terça-feira, 6 de abril de 2010

Se eu pudesse viajar no tempo...

Há muito tempo em uma prova ou concurso foi pedido o desenvolvimento do tema: “Se eu pudesse viajar no tempo”
Fiquei instigada a participar também e meditando a respeito da sociedade atual em comparação com um passado não muito distante escrevi o texto abaixo cujo conteúdo fiz publicar em um jornal da cidade de Rio claro onde residia na época:

Se eu pudesse viajar no tempo com certeza não gostaria de vislumbrar um mundo futurístico, pois creio que muitas coisas para mim tristes, estariam reservadas: a automatização do ser humano com o absoluto predomínio da máquina implacável-personagem principal, em detrimento do próprio homem- que lástima! Meios naturais: vegetação, ar, águas, totalmente transformados pelas mãos dos chamados, progresso e desenvolvimento.
Por esses e outros motivos é que jamais compraria uma viagem para uma visita ao futuro, mas certamente iria para locais de um passado não muito distante... A minha juventude!
Na velocidade da luz, voaria para os fins da década dos sessenta e indubitavelmente encontrar-me-ia em uma das praças da minha querida cidade natal. Não como está nos dias de hoje; semidestruída, ocupada por mendigos e pessoas dominadas e corrompidas pelo vício.
Hoje, a praça já não é a mesma de outrora. A miséria espiritual e econômica da humanidade ali está representada, hasteando suas bandeiras pelos quatro cantos. Evita-se passar por ali, por medo, ou até mesmo para impedir que uma depressão imensa tome conta de nós; seres que a vimos em todo o seu esplendor, exibir sua fonte de águas coloridas pelas luzes noturnas de domingos gloriosos, agora mascarada de abrigo para sub homens reproduzindo diariamente o cenário de “Os Miseráveis” onde da mesma forma Victor Hugo nos apontou tão fielmente uma amostra da deplorável decadência e indignidade moral a que o ser humano foi relegado.
Antes, era a praça local mais solicitado da cidade, ponto obrigatório de encontro para reuniões domingueiras, de comentários, entrosamento, lazer, alegria... E sobretudo interação entre os homens que podiam ainda na época serem assim chamados em toda a totalidade do significado que esta palavra encerra. Não haviam ainda lhe sido roubados totalmente os aspectos morais, espirituais, humanitários e, sobretudo a sua liberdade de pensamento, amplamente desenvolvida através da análise e espírito crítico coerentes.
Nessa época em que todos lotavam as praças com seus sorrisos sinceros, onde toda a classe social era bem-vinda, não havia ainda adentrado no coração das pequenas cidades, o germe dos meios de comunicação de massa, que tanto contribuíram para levar o homem ao isolamento, ao distanciamento do seu companheiro e da realidade de sua cidade.
E com que simplicidade e prazer se expectava o fim de semana com seus personagens áureos: cinema e praça!
Assistiam-se aos filmes que eram discutidos, analisados e admirados por toda a coletividade, numa verdadeira terapia que ainda não permitia a proliferação de psicólogos e psicanalistas- coisas do futuro...
A população vibrava feliz com seu pequeno cinema, seu mundo encantado, sem a monotonia, solidão e saturação diária produzidas pelas videolocadoras encerradas em suas fitas apropriadas para o consumo em larga escala- capitalismo cultural.
Produzia-se arte que não se caracterizava como comércio de consumo, não se corrompia ao poder de grandes grupos.
Romeu e Julieta I,II,III...Jamais!
Ah! que vontade de voltar...