domingo, 11 de agosto de 2013

O texto de hoje vai dedicado a ele que comigo conviveu a infância, adolescência e idade adulta durante 47 anos...


Um verdadeiro amor nunca se esquece







Passei hoje próximo àquela revendedora de gás cuja frente exibe a antiga armação metálica da árvore natalina, porém nua, sem os enfeites de todos os anos. Seguindo por aquela rua, a mais alguns metros, encontra-se a sua última casa onde com os braços abertos sempre me esperava por ocasião do Natal; magrinho, cabelos brancos e sorriso sincero, abraçando-me demorada e fortemente como que querendo me prender a seu lado para sempre.
Lembro-me daquelas visitas rápidas, de apenas algumas horas que tanto te deixavam feliz apesar de saber que passaria contigo apenas os rèveillons...
Quanto tempo já passou desde então! Foram quatorze longos anos desde a sua partida e, no entanto, ainda parece que foi ontem que te vi ansioso a me esperar no jardim na escuridão da noite. Já há muito não posso contar com a sua mão amiga, a palavra de carinho, o conforto do seu abraço. Como a vida pode ser tão cruel e covarde quando nos tira aqueles que tanto amamos e que tanto fizeram por nós!
Na distância imensa que nos separa, na imaterialidade que de repente se transforma a existência humana ainda fica o sentimento, o forte sentimento que sempre nos uniu de maneira simples e espontânea porque foste um verdadeiro pai, onde o alicerce da educação foi o amor, num ensinar que não se impõe, mas que se revela sobretudo pela força do exemplo e que me transformou no que sou, alma sensível e solidária, incapaz, a sua semelhança, de fazer qualquer mal ou magoar alguém.
Não é Natal, entretanto hoje vou te fazer uma visita. Não haverá o contato direto, apenas a mentalização tenta unir na espiritualidade e recriar o elo que sempre nos manteve juntos. Não sei se sabes, nesse sábado levo um vaso de singelos crisântemos brancos no lugar onde teu corpo repousa, no pequeno cemitério solitário de Arujá. Conforme o carro devora os quilômetros que nos separa, vou revivendo passagens da nossa vida e tento com esforço visualizar seu rosto simpático.
Eis -me de repente em frente à necrópole onde à entrada, a grande paineira coberta de flores abriga com sua sombra parte da alameda principal ladeada de túmulos silenciosos. Ninguém por ali. Caminho e logo estou defronte à lápide onde deposito a brancura das flores aveludadas. Que oração vou fazer... Procuro ansiosa na bolsa pela pequena Bíblia, sem encontrá-la... Você era um homem religioso, e nos últimos anos se ocupava com a leitura sagrada, que de certa forma servia de esperança e bálsamo para o sofrimento que te consumia. Começo a improvisar uma oração: “Querido pai, que nunca deixaste que nada me faltasse, fazendo o possível e o impossível para me ver feliz. Quantas noites de vigília a mim dedicaste nas horas de doença, quanta aflição te consumiu no afã de conseguir-me o conforto necessário esquecendo-se da sua própria vida  na dedicação familiar... Estas flores que trago comigo hoje quase nada são perante o que para mim fizeste, são apenas  um símbolo que se pudesse, plasmaria com a força da mente e te mandaria para o céu, onde certamente é a sua morada. Tenho rezado incansavelmente para que tenha paz e encontre a glória eterna no mundo espiritual. E que nada te falte, assim como comigo fizeste um dia... Saiba que jamais em tempo algum por mim será esquecido"... Limpo com as costas da mão as lágrimas que inundam meu rosto já marcado pelas asperezas da vida. O silêncio é aterrador, até os passarinhos que por ali passavam calaram sua voz e apenas os últimos raios quentes do sol temos por companhia. Hora de ir. A passos lentos e pesarosos deixo o campo santo onde o tilim-tilim metálico dos números das lápides fazem o seu concerto embalados pelo vento como a me dizer adeus...


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