quinta-feira, 14 de março de 2024

"Não é feliz quem pensa no passado"

 








Vi essa frase em uma mensagem de um conhecido livro de meditação. Nele, a informação de que coisas passadas nada constroem. Como diz o velho ditado: Águas passadas não movem moinhos."

Complementando, o texto trazia a informação de que não é tão importante saber sobre a vida dos pais, dos avós e daqueles que já se foram, porque o momento é o agora; o presente cria o nosso amanhã.

Concordo com a última parte, não podemos viver apenas do passado, e acredito sinceramente, que a menos que uma pessoa seja  afetada por uma patologia, isso possa acontecer. E se ocorrer, esse indivíduo estará inapto a viver em sociedade, realizar seu trabalho, conviver sadiamente em grupo e até mesmo contribuir de alguma forma em prol da humanidade, uma vez que vive anacronicamente na maior parte do tempo.

Entretanto,  discordo de que devamos não dar importância ao que aconteceu ontem e há muito tempo atrás: temos, eu diria, o dever de conhecer o passado de nossos pais, avós, fatos  e pessoas cujo pretérito foi relevante socialmente, até como uma forma de adquirir e difundir cultura, informação, conhecimento. Somos o que fomos e como poderemos ser, se não conhecemos esses detalhes?

Como ignorar estudos e investigações valiosas que irão contribuir sobremaneira para o nosso presente e futuro?

O que seria então dos estudiosos que se debruçam por horas com o  intuito de construir sua própria árvore genealógica, deslocando-se inúmeras vezes de cidade, do seu estado e até do seu país, movidos pelo desejo crescente de cada vez mais conhecerem a sua essência.

E o que dizer dos historiadores que vasculham fatos ocorridos há séculos para trazer informação e compreensão a um público que não viveu nessa época. Digo mais: cada um de nós tem a obrigação de pesquisar esses momentos distantes no tempo e no espaço, principalmente no momento atual, em que o falso substitui o real assustadoramente a cada dia, a cada minuto. 

Ao viajar, conhecer museus, obras de arte, constatar o que documentos vetustos, mas repletos de verdades revelam no amarelado do tempo. Recordo-me agora da sentença de morte de Tiradentes, exposto no Museu da  Inconfidência em Ouro Preto: "Sua casa será salgada para que não cresça ali nenhuma planta, será enforcado em praça pública, o corpo será esquartejado e suas partes colocadas nos postes de Vila Rica", contrariando as informações que nos passam atualmente de que o corpo foi exposto nos caminhos do Rio de Janeiro, e que Tiradentes não foi enforcado, um ator representou a cena... Qual das informações será real? A página amarelada do tempo em um documento e a caligrafia impecável do século XVIII, o sinete do rei, a assinatura? É óbvio que falam muito mais... É de extrema importância que estejamos atentos a isso.

O que dizer então de pessoas como eu? Apesar de adorar a vida e seu momento presente, cuidadosamente fiz meu livro de vida construindo ou reconstruindo-a por infinitos momentos: de alegria, de orgulho, de satisfação e de pesar, por que não? Se isso faz e ocupou parte de nossa vida? Revelo aqui que elaborei três livros de vida ou álbuns de vida de cada fase vivida... Livro 1, da infância à vida adulta; os namoros, amores, os amigos, a escola... Fatos relevantes, documentos, cartas, cartões postais, de Natal, casamento... E me foi muito útil, hoje na idade madura, além de me trazer o prazer da recordação, o reviver de emoções, comprovou fatos que ajudaram a construir a aposentadoria, uma vez que sempre guardei tudo e era tachada como "acumuladora". Agora os caprichados scrapbooks causam inveja em quem os vê... Só quem registra suas memórias sentirá o prazer que sinto em compô-las, lê-las, reviver fases que nunca mais voltarão, pelo menos nessa vida. 

O livro dois trata apenas de momentos na profissão, prendas e mimos em cartões, cartas de alunos que me causam júbilo e me ajudam a valorizar o que construí.

O livro três será de momentos inesquecíveis com os filhos, viagens, curiosidades até a aposentadoria e vida atual e está ainda em construção.

Só temo do que acontecerá com eles, se eu me for... Haverá alguém que os conserve, ou serão encontrados em algum local? Talvez sejam aproveitados por uma alma sensível como a minha...

Sou obrigada a discordar do autor do texto de meditação por esses e por inúmeros outros motivos que não me é possível registrá-los na totalidade aqui.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

A duas cruzes

 Boa-noite, caros leitores. Essa crônica de hoje nasceu da curiosidade, da alma inquieta que sente vontade de saber sobre tudo o que ocorre e ocorreu em algum instante da vida...





Passo de carro pela Rodovia dos Romeiros já há bastante tempo. Elegemos essa autoestrada como ponto obrigatório de muitos passeios de sábado. Andando por ali, sei da intensa luta do rio Tietê contra todas as intempéries e maus tratos a que o seres humanos o submetem, como a intensa camada de espuma branca que polui suas águas outrora límpidas e claras; os esgotos que nele são insanamente despejados de forma constante, resultando na eutrofização de seu líquido precioso, favorecendo a aparição das inocentes, mas ameaçadoras algas verdes que destroem o seu oxigênio, causam mau-cheiro e morte de peixes e animais fluviais. Vejo também, que  muitos trechos do curso já foram perdidos por esse processo, exibindo água podre, grossa e estagnada, aos poucos perdendo a guerra da sobrevivência para a imensa quantidade de igarapés que teimam em barrar seu caminho. Chego a me indignar muito com essa causa,  os homens estão brincando com algo muito sério e um dia em breve, não mais adiantará o arrependimento, todos sentirão na pele as consequências desse descaso para com a natureza.

A estrada,  um verdadeiro paraíso que culmina próximo das cidades de Itu e Salto é um verdadeiro milagre da natureza ainda em festa. Rodeada de  Mata Atlântica, exibe vegetais de porte alto, nas duas margens do rio, fornecendo sombra abundante e amena por todo o percurso; bambuzais imensos, eucaliptos vetustos e elegantes. 

Pelo motivo de ser muito estreita e pouco movimentada, a rodovia é palco dos ciclistas que fazem seu treino ordinário, além de motos, romeiros em época de festas religiosas responsáveis por dificultar a passagem dos carros por conta da enorme quantidade de cavalos, burros e charretes. Por volta da quaresma, muitos cumprem suas promessas carregando pesadas cruzes, sacrificando-se para agradecer ou pedir uma graça até chegarem ao santuário da pequena cidade de Bom Jesus de Pirapora.

Vou relembrando com relativa facilidade tudo que vejo por aquele caminho; a gruta em uma das margens, as fontes de água natural, a pequena  capela e  a sala de velório próximo à cidade de Cabreúva. Ouço por vezes quando paramos para um lanche, o canto nítido dos pássaros, o rumorejar agradável das águas do rio, o canto estridente das cigarras, proporcionados pelo silêncio da estrada.

Entretanto, no último sábado, meus olhos fotografaram algo que nunca tinha visualizado naquele caminho: duas cruzes  relativamente pequenas, branquinhas, posicionadas simetricamente uma junto da outra. No mesmo instante, deixei de observar a natureza para divagar involuntariamente em pensamentos instigados por aquelas imagens. Pessoas tiveram ali, naquele local, suas vidas interrompidas, por um acidente, provavelmente. Dificilmente vemos veículos de grande porte, apenas pouquíssimos ônibus e caminhões trafegam. As curvas são acentuadas, sinuosas, à esquerda e a direita,(vou relembrando o que significa cada uma das placas), perigosas se usadas com abuso de velocidade, teria sido esse o motivo das duas mortes? 

Muitas vezes, deparamos com animais de grande porte como cavalos à margem da estrada a pastarem tranquilamente, irresponsabilidade de seus donos que despreocupados e negligentes concorrem para que catástrofes certamente aconteçam... Teria sido essa a causa das duas cruzes? O local muitas vezes durante temporais é inundado pelas águas revoltas do rio que parece se vingar da humanidade; há desmoronamentos, quebra de asfalto, quedas de árvores, que hipoteticamente teriam encurtado o tempo daqueles dois pobres seres, que poderiam ser um casal de jovens apaixonados, ou velhos sonhadores; um pai ou uma mãe com seu filho ou filha, enfim, enquanto me perdia em pensamentos sobre as duas cruzes nem me dei conta de que já havia chegado na cidade de Salto.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Um...Dois e....Qual o mistério do número 3?

 Números são extremamente importantes em nossa vida, criados há um par de séculos nem é possível exprimir em apenas  uma página sua utilidade em nossa existência, mas o 1, 2, 3 é um mistério que gostaria de descobrir...




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O leitor não deve talvez ter atentado para essas situações que vou relatar abaixo; quem sabe até tenha passado pela cabeça de alguém esse enigma que envolve o número três. É três para tudo. Como uma barreira poderosa ele limita momentos decisivos em várias ocasiões em que a emoção corre solta.

O pai diz aos filhos: "Um... Dois...Três, já! Pode pular! Em brincadeiras divertidas de adivinhar, de correr ou até mesmo saltar de um lugar alto para seu colo. Como é poderoso o algarismo 3 nesses momentos... Alguém já parou para pensar sobre esse detalhe?

Entre amigos, acontece também: "Vou contar até três, se não responder, está fora!" 

Quantos já não foram excluídos de folguedos em grupo através dessa limitação...De quem? Do número 3, é óbvio!

E no cotidiano? Na vida prática, em telas de computador, celular ou outro dispositivo como em caixas eletrônicas de banco? Acontece o mesmo e vem a mensagem "Após 3 tentativas sua senha será bloqueada!" Já viu poder igual? 

E na escola? "3 dias durante o ano para chegar atrasado, excedeu esse limite, será penalizado, cuidado!" Como se esse três definisse toda uma vida escolar na questão de pontualidade...

Quando ocorre aquele soluço involuntário e desagradável que perdura além do tempo suportável, o que se ouve? "Beba 3 golinhos de água devagar..." E incrivelmente o poder do número 3 faz seu efeito, fazendo valer o que prometeram...

Ao tentar carregar um objeto de peso além do normal...Ao passar um paciente da maca para a cama do hospital...

Mas ainda não para por aí...Quem já não passou por uma sessão de fotos e ouviu o fotógrafo dizer: "Um, dois, três....Olha o passarinho!" E instantaneamente, definido por um número, já temos uma foto registrando momentos que ficarão eternizados em nossa memória...

Três tem poder de definição, de limitação, de fim, de expectativa, de decisão! Desconheço qual a razão de se empoderar tanto um valor numérico em relação aos outros.

Mas não termina por aí ... Nos clubes de tiro, ou em campeonatos, parques de diversão que propiciam acertar um alvo qualquer, o que se ouve? Ou simplesmente conta-se mentalmente? "1, 2, 3, fogo!" É impressionante, digo até, inacreditável essa presença tão marcante em inúmeras situações...

Fora a história dos três beijinhos "Pra casar!" 

Não poderia, ser um ou dois?

Em diálogos sobre vida familiar há sempre a ressalva no número de filhos: "Um é pouco, dois é bom, três é demais!" 

Olha ele aí novamente, se impondo de forma categórica, estabelecendo seu limite implacável...

Tenho absoluta certeza, de que se o leitor se deixar levar pelo raciocínio nessa questão vai encontrar, mil outras ocasiões em que isso pode acontecer. 

A efeito de diversão coloque em seu comentário abaixo qual nova situação em que você verifica o poder do número 3. Agradecerei imensamente a colaboração.

 E para não perder o hábito :"1, 2, 3, esgotaram-se minhas reflexões!"

Ah, o número três...