sexta-feira, 23 de junho de 2023

As aparências enganam...

 


😞




Já diz bem o velho ditado. Os julgamentos que nos fazem muitas vezes, não condizem com a  realidade. Lembro-me bem, que por volta dos meus seis ou sete anos adorava frequentar a casa de três primas, porque gostava delas e de brincadeiras de meninas, afinal só tive um irmão e eles têm temperamentos e folguedos diferentes do sexo feminino. Minha memória é muito boa, todos dizem, mas acho que poderia ser ainda melhor. 

Certo dia, minha avó paterna chegou para minha mãe e disse-lhe que meu tio não gostava muito que eu fosse brincar com as filhas dele, pois eu falava muitos palavrões e as meninas estavam aprendendo esse linguajar pouco recomendável a pessoas de bem. Fiquei sabendo disso mais tarde, minha mãe não quis me contar, notei que ela não me deixava mais sair e brincar com elas como fazia dantes.

Entretanto, naquela época, realmente não costumava falar palavras chulas, era muito pequena, hoje, já não posso mais dizer o mesmo, a vivência, os dissabores e contratempos nos ensinam a desabafar e geralmente o uso desse vocabulário já não é tão reprimido.

Volto a afirmar que esse episódio da infância não me foi compreendido e até os dias de hoje, quase sessenta e cinco anos depois, me justifico com outra lembrança que me ocorre agora, nessas caminhadas da memória que não param de nos acompanhar na estrada da vida. 

Era uma menina irrequieta, que não parava um minuto sequer, adorava maquiagem e subir em árvores principalmente no nosso imenso quintal da rua José Bonifácio, 913, em Araçatuba, primeira casa própria de meus pais. À noite, meu maior prazer antes de dormir, era olhar a lua e as estrelas me questionando de onde viera tudo aquilo, sentada no pequeno muro que dava para a rua, quando um belo dia, um vizinho que contava com a idade de treze ou catorze anos, sentou-se no muro da casa dele ao lado e me perguntou se eu não queria brincar de soletrar. Aceitei o convite e lá estávamos nós a propor adivinhar as palavras que cada um ia soletrando a seu tempo.

Num dado momento, ele me perguntou que palavra era aquela que ele soletrou:

"P-i-c-a"

Na maior simplicidade, respondi:

-Pica! Mas o que é isso?

Não decorreu um só segundo e ouvi a voz de minha mãe enérgica, e a cara dela não era boa, me dizendo:

-Já para dentro!

Tentei argumentar o porquê daquela proibição, a brincadeira estava tão boa! Até perguntei o que era aquele nome e ela não me respondeu, dizia que tem coisas que crianças não precisam saber!

Muito tempo se passou para que soubesse o que aquela palavra significava, o que prova que não era tão expert assim em palavrório de rua como afirmavam que eu era...

Hoje, depois de tanto estudo, conhecimentos filológicos, vejo o quanto é besteira dar importância a esse ou aquele jargão, palavras, na verdade são vazias, o que importa é o conteúdo emocional que depositamos nelas.