terça-feira, 30 de abril de 2013


Estou dividindo os trabalhos desse blog em textos de opinião cujo teor é sempre crítico, polêmico dado ao contexto, em que não diria apenas o Brasil, entretanto o mundo está inserido em nossos dias, e em comentários a livros lidos, que julgo um tipo de literatura muito útil para quem estuda e se prepara para vestibulares, cujo tempo é bastante escasso e não permite a leitura de toda a bibliografia a ser vencida. Aproveitando o gancho do último livro comentado que apesar de ser uma literatura brasileira, trata de enredo e personagens portugueses, passo hoje a enfocar outra obra, desta vez, literatura portuguesa de um autor a que amo muito e admiro pelo estilo, maneira de escrever e conduzir as narrativas e diálogos: Eça de Queiroz.


BIOGRAFIA DO AUTOR


Dados sobre o autor: Nascido em 1845 em Portugal, próximo à cidade do Porto, estudou advocacia e trabalhou em jornal, “O Évora” como diretor. Autor de revista de crítica social, já demonstrava vontade de contradizer o meio social em que se inseria, frequentando reuniões com um grupo de intelectuais boêmios dirigidas por Antero de Quental. Transferindo-se para Londres, escreve “O Primo Basílio” outro clássico onde o tema da infidelidade conjugal é abordado. Este romance que vou comentar, “O crime do Padre Amaro,” caracteriza-se por ser a sua primeira grande produção literária. Foi primeiramente publicado em uma revista por meio de folhetins, sem a sua autorização em 1875.
Cinco anos depois o romance é publicado com mais rigor.

CARACTERÍSTICAS DA OBRA



Esse trabalho indica um rompimento com o Romantismo afirmando um compromisso com a observação científica da realidade fornecendo uma contribuição para o desenvolvimento social.
Trata-se de uma crítica à sociedade portuguesa da época que segundo a filosofia do Realismo-Naturalismo deveria sugerir ao leitor uma reforma social e a conscientização dos problemas, encaixando-se nas características da estética e sobretudo, que mostrasse um autor neutro face à problemática, fato questionável, uma vez que percebe-se claramente as ideologia de um escritor por mais neutralidade que ele tente demonstrar.
A obra apresenta uma crítica mordaz ao clero que, na figura de Amaro, (protagonista), desfaz o mito dos religiosos perfeitos e obedientes a Deus, como todos acreditavam na época, porque o padre demonstra uma fraqueza de caráter, ideais mesquinhos, tudo fazendo às ocultas para realizar seus instintos sexuais e carnais em detrimento ao respeito pelo ser humano, atitudes pouco dignas e inaceitáveis na personalidade de um religioso que nas palavras era todo retidão e nos atos uma figura devassa, indigna.
A teoria do Naturalismo (observação científica dos fatos) está presente no desenvolvimento da trama na manifestação dos desejos libidinosos, sexuais do padre e que não podem ser reprimidos mesmo tendo convivido em um ambiente místico e altamente religioso, é a força dos hormônios, das glândulas dominando o meio das orações e amor a Deus. Através dos adjetivos usados pelo autor como lascivos (sensuais) atribuídos aos padres, bem como pelas metáforas utilizadas há a percepção da condução contra o clero através da crítica constante, não apenas a Amaro, mas a todos os eclesiásticos citados no romance com uma única exceção: o abade Ferrão. Estão presentes o reacionismo burguês e a luta dos jovens intelectuais também rotulados satiricamente por: envernizados de literatura contra à nobreza e seus protegidos (o clero) que por si só não seriam capazes de realizar uma transformação social no país, dado a seus princípios pouco nobres...
Há a alusão de que este romance teria sido uma cópia de “La faute de L’abbè Mouret” (A falta do abade Mouret) de Émile Zola, no entanto, essa crítica de Machado de Assis foi considerada irrelevante, uma vez que eram enredos totalmente diferentes, a semelhança era somente nos títulos.








O CRIME DO PADRE AMARO  -  PARTE I



Na cidade de Leiria, Portugal, morre o pároco da cidade, José Miguéis da Sé de uma apoplexia e seu lugar fica vago. Não era bem aceito e nem tampouco estimado, principalmente pelas mulheres que não apreciavam o seu jeito impaciente ao ouvir seus relatos, verdadeiras ladainhas que descreviam estórias de visões divinas e jejuns. Além do mais, não era polido ao arrotar no confessionário, era rude e muito grosseiro. Ao contrário, as beatas preferiam confessar-se com o padre Gusmão, cheio de lábia e falsa educação.
Apenas um era amigo fiel do padre José Miguéis, o seu cão Joli, que ninguém quis adotar e que após a morte do seu dono fica perambulando pelas ruas e acaba morrendo de fome, levando com ele a única lembrança do finado pároco.
A cidade carecia urgentemente de um substituto e o Padre Amaro, recém-formado, é indicado por influências políticas para ocupar a vaga na Sé. Ali, ninguém o conhecia com exceção do cônego Dias que morava em companhia de uma irmã, Josefa Dias, uma beata das mais fanáticas, além de preconceituosa e ignorante, e que  por amor às suas crenças religiosas deixava de ajudar as pessoas se estas lhe pareciam indignas segundo a sua falsa moralidade.
Quanto ao irmão,  o cônego Dias, não era nenhum poço de virtude, tinha uma amante às escondidas, uma senhora dos seus quarenta anos aproximadamente de nome Augusta Caminha que durante toda a narrativa vai ser conhecida como senhora Joaneira, alcunha que recebera por ter nascido em São João da Foz. A sua casa era permanentemente frequentada por toda a sorte de padres e beatos que todas as noites ali se reuniam para jogar loto, fofocar e se divertir. Joaneira tinha uma filha, Amélia Caminha, bela, de boa índole, criada pelos princípios da mais alta fé cristã e que nem de longe suspeitava das ligações da mãe com o cônego. A sua casa era também frequentada por um rapaz, João Eduardo, que amava a moça e também não era por ela ignorado, este trabalhava na tipografia do jornal “A voz do distrito” aguardando ansiosamente que lhe aparecesse uma vaga no governo civil para poder ter o que oferecer à menina Amélia e pedi-la em casamento.
É para esta casa que vai morar o Padre Amaro assim que chega à Leiria...


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