quinta-feira, 11 de julho de 2013

O mundo gira sem parar... O tempo passa rapidamente... Milhares de relacionamentos cotidianos em segundos já estão distantes. O prazer do reencontro depois de vários anos é imensurável.






Reencontrar é reaver emoções perdidas


Residi por quinze anos na cidade de Rio Claro, estado de São Paulo. Belos tempos, onde ainda jovem acompanhei o desenvolvimento infantil e intelectual de meus filhos. Foram anos de labuta tentando formar amor pela leitura e pelos estudos, tarefa incansável de uma mãe, principalmente quando é professora como eu.
Nesta cidade, lecionei em três escolas públicas estaduais: Djiliah, EE Indaiá, mais tarde Carolina Augusta Seraphim e EE Profª Heloísa Lemenhe Marasca.
Na década de 90, comecei a trabalhar na Escola Indaiá. Ali conheci pessoas maravilhosas, alunos criativos e sensíveis. Apesar das dificuldades e agruras da Educação, desenvolvi projetos maravilhosos, apresentações importantes para o desenvolvimento psico-social de meus alunos.
É óbvio que não foram apenas flores que estiveram presentes nesta época de minha vida. Tristezas com perdas de vidas de alunos na flor da idade e funcionários já na idade madura ofuscaram o brilho  daqueles anos felizes.Muitas contrariedades se fizeram presentes através de atitudes pouco polidas e de reconhecimento pela qualidade do trabalho desenvolvido, mas o que importa realmente é o que ficou para meus alunos, a lição de vida passada, a participação coletiva em temas relevantes para a afirmação de sua cidadania. Nunca abandonei apesar de todas as dificuldades o meu estudo de música,  me formando já em tardia idade no conservatório da cidade no ano de 1993.
Com a reorganização exigida pela legislação da época, a escola já então com novo nome, Carolina Augusta Seraphim,  cuja patronesse foi professora do estabelecimento, teve a sua clientela dividida, pois o antigo curso primário não poderia estar mesclado com o Ensino Fundamental 2. Desta forma, os alunos de 5ª a 8ª séries foram deslocados para a escola Profª Heloísa Lemenhe Marasca. E algo de mágico aconteceu ali: apesar do preconceito e resistência  de alunos e professores no sentido de não aceitação da mudança da antiga escola, pouco a pouco o novo estabelecimento foi entrando pela alma de todos nós; possuía um  belo hino, o qual muitas vezes toquei ao teclado acompanhado do coro de vozes estudantis que homenageavam a pianista e compositora que emprestou seu nome àquela casa. E me lembro perfeitamente da primeira estrofe: “Esta escola que é afeto e alegria, traz um nome sorrindo na história. É de Heloísa Marasca a poesia que envolveu esta terra de glória.
Assim relembrando e às vezes tocando no piano de minha sala, hoje após doze longos anos, este hino me traz uma ponta de tristeza e saudade daqueles rostinhos felizes que enchiam de alegria as poucas salas de aula.
Nossa existência equipara-se a um livro onde escrevemos ano a ano, dia a dia as nossas histórias de vida. Muitas delas escritas com sacrifício e muito esforço no sentido de vencer a luta contra o relógio, a vida particular e profissional. Esforço sobre humano para vencer as perdas dos entes queridos levados para o infinito sem que nada possamos fazer... 
Mas a vida continua... O quanto cantamos “Ao mestre com carinho” ao som do violão, onde tentava passar o amor pelos mestres e o reconhecimento pelo seu caminho árduo e altruísta! Quanta tristeza, de repente ao ter que me despedir no meio do ano de 2000, sem terminar o que havia iniciado! Era a vida particular que pedia a renúncia ao sonho e início de nova etapa na vida.
E as lágrimas choradas com emoção por mim e todos os alunos no pátio da escola, na hora da despedida. Como esquecer a imensa festa que paralisou até as atividades do dia para a prestação de homenagens e despedidas a minha humilde pessoa, que não mensurava até aquele instante o quanto era amada e querida por todos...
Guardo até hoje com imenso carinho as lembrancinhas recebidas por todas as salas, nos ouvidos ainda repercutem os sons das melodias interpretadas pelos queridos discípulos: Amigos para sempre, Amigo e a tão ensinada: Ao mestre com carinho, em uníssono por todos agora dirigida a mim unicamente. Foram lágrimas de comoção, de amor ao trabalho e àqueles seres que apesar de muito jovens sabiam reconhecer a minha dedicação de educadora. Lembro-me ainda dos olhos vermelhos da aluna Marcela quando de mim se despediu, guardo ainda com o maior carinho a fita cassete da tele homenagem que ela me entregou onde  tudo foi registrado naquele dia triste de despedida.Também guardo na lembrança o rosto de Ana Amábile, cantando para mim e ainda tenho a fita de audio onde gravou com sua própria voz de ambos os lados a frase: "Eu te amo". Saiba que eu te amo também, minha querida.
Muitos anos se passaram, entretanto não há como esquecer tamanha comoção e troca de carinho. Nunca mais depois da mudança para a cidade de São Paulo, encontrei ou tive notícias desses alunos e professores da escola onde mais amei lecionar. A despeito de me aposentar  cinco anos depois na escola EE Maria José, na capital, já me senti aposentada naquele exato momento onde deixei a escola Heloísa Lemenhe Marasca onde aprendi a amar e fui amada.
Há dois dias atrás, tive uma surpresa maravilhosa, uma aluna desta escola me encontrou pelo Facebook e trocamos mensagens e após ela mais outros três também me procuraram e pude vê-los já casados, com suas famílias lutando pela sua sobrevivência como eu também lutei...
Como me emocionei com tudo isto...A semente que um dia lancei germinou, cresceu e reproduziu lindos frutos...E o sabor do reencontro mesmo que virtual é inexplicável. Traz o sabor da saudade num misto de nostalgia e alegria de saber que o amor é ainda o maior sentimento que pode existir e mudar o mundo...