poucos a sua semelhança, que vencem pelo esforço, não haverá a rotulação de carente, de sem chance, de sem isso, de sem aquilo, como muitos que sem a sua força de vontade, assim são chamados e precisam ser amparados pelos órgãos públicos.
Tenho absoluta certeza de que você, dedicada menina, também não escolherá veredas obscuras da vida e nem se perderá em uma delas, pois seu vício maior é o trabalho, que cedo se inicia em forma de estudo e alimento da alma.
Que não te invejem no futuro, que não sejas agredida ou roubada, pois fizestes por merecer um lugar ao sol, enquanto aqueles que te invejarão amanhã, mal sabem o quanto fizeste para chegar onde chegou. Que Deus te proteja e boa-sorte!

sábado, 31 de outubro de 2015


Os dias passam rápido, as noites os acompanham e eis que temos mais um ano que finda...
Mais um finados se aproxima, trazendo-nos muitas lembranças daqueles que já se foram e, que um dia, já fizeram parte da nossa vida. Façamos a eles a devida homenagem.


Por quem as velas se acendem...











Posso dizer agora que me acostumei com a tua ausência nestes longos dezesseis anos que voaram céleres e contribuíram para que deixasse de sofrer pela sua perda.
Hoje, a consciência da falta que fazes, só não admite que haja um substituto para tudo aquilo que foste e representaste em minha vida... As reminiscências povoam minha mente e, por alguns segundos, aproximam-se tão firmemente da realidade como se viajasse numa máquina, quebrando a barreira do tempo e do espaço físico.
Nessa imersão forte no passado, revivo aquele dia de finados no calor insuportável de nossa cidade natal e os preparativos para a ida ao campo santo. Nunca deixaste que faltássemos a esse compromisso de louvar aqueles que nos foram caros.
Todo um preparativo antecedia essa data, vestíamos nossa melhor roupa, nos arrumávamos caprichosamente, não antes, de ouvir durante toda a manhã, a programação de músicas eruditas lentas e tristes que nos enchiam de melancolia e que  preparava nosso espírito, toldando-o de respeito e sobriedade. Enquanto caminhávamos sob o sol escaldante, passava-nos grandes lições de solidariedade e vida dizendo o quanto os mortos deveriam ser venerados e lembrados, por tudo que significaram em nossa existência, por tudo que construíram, ressaltando a necessidade de oração e da tradicional queima de velas que mereciam.
Não, não deixaste que a euforia infantil esquecesse e menosprezasse os que se foram, houve o despertar de toda uma consciência nesse sentido.
Na entrada do cemitério, me lembro como se fosse hoje, fazia questão de primeiramente fazer uma oração ao Doutor Jaime de Oliveira que era o seu guia espiritual. A compenetração e seriedade com que fazias isso, nos deixava comovidos e quietos acompanhando todo aquele ritual.
Muitas vezes, ao nos dispersarmos com outras crianças entre primos e amigos, por um instante, voltávamos ao nosso comportamento infantil, correndo até o cruzeiro e a capelinha dos ossos, de onde sempre alguém ouvia um barulho ou sussurro vindo do além, o que causava debandada geral em gritos e fuga como passarinhos em revoada...
Quantas saudades, dessa época. Já naqueles dias longínquos da infância que agora ecoam em minha mente, o comércio em frente à necrópole municipal era grande e até hoje, ao lembrar, causam-me repulsa e um fundo de nojo: melancias aos borbotões, abertas, exibiam seu escarlate sobre as bancas, convidando à degustação, flores numa festa de cor esbanjavam beleza e viço como forma de compensar todo aquele luto e tristeza. Não tínhamos muitos mortos naquela época: um ou outro primo distante e amigos pouco conhecidos da nossa pequena família. Mas não importava, todos mereciam uma reflexão, e ela vinha em forma de oração...
Hoje, tudo mudou. Crianças muito pouco acompanham seus pais nesse dia de finados. Cemitérios são desrespeitados, violados e roubados em uma amostra da degradação humana que atinge o seu ponto mais vil e rebaixante. Muitas pessoas visitam os túmulos, impacientes e apressadas numa obrigação pouco prazerosa e muito forçada. Não ouvimos mais nos rádios e meios de comunicação de massa uma programação como a daqueles tempos, dedicada exclusivamente aos mortos.
Querido pai, de onde quer que estiveres, creio que devas estar decepcionado com o rumo que as coisas tomaram ultimamente. Entretanto, creia: a semente que lançaste, germinou. Saibas que o respeito e a consideração por todos aqueles que se foram e que tão bem me ensinastes a cultivar, vingou.
E hoje, estranhamente, venho aos pés de sua lápide, humilde e sóbria depositar o meu amor em forma de flores singelas. Nesse momento, sinto que as grandes árvores que  balançam suas ramagens com a brisa parecem sentir o meu pesar. A melodia grave que mentalizo é a mais completa prece que precede minhas palavras. As velas que acendo e que teimam em se apagar com o vento que varre os espaços entre as tumbas, acabam por vencer e permanecem em lume, unidas e fortes no propósito de homenagear aquele, que no meu coração é o mais ilustre faltante, cujo corpo descansa em paz na quieta e pequena necrópole.


sexta-feira, 30 de outubro de 2015


Boa-noite a todos os leitores. A prova do ENEM 2015 foi uma surpresa para muitos professores e falo aqui, daqueles mestres que têm consciência da verdadeira condição em que se encontram os alunos das escolas públicas do nosso país e não daqueles que vivem num mundo de utopia. Afinal quem precisa de ajuda para ingressar no ensino superior são esses discípulos, ou não?



A surpresa do ENEM


Ninguém poderia supor que o Exame Nacional do Ensino Médio, neste ano de 2015, seria tão surpreendente.
Pouco condizente com o tema eixo dos cadernos de aluno da Secretaria da Educação e dos livros didáticos adotados nas escolas, antes de tudo, torna-se visível na elaboração das provas, a construção de enunciados complexos, de significados ambíguos para aquela clientela,  cujas alternativas os confundem na sua escolha. Percebe-se, obviamente, uma intenção de caráter eliminatório nestas Avaliações e a oportunidade ínfima de sucesso que elas proporcionam perante o quadro que se apresenta no ambiente escolar, heterogêneo, provindo de constantes promoções continuadas, recuperações e alinhamentos, fatos que não permitem uma extrapolação de conteúdos a tão alto nível.
A grande quantidade de conteúdos da área, sobretudo de informação sobre literatura, estéticas literárias e detalhamento das características de cada escola literária e a pouca disposição do aluno à leitura de textos formais no Ensino Médio e Fundamental, são fatores que o predispõe ao não entendimento de textos e sua respectiva compreensão da prova do ENEM, dado ao excesso deste tipo de atividade naquela avaliação, que leva o aluno à exaustão e a desmotivação.  
Muitos mestres consideraram a prova de caráter mediano e até mesmo fácil, entretanto, tal parecer não condiz com os resultados obtidos pelos discentes; ao que parece, em algumas escolas, excelentes alunos não conseguiram acertar nem a metade das questões oferecidas, fato que se contradiz  essas afirmações.
A prova de linguagens e códigos, cuja crítica é o alvo deste texto, ofereceu para interpretação excertos demasiadamente curtos, pouco significativos e desinteressantes, até cansativos à faixa etária a que se destinava, quando não eram excessivamente longos, não estabelecendo, de uma maneira geral, relação ao mundo juvenil e a seus interesses, mais se assemelhando a uma avaliação para especialistas e não para alunos de escola pública cujos resultados de aproveitamento encontram-se segundo o SARESP e demais avaliações externas dentro do básico, quando o Exame Nacional do Ensino Médio cobrou extrapolação a um nível avançado para a clientela alvo.
No que diz respeito à aparência, a prova equipara-se a do Ensino Técnico, costumeira nas ETECs responsável pela unificação das diversas áreas do conhecimento sem segmentá-las, fato que não possibilita a delimitação das disciplinas da área, fato que se apresenta de acordo com os parâmetros e guias curriculares.
Quanto ao tema de redação proposto, revelou-se como assunto já exaustivamente debatido não instigando ou provocando a vontade de escrever sobre algo mais moderno ou atual como se esperava que fosse; nesse aspecto, o assunto cobrado na prova em detrimento de assuntos importantíssimos e mais atuais com que o jovem se depara em seu cotidiano,  não esperou dele uma postura de criação mais próxima do seu universo e faixa etária.
Em uma análise geral dessa área, a avaliação deixou muito a desejar, sobretudo no sentido de instigar à leitura dos textos e a evitar o tão conhecido “chute” que, na verdade deve ter ocorrido. Se o jogador for bom...


quarta-feira, 14 de outubro de 2015





Boa-noite, amigos leitores. Faço hoje republicar aqui neste espaço, um texto que escrevi há tempos para homenagear aqueles que realmente se dedicam a sua missão de mestre, de educador. São palavras de agradecimento e admiração aos que desejam construir um mundo melhor, e, isso só se consegue através da educação, da lapidação do ser humano...




Alguém já disse uma vez: “Semeia, semeia mestre. No grande Cosmo , tu és  semeador, tu és a presença. Não podes fugir à realidade de semear... Não digas o solo é áspero...O sol queima... Não é tua função julgar a terra, o tempo, as coisas. Tua missão é semear.”
Mais importante do que a semente a ser lançada no solo é o exemplo que tens a dar. Sobretudo o exemplo da importância de dar amor. Hoje, lanças o germe, joga-o na terra inculta e seca e todos os dias rega-a para que ele se reproduza, cresça e dê lindas flores para enfeitar a vida e dar alegria às pessoas.
Se a semente não vingar por ter caído entre pedras ou em ambiente árido, não te desesperes: tenha a certeza de que seu exemplo de humildade ao lançá-la sem presunção, será visto e admirado.
Porque aquele que cultiva amor, com amor será recompensado. Aquele que ensina a amar, por todos será amado. Aquele que age com simplicidade, por todos será entendido.
Não creias que tua missão é fácil: é uma das mais difíceis tarefas que existem na face da Terra. Por vezes terás medo de não conseguir lançar a semente, por outros,  perceberá que muitos obstáculos deverão ser transpostos para que possas semear.
Procure conhecer o solo em que trabalhas sem, contudo, discriminar este ou aquele chão, na tua função de mestre e ao mesmo tempo aprendiz; muitas vezes poderás errar sendo surpreendido com uma bela flor que nasce em campo estéril e aparentemente infértil. Na tua função de preparador do solo é teu dever cuidar dele adubando-o, regando-o até que se torne apropriado para o plantio, bem como é tua missão saber que todo o chão pode produzir diferentes tipos de flores, desde que não descuides dele.
Não demonstres preferências ou apego a determinado solo, semeia em todos eles para que obtenhas um belo jardim florido.
Não reclame das dificuldades e das adversidades. Se há muitas pedras no teu caminho, procure retirá-las com paciência e determinação; se a semente cai entre a vegetação impiedosa que tenta sufocá-la e impedir que nasça, ajuda-a para que respire e cresça, assim como é teu dever separar a boa semente da erva - daninha que nunca deve ser lançada e sim, arrancada quando necessário se nascer entre as flores...
E nunca se esqueça:
O bom ensinamento transforma, lapida, fortalece. O bom exemplo será seguido e multiplicado. O altruísmo de tua ação salvará a Terra e todos os homens que nela vivem...

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Boa-noite, leitores. O tema de hoje versará sobre o provável assunto que será abordado nas provas do Enem. Esclarecendo, o jornal da Globo de 2ª feira noticiou que o possível tema das redações desse ano será da área de Biologia. Pensando em ajudar, elegi um assunto bastante polêmico dessa área...


 Líquido precioso ou veneno mortal?










Sangue. Energia líquida que percorre quilômetros e quilômetros de vasos sanguíneos com o objetivo de preservar a vida e a função de órgãos vitais dos seres que habitam esse planeta.
São inúmeros os tipos, o que não privilegia um ser perante seus pares, porém um milagre da natureza ocorre com o tipo O negativo: a capacidade de tornar seu dono, doador universal, a despeito da espécie sanguínea do receptor. Por essa razão, os bancos de sangue estão sempre à procura daquele que pode salvar indiscriminadamente milhares de vidas.
Apesar de ser fonte de energia, o líquido imprescindível pode ser facilmente maculado através de vírus e bactérias trazendo como a água corrente, milhares de doenças que obviamente causam males, contaminam pessoas, podendo levar à morte.
Entre as inúmeras que invadiram nosso século, muitas delas revelam a ocorrência pós-transfusional, principalmente na década de 1980, quando milhares de bolsas de sangues eram vendidas sem o devido exame de qualidade, motivo de muitos casos de incidência de hepatite C, Aids, hanseníase, doença de Chagas entre outras. Várias vítimas desse erro médico lotam hospitais em tratamentos ininterruptos destes males crônicos, enquanto um grande número já faleceu sem receber sequer um tratamento digno ou indenização pelo dano sofrido.
Outra forma de contaminação pode ocorrer através de seringas compartilhadas por vários indivíduos pela injeção de medicamentos ou drogas ilegais. Há notícias de que muitos funcionários antiéticos e irresponsáveis cometeram esse crime quando utilizavam seringas usadas com o objetivo de comerciarem as novas, construindo uma história de morte e ruína. Por outro lado, muitos enfermeiros que não faziam uso de equipamentos de segurança, como as luvas, por exemplo, também correram esse risco e muitas vezes adquiriram doenças sérias e crônicas, fato que ocorre ainda hoje no ambiente hospitalar; sem contar o tráfico ilegal que certamente ocorre, responsável por enriquecimento ilícito de profissionais da saúde, sem dignidade e lisura.
Por todas essas razões, é necessário uma grande dose de profissionalismo, ética e competência de funcionários do setor, fatores que a cada dia tornam-se mais raros, em consequência da baixa qualidade da educação, carência de materiais e evolução tecnológica ainda precária na grande maioria de nossos hospitais.
Tanto se incentiva a doação de sangue, ela realmente é indispensável para preservar a vida do homem em caso de risco, entretanto, de nada valerá todo esse empenho se tratamos o líquido precioso sem o cuidado necessário, sem o controle de qualidade que ele exige para ser útil à humanidade, sem a ética e honestidade que deve compor a alma humana, hoje tão vilipendiada pelo vício e corrupção. Torna-se essencial uma formação de caráter que seja reta, voltada para o bem comum e amor ao próximo.
O mesmo líquido que traz a vida pode ser o vilão que acaba com ela em questão de minutos, a consciência de cada um será responsável pela preservação ou destruição.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Boa-noite, caro leitor. O tema hoje é saudade, o sentimento presente na alma daqueles que já viveram  bons momentos e os guardam com respeito num cantinho do coração porque sabem que eles não voltam jamais com a intensidade que foram vividos...

Praça da cidade de Alfredo Castilho (julho/2015)

Velhos tempos, belos dias


Nas últimas férias de julho resolvemos eu e meu marido relembrar o cenário singular de nossa infância, percorrendo vários quilômetros que nos separavam de nossa terra natal.
A ansiedade que nos acompanhava crescia à medida que o carro engolia  quilômetros e se aproximava do destino.
As paisagens familiares da região noroeste do estado de São Paulo exibiam com frequência, lindos e floridos ipês rosa que invadiam o ar com o perfume de suas flores brilhantes ao sol, apesar do vento frio que soprava...
Na verdade, nunca assumira essa saudade, me fazia de forte, mostrando-me perfeitamente adaptada à vida turbulenta da cidade grande, mas confesso que a proximidade do passado foi aos poucos me sufocando e produzindo um aperto na garganta e no coração.
Oh! Que belos campos e árvores frondosas que já haviam abandonado meus pensamentos, ultimamente povoados pelo cimento maciço de prédios, aglomerados de casas, empresas e ruas superlotadas a qualquer hora do dia ou da noite.
Paulatinamente, o meu espírito interiorano de origem identificou-se com o cenário e o ritmo das cidades por que passávamos.
Entrada da pequena cidade de Alfredo Castilho, terra de meu marido: aquela que era uma vilinha, hoje mais se assemelha a uma cidade de porte mediano. Onde estão as ruas poeirentas de terra, as casas simples de outrora, separadas por sebes e cercas de madeira? Onde estão os velhos amigos deixados na fumaça do tempo?
E a velha praça de folguedos infantis, de namoricos juvenis, em que lugar se escondeu? Tudo mudou, se modernizou, a antiga e velha casa hoje totalmente reformada, violada, mascara tudo que se viveu entre suas paredes.
Amigos... A grande maioria já repousa eternamente no velho cemitério da cidade. Os que se podem encontrar apesar da alegria do reencontro, mostram no rosto as marcas do tempo e da vida, a pintura do tempo nos cabelos e o cansaço da jornada nos pés.
Por todas as cidades visitadas o sentimento é o mesmo: saudade e desilusão por não resgatar mais o tempo perdido, pela impossibilidade de viver hoje o que se viveu ontem; as manhãs e tardes gloriosas coloridas da adolescência onde a poesia enfeitava tudo com sua renda sedutora.
Meu Deus! por que não parar o tempo na mais linda fase da vida, onde a alegria pueril acompanha a vida em todos os seus momentos?
Infelizmente, tudo mudou. A praça principal já não é a mesma dos anos dourados, a violência, a depredação invadiram e tomaram lugar, estampadas na grama seca e sem vida em lugar da relva verde e viçosa de outrora; as árvores tristes e secas pela falta de chuva, a fonte luminosa que exibe suas águas turvas, poluídas pelo lixo.
E o velho colégio onde estudei na minha querida cidade de Araçatuba, nada mais se parece com aquele prédio bem cuidado e cheio de vida nos invejáveis bons tempos da educação que hoje tentam  arremedar!
Os versos de Casimiro de Abreu ecoaram por várias vezes em meu pensamento em quase todos os lugares por onde passava: "Oh! que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!"
O prazer do reencontro é imensurável, o resgate do passado, embora machuque, é saudável e traz doces lembranças... E se recordar é viver, vivemos com grande intensidade estas nossa férias...

sábado, 8 de agosto de 2015

Boa-noite, amanhã é o dia dos pais, mas daqueles que tudo fizeram por seus filhos sem esperar nada em troca. A todos eles, a mais sincera gratidão e afeto...



Falta infinita



Já senti a tua ausência na infância...Tal como hoje, a saudade já apertou meu coracãozinho infantil, que sofreu por longos trinta dias achando que havias me abandonado...
Nunca te relatei isso assim em vida, deveria tê-lo feito e explicado detalhadamente como digo agora e nem sei se podes ouvir ou sentir as minhas palavras entristecidas pela falta constante e rotineira que hoje, não posso mais mudar, por mais que deseje o contrário, que queira te ver entrando pela porta de minha casa com seu sorriso carinhoso, com a meiguice que caracterizava a sua pessoa.
Amanhã é seu dia, muito dos pais que são jovens e que ainda estão vivos serão homenageados, abraçados e presenteados...
Mas, quanto a mim e a vários outros infelizes,como poderemos compartilhar um dia tão importante como este?
Resta relembrar, reviver as reminiscências que por enquanto ainda perduram em nossa mente. Sobra-me o consolo de haver te honrado e respeitado enquanto viveste nesta terra de sofrimento e fugacidade... Pai, isso é gratificante quando muitos ofendem, ignoram, abandonam... Não posso dizer que tenha sido uma filha exemplar, muita coisa deixei de fazer por ti, e isso me doi muito, mas a vida tem suas veredas e na vida adulta, trilhamos estradas diferentes cada qual com seus espinhos,  suas flores, suas sombras.
Quantos filhos matam seus pais de desgosto ao escolher caminhos tortuosos e sombrios, acabando aos poucos com a beleza da paternidade!
Mas, voltando ao início, morávamos em Araçatuba, cidade pequena pelo fim da década de cinquenta, tinha então sete anos quando a mãe ficou doente, precisava de uma cirurgia e decidiu realizá-la em São Paulo onde havia melhores recursos. A reviravolta em nosso lar teve sua presença, cursava então o primeiro ano primário, hoje ensino Fundamental e meu irmão com três anos nem havia entrado na escola ainda...
Resolveram que todos iriam, ficariam na casa de parentes... Mas... Nada deu certo, muitas pessoas não gostam de receber em sua casa e, assim, depois de quatro dias, lá estávamos eu, você e meu pequeno irmão num vagão de trem de volta à Araçatuba.
Não disseste nada. Nada deixaste transparecer. Não percebi que no seu silêncio havia muita tristeza enquanto observava a paisagem já cansativa pela janela do trem.
Ao chegar, a casa da avó materna, a conversa em voz baixa enquanto a diversão e os folguedos nada deixaram perceber.
Deus, não sei, hoje forçando pela memória, parece que seus olhos teimavam em deixar cair as lágrimas que não rolaram. Ainda me lembro da pergunta:
-Pai, aonde você vai?
E a resposta curta:
-Vou no centro da cidade e volto logo... - e antes que manifestasse vontade de acompanhá-lo a complementação:
-Arranje seu material escolar para segunda-feira que você vai estudar na escola próxima daqui, por uns dias, até a mamãe voltar, querida! - percebi uma certa hesitação e melancolia enquanto me beijava e a meu irmão para logo ganhar a rua.
Fizeste mal, meu pai, agora te digo e de onde estiveres, saiba que foram longos dias e noites sofridos onde o pensamento de abandono calou fundo e acompanhou-me pelos piores trinta dias que já vivi em minha infância, sofrimento que só acabou, quando você e mamãe regressaram e me envolveram nos braços, no dia mais feliz da minha vida...
Esta falta volta agora com toda a força e constância. Sei que nada mais poderá te trazer de volta, nem de trem, nem de ônibus...Sei que jamais poderei te abraçar novamente e te presentear, e te abraçar e te beijar como dantes...
Isso machuca, machuca da mesma forma quando criança. A despeito das flores e das velas que acendo e que levam sua fumaça para os ares, das palavras de agradecimento que mentalizo, apesar da leitura dos salmos que repito todos os anos à sua sepultura, não consegui até o momento me conformar...
E não me conformarei, fique sabendo que o seu valor é imensurável, maior que todo o brilho do sol e das estrelas juntas. Você é, foi e será o meu grande amor!

quarta-feira, 24 de junho de 2015



Dedico as páginas de hoje aos poucos que se entregam com seriedade ao magistério, à missão de mestre de verdade  e que sentem na pele as agulhadas da indiferença e do descaso... 





Lições de hipocrisia







Uma escola é mais do que uma simples organização onde se recebem alunos para transmissão de conhecimentos; antes de tudo, deve ser uma equipe onde todos devem ser respeitados em suas necessidades e valorização de trabalho, não se admitindo favoritismos, estrelismos e subserviência para que possa servir de modelo à formação de personalidades.
Talvez seja essa uma das causas principais da falência da educação em nosso país e por que não dizer do mundo, uma vez que os seres humanos são iguais em qualquer parte do planeta. Não se leva mais em conta, ultimamente, a qualidade do trabalho profissional oferecido pelos funcionários sejam eles professores, administradores, secretários, inspetores, serventes etc.
O que proporciona promoção, valorização, status é o nível de bajulação que o sujeito pode oferecer; além da imagem de bem-relacionado, de socialmente integrado à equipe, e, é claro, que esse entrosamento é igualmente proporcional à capacidade de dissimulação do indivíduo, da sua desenvoltura em comentar discretamente com as pessoas certas sobre a vida pessoal e o comportamento de colegas, sabendo criticar ao gosto dos chefes, ou “puxa-sacos”, perdoem-me o termo, dos encarregados e diretamente relacionados à direção de um grupo.
Um dos maiores problemas, atualmente, é a tremenda falta de ética, de respeito, vontade de trabalhar seriamente e a palavra mágica: com-pe-tên-cia. Pela ausência desta, a grande maioria de personalidade frouxa,  advinda de instituições pouco sérias que proliferam no mercado, só consegue sucesso se entrar nesse ritmo, nesse modelo de comportamento que tem rendido a muitos sua sustentabilidade empregatícia, o reconhecimento de seus chefes e subchefes angariando sua amizade e atenção.
A hipocrisia e a falsidade que jamais deveriam prosperar em uma escola é a máxima bússola condutora de uma instituição desse tipo no momento presente e responsável pelos mais desvalorizados procedimentos que ali ocorrem: falta de cumprimento de deveres e horários; supervalorização do inútil e do boçal elevando-o à categoria da excelência, atendimento parcial aos funcionários e alunos em detrimento de uma minoria elitizada, inversão de valores; falta de administração do espaço físico e do material humano; falta de atendimento igualitário a todos no uso de recursos tecnológicos da organização que permanecem na mão de poucos que muitas vezes nem os utilizam com qualidade e frequência, não possibilitando seu uso à maioria; além de irregularidade na admissão de empregados e desumanidade.
As consequências que estas discrepâncias trazem são maléficas e trágicas para as instituições que na maioria do país assim procedem, pois geram conflitos e revolta, desistência e evasão escolar, insustentabilidade e instabilidade do quadro de funcionários, que insatisfeitos caem em uma rotatividade constante em busca de um lugar melhor; atritos permanentes entre  funcionários inconformados com o tratamento desigual que sofrem em detrimento de alguns.
O egoísmo e a vaidade proliferam em ambientes deste tipo, principalmente se há uma avaliação do trabalho oferecido e, ao invés de se colherem frutos de um trabalho conjunto e efetivo, convive-se com a coroação de individualidades que num eterno puxar de tapetes, e queima do “filme” dos poucos que trabalham realmente, conseguem manter-se no poder durante anos e anos.
A instituição que admite esse modelo de administração está fadada ao fracasso e ao provável desaparecimento uma vez que não tem luz própria, revela fraqueza de caráter e indolência que prevalece sobre o trabalho. Perde seu valor e respeito através de colegas que exercem controle entre seus parceiros e tentam comandá-los e, desta forma,  recusam-se a desenvolver seu real papel, pois avaliam-se superiores a eles; sobrecarregam outros funcionários com suas próprias funções; desprezam aqueles que são autênticos e  que deixam transparecer seus erros, condenando-os como antiéticos quando expõem a sujeira sob o tapete da pouca-vergonha, dando preferência a personalidades indolentes e fracas e, com tudo isso, deixam  de aproveitar o bom material humano de que dispõem.
Por essas e por outras razões que se aqui elencadas representariam capítulos e mais capítulos de um livro, é que nossa educação decai a cada dia, a cada hora, a cada minuto. Não há a atenção necessária ao real personagem do palco que são os alunos e a sua formação, relegados ao terceiro plano e nem uma luz que clareie e torne público este câncer dispondo-se a erradicá-lo. E assim,  o problema continua...    

segunda-feira, 8 de junho de 2015


Boa-noite, relutei muito antes de escrever mais um texto. Há dias, esse tema vem atormentando meu ser ao verificar o quanto a ficção deixa de ser irreal para fazer parte do cotidiano do homem moderno...



(https://www.google.com.br)



Geração faz-de-conta


Apesar de tantas afirmações de que o jovem atual participa do processo de desenvolvimento da sua cidade e país; da rapidez de raciocínio e facilidade que lhe são atribuídas na maneira como lidam com a tecnologia, a despeito de como dizem, do grande volume de informações que recebe a cada segundo, possibilidade do mundo virtual, digital como queiram chamá-lo, há toda uma ficcionalidade a envolver o ambiente juvenil moderno, atualmente.
Podemos evidenciar tal fato perante a mídia de consumo que é ofertada a essa geração: desafio alguém a buscar em qualquer filmografia e na grande maioria da literatura predominante no nosso século, que preferencialmente conseguiu se impor, uma obra que não seja a de ficção científica; enredos que transportam a todos para lugares futurísticos, de outros planetas, envolvendo seres estranhos e improváveis de existirem na realidade. Há muito, as pessoas distanciaram-se do seu cotidiano, de seus problemas e da tentativa de poder resolvê-los, uma vez que o que mais interessa é vagar por outras galáxias, investigar os céus à procura de ovnis, avatares, aliens, seres superpoderosos entre outros, enquanto a sua frente, os problemas sociais crescem, proliferam-se, tornam-se insolúveis e matam inocentes. Qual a razão, todos deveriam questionar-se, por não ter mais lugar na literatura e na arte, para o personagem homem, o simples homem do dia a dia, na luta diária pela vida como um super herói sobrevivente de um mundo que desconhece, na realidade?
E o fato da criação de ambientes fictícios já se prolifera na infância, na literatura, nas histórias em quadrinhos, nos filmes e desenhos que são oferecidos a essa faixa etária.
É proibido mostrar valores relevantes a uma vida digna, é preferível a exibição de seres irrelevantemente criados que fogem da normalidade, como se isso fosse prova de qualidade e estímulo à imaginação.
Desta forma, assistimos passivamente em meio de enxurradas de informações, jovens que não sabem o básico sobre a vida a seu redor, mas que conhecem nomes de estrelas de galáxias a mil anos luz do planeta Terra; da mesma forma, seres que mal olham seu par e o cumprimentam para trocar longas horas de diálogo nos chats de sites da internet; alunos nas escolas que não conhecem informações corriqueiras sobre relacionamento social, mas que colecionam um batalhão de amigos de mentira criados em avatares e em relacionamentos distantes.
Por tudo isso, chega-se à conclusão de que hoje, mais do que nunca, jamais o ser humano poderá organizar-se politica, historica e socialmente de forma presencial como acontecia num passado não muito distante; houve ferramentas apropriadas para efetuar esse distanciamento; uma verdadeira abdução que levaram o corpo e a alma de seres que se assemelham a robôs, que monossilabam em seus lares, trocando o diálogo por uma espécie de autismo, criação de um  mundo  próprio que leva ao isolamento por horas e horas na solidão de dias e noites...
Há quem diga que há uma conspiração por trás disso tudo, uma manipulação das artes, dos meios de comunicação que objetive um cidadão alheio a seu tempo, apolítico e totalmente massa de manobra para intenções sórdidas e antiéticas. O que se sabe é que vivemos num mundo de faz-de-conta, onde o que tem valor deixou de fazer parte da realidade.  
  



quarta-feira, 20 de maio de 2015



  
Hoje, tenho que escrever. Não por obrigação, não por dever, mas por vontade, necessidade de registrar alguns momentos bem vividos, doces e únicos. A despeito da falta absoluta de tempo que o trabalho consome, abandono hoje, o formato dissertativo, agressivo para escrever uma crônica, arrancada do fundo do coração....




 OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS....

Entrando hoje pelo corredor do prédio onde moro em direção ao meu apartamento, alguma coisa me fez lembrar da época em que meu primeiro  filho tinha apenas um ano e fizemos uma viagem à Foz de Iguaçu.  Veio essa lembrança forte, de repente, como que trazida pelo vento frio de maio que me agitava os cabelos.
Quanta saudade! Por alguns instantes, me senti aquela jovem mãe de jeans e camisa, cabelos soltos, orgulhosa carregando o filho nos braços como quem carrega um príncipe ou um pequeno anjo de cabelos louros e lisos, rostinho corado e gracioso...
Agora, essa cena me parece tão distante como uma foto amarelada do álbum de fotografias esquecido no guarda-roupa do meu quarto. Por instantes, relembrei a antiga casa, a alegria da infância barulhenta e sua presença forte se fez sentir em todo o meu ser! Lembrei-me dos antigos brinquedos espalhados pela casa, enchendo corredores e quartos. Hoje, o vazio, a casa silenciosa e sossegada longe da algazarra daqueles tempos cheios de vida.  Uma lágrima me surpreendeu em meus olhos e relutou em cair, enquanto me recordava da imagem do Ferrorama da Estrela, que montado ocupava quase que toda a pequena sala, levando apressadamente seus vagões, passando por pontes, engatando e desengatando seus carros pela via até que viesse o cansaço daquelas mãozinhas incansáveis. Que pena, os tempos não correram, voaram, os ladrões que assaltaram nossa nova casa levaram esse presente maravilhoso de infância que a avó cuidadosamente escolhera para presentear o neto querido...
Lembro-me sim, da jamanta cegonheira que carregava os carros de passeio e que efetuava várias manobras ao pressionar seus botões de comando! Da coleção Comandos em Ação, do Caça Bombardeiro, das bonecas da irmãzinha nascida três anos depois, carro da Barbie, Moranguinho e tantos outros que me vêm agora à cabeça!
E você, meu filho, hoje um homem que carrega sua linda criança nos braços me pergunta se ainda me lembro desses brinquedos?
Como poderei esquecê-los? São parte da minha vida e embora já apareçam distantes em um passado amarelado, posso ainda dizer que foram os melhores momentos que passei em toda a minha existência, instantes sublimes que se comparados à podridão desse mundo que hoje perante nós se descortina, revelam-se tão sublimes que conseguem me arrancar lágrimas de saudade! 

quinta-feira, 12 de março de 2015

Dia atribulado, muito trabalho e aulas para dar...Quando me levantei pela manhã, lembrei-me de você, hoje faz exatamente 17 anos que não mais te vi. Por alguns instantes, fiquei pensativa, saudosa e triste pela perda...





Nuvem passageira que deixou marca





Todos os anos, consecutivamente, em todos os doze de março, sinto um aperto no coração e as lembranças tristes que me calaram na alma e que estarão presentes para sempre em meu ser, voltam por momentos, operando em mim uma transformação.
Nestas horas, ocorrem voltar a minha mente, o desespero causado pela notícia de sua súbita partida, a Ave-Maria plangente de Gounod interpretada ao piano, cujas teclas banharam-se em lágrimas como forma de oração. E após, longos dias e noites de lembranças infinitas e sofridas.
O tempo, no entanto não para, e como já dizia, nosso querido Mário Quintana em sábias palavras: "O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo", volto a folhear as páginas já amareladas da minha vida, em cenários onde a sua presença era constante; momentos doces, musicais, afetivos, tristes, mas duradouros.
Hoje, já me esforço para relembrar uma passagem nova dum passado longínquo e intocável, que me escapa como uma nuvem levada pelo vento...
E muitas lembranças embaralham-se e invadem meu pensamento como aquelas em que treinavas em frente ao espelho simulando uma situação de venda de algum produto, afinal trilhaste sua estrada sempre pelo mesmo caminho, com o entusiasmo de uma criança que planeja obter o mais sonhado brinquedo. Já vendeste de tudo em sua vida: de prendedores a ferramentas, relógios, artigos de época, (ainda guardo alguns exemplares de produtos natalinos que vendias, não tive coragem de me desfazer deles) e tantas outras coisas...Nessas ocasiões, parece que te vejo a impostar a voz, simulando um interlocutor inexistente, algumas vezes pedindo-me para que o representasse. E depois, ríamos muito de tudo aquilo...Não  ocorria na minha ingenuidade infantil que o super-herói pudesse estar assim agindo para eliminar seus medos no sentido de conseguir o tão sofrido pão do sustento familiar...Oh! que doces dias e noites eram aqueles que compartilhávamos em trocas tão significativas que constituíram nossa existência de pai e filha.
Por vezes, para me ver feliz, um LP do cantor preferido, sabe lá com que sacrifício me ofertava e, sentado a meu lado, abraçando-me carinhosamente ouvia compenetrado várias melodias! Você sabia como me fazer feliz!
Em outros tempos, ensaiava interpretar uma música que eu ou meu marido tocávamos ao violão, com uma voz não digo tão desafinada, mas fora do ritmo e do tempo, e como nos divertíamos!
Ultimamente, anos antes de tua partida, seu fardo tornara-se por demais pesado e apesar disso, não lhe arrancara totalmente o sorriso dos lábios que sempre tinham uma palavra de conforto e incentivo a todos revelando uma elevação espiritual a qualquer prova...
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A fugacidade do tempo, o excesso de trabalho não permite que visite o lugar onde seu corpo descansa infinitamente rodeado de altas e silenciosas árvores cuja sombra evolvem todo o ambiente.
Para mim, foste como tudo na vida, nuvem passageira, da bonança, fraternidade e esperança.
Parece termos passado tão pouco tempo juntos, apesar do longo período de convivência familiar, e, a partida da casa paterna exigida pelo casamento trouxe uma ruptura daquela proximidade costumeira que tínhamos.
Nuvem passageira, levada pelo vento sua imagem vai pouco a pouco sumindo, tornando-se invisível, embora lute para que isso não ocorra...
A despeito da efemeridade do tempo, a importância do que significou para mim, jamais deixará de existir e há de me acompanhar até o fim...  



sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

BOA-TARDE, UM BLOG PRECISA SEMPRE COMENTAR TODOS OS ACONTECIMENTOS ATUAIS E TEM O DEVER DE INSTIGAR A REFLEXÃO, DE MANEIRA POLIDA E ÉTICA E O DIREITO DE QUESTIONAR LIVREMENTE ATITUDES QUE SÃO TOMADAS NO PAÍS...


 

QUAL É O OBJETIVO OCULTO?







Atualmente, não se pode discordar de atitudes políticas tomadas para favorecer minorias sob a pena de ser rotulado de intolerante, nazista, preconceituoso.
Muitas vezes essas críticas que fazem parte do espírito de pessoas inteligentes e não coniventes com o sistema são mal interpretadas propositalmente e distorcidas colocando aqueles poucos que ainda raciocinam neste país contra a opinião pública que geralmente é formada através da mídia massiva construída constantemente ao longo dos anos.
Deve-se libertar dessa forma induzida que conduz a uma deliberação coletiva única, porém manipulada, irracional e, portanto, sem valor algum.
Temos acompanhado a questão social do Brasil que se maximiza com o decorrer do tempo e a miséria econômica que aqui impera, não é menor do que a pobreza cultural e espiritual, que ninguém tem a intenção de erradicar.
A classe média é a que mais sofre espoliações de toda a sorte, seja na questão de cobrança de impostos exorbitante, seja na falta de retorno do investimento desses tributos, enquanto que aqueles economicamente favorecidos têm seu capital garantido, além de inúmeros benefícios, em muitos casos, através de favoritismos, subserviência e contravenções que nunca são evidenciadas.
A classe mais pobre, ao contrário, tem sua proteção do poder público em todos os sentidos possíveis: as famigeradas bolsas - tudo se proliferam e oneram os cofres públicos funcionando como um sossega-leão, um abafa pressão que usualmente revelam-se como pão e circo, fórmula já bastante explorada na Antiguidade Romana e que possibilitava aos reis manipularem o poder a seu bel-prazer e tripudiarem sobre os cidadãos mais cultos e espirituosos.
Bolsa-família, bolsa-escola, bolsa-alimentação, auxílio-gás, entre milhares de outros benefícios nos deixam apreensivos ao verificarmos que são medidas que se iniciaram no governo do então presidente Fernando Henrique e que vieram para ficar...
Como um país como este poderá levar em frente em tempos tão difíceis como este, tal empreendimento? Um país onde o trabalho, por mais que se afirme ao contrário, não é bem-visto por uma grande parcela da população que prefere ganhar tudo ao invés de ter a dignidade de conseguir seus intentos através da luta e do labor.
Um país que se perde em festas e feriados infinitos e sua prolongação onde faltam energia e coragem para o trabalho e o estudo. E não adianta contradizer, pois esta é a mais pura realidade. Basta averiguarmos: quantos anos a região amazônica, com uma flora maravilhosa e uma farmacopeia natural foi relegada às traças, sem uma pesquisa eficiente, sem uma administração responsável que nos garantisse um nicho de mercado laboratorial de respeito? Foi necessário uma internacionalização desse tesouro, onde o brasileiro sequer pode utilizar uma folha para remédio, mas que rende bilhões para grupos internacionais.
A falta de vontade de arregaçar as mangas, a ausência de sangue nas veias já começa do poder público que deixou nossos tesouros escoarem pelo ralo como se fosse lata velha, em troco de favoritismos e enriquecimento pessoal.
Somos riquíssimos em elementos naturais, no entanto, de nada nos valem nem tampouco para o crescimento do país.
A questão gritante no momento e que gerou toda essa indagação foi o fato do fornecimento de auxílio à população dita mais carente. Isso se estende nas mais diversas formas até chegar aos presídios, remunerando àqueles que mataram e ceifaram vida de inocentes quando no mínimo, teriam que trabalhar dentro desses cárceres para sustentar os filhos daqueles a quem tiraram a vida por motivos fúteis...
Sou de um tempo onde ganhar coisas do governo era vergonhoso, o ser humano tinha a dignidade de lutar por seus sonhos, entretanto  hoje, nem sequer um uniforme, material escolar a população é capaz de dar a sua prole e assim segue a fila interminável de benefícios: passe-livre indistintamente a todos os estudantes, mesmo àqueles mais medíocres, que vão à escola para depredar e agredir seus professores; auxílio benefício para aqueles que nunca contribuíram enquanto podiam para a previdência social e que causam um rombo no sistema e prejudicam os idiotas que se sacrificaram para pagar um ou mais salários ao mês, que hoje vêm dilapidado o que investiram ao longo da vida em detrimento daqueles que só se entregaram à irresponsabilidade, ao lazer e à paternidade irresponsável que joga no mundo seres que se esmeram e se perdem pelas veredas das drogas e do crime, insultando o cidadão trabalhador e responsável.
Nossa Constituição há muito perdeu seu valor, no momento em que sofre violações a cada momento, e o Ministério Público não se presta mais a defendê-la.
Com todo esse quadro que infesta o país ameaçando a jogá-lo no abismo da mediocridade e falência econômica, em plena crise hídrica tão anunciada diariamente, incompreensivelmente a nação recebe uma imigração importante de países pobres que aqui se infiltram, sem regularização alguma na questão de visto de permanência que também são inscritos em programas de bolsa-família...
Alguém consegue por acaso ficar em algum país economicamente favorável que não necessite de um visto, de uma regulação, isso existe?
É óbvio que não, só aqui, no país de ninguém, permissivo, corrupto e extremamente caridoso...
Não se trata de desumanidade, porém há algo oculto atrás de tudo isso, como receber pessoas descontroladamente em meio à falta d’água e energia? Se em sua casa há escassez de água e luz, você vai chamar visitas para que lá se estabeleçam?
Situação vergonhosa e crítica que brevemente através de medidas eleitoreiras vai conduzir esse país ao caos total.
  


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Boa-noite, as alegrias carnavalescas chegam a seu final na noite de hoje...Momentos para reflexão com a volta às aulas e todos os rituais que as acompanham, principalmente nas faculdades e universidades do país...

TROTE,SINÔNIMO DE:


+ ice





Surgido na Idade Média e cultuado durante séculos através das gerações, essa prática chega até os nossos dias caracterizando-se como uma ação humilhante e agressiva, uma vez que fere a privacidade e liberdade individual: o trote estudantil.
É incompreensível que esse tipo de atitude ainda persista em pleno século XXI  quando tanto se fala em bullying, direitos humanos, liberdade etc. sem que nada seja feito no sentido de eliminar essa tradição insalubre e indesejável.
Alunos veteranos em uma instituição de ensino superior, geralmente os de má índole, organizam-se todos os anos para submeter os ingressantes, denominados "bixos", a toda a sorte de afrontas e pressão psicológica que envergonham, rebaixam e degradam  o ser humano, sem razão alguma de existir.
Inúmeras são as atitudes desses insanos que promovem o trote: banhos de substâncias deterioradas e malcheirosas, cortes de cabelos indesejáveis, exposição humilhante em praças públicas, isso, quando são mais brandos, mas não menos agressivos.
Ultimamente, isso tem tomado proporções violentas, chegando ao ponto de interromper a vida humana na fase mais vigorosa das pessoas: são queimaduras provocadas por substâncias químicas como a cal, ácidos e outras; ingestão obrigatória de álcool e drogas não permitidas, afogamento em piscinas, traumatismo craniano causado por agressões violentas, entre tantas outras formas de tortura e barbarismo que são impostas aos chamados calouros das faculdades e universidades do Brasil e do mundo.
Posso, certamente, falar sobre isso, sofri agressões ao ingressar na faculdade e ser mais castigada do que outros "bixos" por não ter aceitado os galanteios de um veterano que gastou, aproximadamente, duas latas de graxa preta em meus cabelos, banho em todo o corpo de mistura de ovos podres, farinha e óleo além de humilhação em praça pública...
Ainda hoje, assisti a um jornal televisivo onde um entrevistado comentava a respeito de uma CPI que foi instaurada no país com o objetivo de investigar os últimos trotes violentos que tem ceifado vidas, gerado estupros, e queimaduras graves e indignada ouvi a apresentadora manifestar sua opinião de que os trotes não devem terminar, pois muitas pessoas gostam deles...
Mais indignado ainda ficou o entrevistado, que afirmou que apenas futuros violentadores podem simpatizar com essa prática...
Realmente, só pessoas de muita baixa índole e formação apreciam atitudes tão vis e indignas, que deprimem e relegam o ser humano à pior das criaturas; sádicos que se alegram  com a desgraça alheia; frustrados que não têm capacidade para atingir metas e objetivos, e, desta forma, despejam sua inveja e ira em seus pares.
Nesse caso, há que se ter uma regulação, um acompanhamento a esse bando de animais disfarçados de gente que se infiltram dentro de instituições educativas como estudantes, o que não são, efetivamente.
O ideal é banir essa pouca-vergonha, bullying no mais último grau, que serve de diversão para incompetentes que apenas acham graça em espezinhar alguém, não importa em que nível.
Fala-se em trote do bem, que seriam atitudes impostas, porém, voltadas a ações sociais no sentido de doação de sangue, por exemplo. Mesmo nesse caso, isso não pode prosperar, uma vez que vai contra a vontade, a liberdade de cada um de optar. Afinal, estamos ou não em uma democracia?
Tomem-se providências urgentes a esse respeito, do contrário, nossos jornais continuarão a estampar estatísticas indesejáveis provindas desse tipo de ação.
Se não for possível ao poder executivo desenvolver algum tipo de atitude nesse sentido, que o faça o judiciário através do Ministério Público que deve fazer justiça, para isso foi criado. O que é inadmissível é a ignorância dos fatos, a permissividade, a falta de cuidado com as pessoas.
E que a atitude coerente a ser tomada,  venha logo, não espere para fazê-lo quando o número de mortos e agredidos alcance uma proporção incontrolável.