quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Boa-noite. O texto de hoje é a respeito da demolição de um imóvel cuja ação visualizei hoje a caminho do trabalho...

Resultado de imagem para desenho de uma casa com janelas  coração

Sonhos desfeitos

Dirigia pela Rua Araguaya  no cruzamento com a Carnot, no bairro do Pari, trajeto que faço rotineiramente em direção à escola onde leciono, quando para minha surpresa, o sobrado da esquina mostrava o seu interior semidestruído, a exibir um cenário de entulhos amontoados ao longo da sala. Eram pedaços de parede, largos tijolos amontoados, resquício dos bons tempos, época em que os materiais usados, de maneira geral, eram muito superiores em qualidade.
Confesso que me senti incomodada e por  que não dizer, entristecida com a ausência visceral daquela moradia que visualizava todos os dias ao passar por ali. O congestionamento favoreceu minhas divagações sobre aquele acontecimento e me acompanharam por todo o caminho. 
Uma casa carrega em seu interior muitas vivências, inúmeras passagens: alegres, tristes, engraçadas ou fúnebres. Traz na sua construção , primeiramente, um mundo de expectativa, de sonhos que finalmente se concretizam e realizam as pessoas que tanto lutaram para conseguir um ideal, tão difícil nesses nossos dias, quase impossível para muitos.
Quantas surpresas agradáveis, confraternização entre famílias, horas de amor, mas também de desespero, desafetos  e separações... Isso é toda uma vida! Por esse motivo, não consigo me conformar com demolições, pois dão o fim em  histórias de vida. Ao deixar de existir, uma construção dessas jamais sobreviverá na lembrança daqueles que a habitaram. Como dizia o poeta Toquinho, " uma aquarela que um dia enfim, descolorirá"... 
Por enquanto, ainda não vi esse dissabor acontecer com a casa de minha infância e pré-adolescência, que continua a mesma na minha doce cidade natal, Araçatuba e espero nunca vislumbrar tal fato. Entretanto, esse triste evento ocorreu em um velho sobrado (dizem que tombado...) na região da Avenida Brigadeiro Luís Antônio com a  Paulista. Era alugado, ali passamos pelo menos dois anos, meu filho abrira uma pizzaria ao lado, e , todos convivíamos diariamente sob aquele velho, mas amigo teto... Ainda tenho na memória o desenho de seus cômodos, o velho piano na sala, onde na época aprendia e ensaiava a valsa maravilhosa de Ernesto Nazareth, "Coração que sente". Foi por aquela época, em 2010, que nasceu minha netinha. Logo nos mudamos, porque os negócios não iam bem e vimos com pesar, após algum tempo, a casa ser praticamente derrubada, ficando apenas o seu esqueleto. Foi transformada em uma grande loja comercial. Até hoje quando passo por lá, sinto um aperto no coração por não ver mais aquela imagem que nos abrigou durante algum tempo.
Não deveriam haver demolições, em hipótese alguma, deveriam acontecer...Por que isso ocorre? Venda do imóvel, certamente, falta de conservação e manutenção, vaidade, desejo de modernização... São muitos os motivos, mas para mim, nenhum deles justifica essa violência contra a memória e a vida e meu coração assim como o do magnífico Nazareth é um coração que sente...


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