segunda-feira, 11 de julho de 2011

Amigos, continuo aqui, como que num retiro espiritual e isto já está durando mais tempo do que pensei. Apenas um inconveniente: não tenho Internet que me possibilite postagens semanais, aliás já havia dito isso anteriormente em postagens mais antigas. Este texto em que relembro a imagem de um primo querido vai ainda sem foto alguma, pois escrevo de uma lan house.

Carlos

Às vezes, aqui sozinha à noite, perco-me em meditações mil.Vendo a noite derrubar suavemente seu pano sobre as verdes montanhas, apagando todas as cores com que o sol pintou artisticamente na imensidão do céu, sinto no fundo do meu ser as contradições e efemeridades desta vida.
Quantas delas se apagam enquanto que milhares de outras nascem numa rodaviva interminável.
Quantos daqueles que amamos se vaem sem que ao menos o tempo permita que lhes digamos adeus, deixando apenas lembranças perdidas ao longo da estrada.
Tudo isso acontece rapidamente quando menos esperamos e de forma tão constante como a noite que chega todos os dias para incansavelmente dar lugar à luz de um outro dia...
Enquanto as trevas se avizinham ocupando todo o seu espaço, cismo em meio do silêncio noturno quebrado apenas pelo cricrilar dos insetos. Quanta tristeza tudo isto encerra, principalmente para os doentes de alma romântica e panteísta como eu que amam profundamente tudo o que os rodeiam.
A nostalgia então me envolve os pensamentos e de repente lembro-me de você, Carlos.
Você foi mais que um primo para mim, foi um amigo para todas as horas da minha rósea e triste adolescência, meu companheiro fiel, sempre pronto a me acompanhar onde quer que fosse. Meu defensor nas horas de fraqueza, presente nos momentos alegres e tristonhos da minha existência inocente.
Não sei em que momento da vida e por que razão nos separamos, passamos a viver em cidades diferentes, distantes, você no seu canto e eu no meu.
E o que foi feita daquela bela amizade que havia entre nós? Em que lugar ficou perdido aquele amor fraternal que nos ligava como a dois irmãos?
Ainda ontem corríamos livres pela rua sob a luz do sol escaldante de Araçatuba, duas crianças felizes que nem de longe conheciam a escuridão que repentinamente toma nossos caminhos...
Quando atendi ao telefone naquela noite, mal podia compreender o significado daquelas duras palavras: O Carlos morreu...
Como? Se sempre ao teu redor só havia luz e alegria?Se quando nos encontrávamos era para sair,divertir e sorrir?
Saiba que não consegui criar coragem para te ver pela última vez. Com os olhos inundados de lágrimas fiz-me representar por uma coroa de rosas vermelhas e brancas e uma faixa que trazia gravada uma frase que nem de longe poderia encerrar a dor da perda. Revia seu rosto sorridente, lembrava-me dos doces momentos dos quais compartilhamos. Não poderia, jamais, obscurecer estas imagens, preferi guardar em minha memória a sua vida e o que ela me representou, como se nada de ruim tivesse acontecido contigo.
De onde estiver, peço que me perdoe por não ter tido a coragem necessária de te fazer a última visita.

Um comentário:

  1. Olá querida Cristina,
    Que bom ler mais um texto seu! Estava com saudades! E este texto é lindíssimo, triste mas lindíssimo!
    Eu sei que é muito triste perdermos alguém de quem gostamos, é como se um pouco de nós fosse junto com a pessoa. Sei como é, doí muito, faz chorar, mas com o tempo as boas recordações vão tomando o lugar da tristeza e vamos sendo capazes de lembrar apenas as coisas boas e deixar a dor descansar, cada dia, um pouco mais.
    Não se preocupe que o seu primo Carlos, lá de onde estiver, percebeu muito bem o porquê da Cristina não ter ido ao enterro dele, e não lho levou a mal. Quem gosta a sério de nós conhece sempre as nossas razões, e continua sempre a gostar de nós na mesma. É a delicia enorme de gostar de alguém! Ficamos com lugar cativo no seu coração, para sempre.
    Gostei muito do texto! Volte depressa!
    Beijinhos da amiga,
    Glória

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