a chuva, hoje, trouxe à memória um episódio ocorrido na minha infância...
O rei das capas
De saída daquele
inferno que é a Rua 25 de março, apesar da vantagem de ser um local que oferece
preços mais acessíveis ao consumidor, (principalmente se for professor de
escola pública como eu e que adora criar fantasias para peças teatrais), meus
olhos se detiveram por um momento através da grande janela do ônibus num
letreiro de loja que dizia “O rei das Capas”.
Rapidamente
penetrei o olhar para o interior do estabelecimento para tomar ciência sobre
que capas eram essas. Há muitas delas: para celular, computador, para máquinas
de lavar roupas... Certifiquei-me que eram capas de chuva e havia de várias
cores, embaladas em saquinhos que tomavam conta de todo o ambiente.
Imediatamente
vieram-me à cabeça, cenas da minha infância envolvendo esta questão.
Vínhamos com relativa frequência a São Paulo, embora não
morasse nesta cidade como hoje, e o motivo não era apenas visitas a parentes, porém,
tratamento médico, coisa não muito agradável.
Naquela época, a capital fazia jus a sua alcunha de “Terra da Garoa”, pois uma aguinha fina e
fria se fazia presente a todo tempo, a chamada “chuva para molhar trouxa” e
andando pela cidade, meu pai entrara em uma loja destas, não me recordo aonde, (vai
muito longe este tempo) e adquirira uma, argumentando que não podia me molhar
daquela forma, precisava de uma proteção.
O que não me
esqueci e nunca esquecerei é de que esta capa era de um azul bastante forte e
era aberta na frente trazendo botões transparentes.
Amei aquele
presente! Como me senti importante usando-a e quando chovia, já na cidade de Araçatuba
onde morava, fazia questão de exibi-la com orgulho como se fosse a peça mais
maravilhosa do planeta.
É linda a ilusão
infantil! Como nos envolve de uma magia que transforma as coisas mais simples
em verdadeiros tesouros!
E foi ele, meu
amado pai quem me presenteara com este mimo, sabe-se lá fazendo que sacrifício para
que eu me protegesse... Naquela época não era fácil comprar como hoje, não
havia tanta oferta de produtos como os “made in China” que apesar de malvistos,
resolvem os problemas dos menos favorecidos.
O que observo hoje,
com os olhos de adulto é a textura das mercadorias oferecidas antes, ao
consumidor: de excelente qualidade e talhe bem feito! Uma simples capa de chuva
conseguia ser bonita e elegante, tão durável que me acompanhara em boa parte da
minha infância, ao contrário dos dias
atuais, em que elas mais se assemelham a um grande saco plástico feito sem
cuidado algum, sem botão, sem nada, produzidas aos milhões e que duram uma fração de
segundo...
Remoendo essas
memórias que o tempo não conseguiu apagar, sinto saudades daqueles tempos, onde
a família tinha seu verdadeiro valor, os sentimentos eram sinceros e duradouros
como a capa de chuva que ganhei. Se possível fosse, resgataria todos aqueles
tesouros, traria de volta tudo o que já perdi com o passar dos anos...