sábado, 8 de agosto de 2015

Boa-noite, amanhã é o dia dos pais, mas daqueles que tudo fizeram por seus filhos sem esperar nada em troca. A todos eles, a mais sincera gratidão e afeto...



Falta infinita



Já senti a tua ausência na infância...Tal como hoje, a saudade já apertou meu coracãozinho infantil, que sofreu por longos trinta dias achando que havias me abandonado...
Nunca te relatei isso assim em vida, deveria tê-lo feito e explicado detalhadamente como digo agora e nem sei se podes ouvir ou sentir as minhas palavras entristecidas pela falta constante e rotineira que hoje, não posso mais mudar, por mais que deseje o contrário, que queira te ver entrando pela porta de minha casa com seu sorriso carinhoso, com a meiguice que caracterizava a sua pessoa.
Amanhã é seu dia, muito dos pais que são jovens e que ainda estão vivos serão homenageados, abraçados e presenteados...
Mas, quanto a mim e a vários outros infelizes,como poderemos compartilhar um dia tão importante como este?
Resta relembrar, reviver as reminiscências que por enquanto ainda perduram em nossa mente. Sobra-me o consolo de haver te honrado e respeitado enquanto viveste nesta terra de sofrimento e fugacidade... Pai, isso é gratificante quando muitos ofendem, ignoram, abandonam... Não posso dizer que tenha sido uma filha exemplar, muita coisa deixei de fazer por ti, e isso me doi muito, mas a vida tem suas veredas e na vida adulta, trilhamos estradas diferentes cada qual com seus espinhos,  suas flores, suas sombras.
Quantos filhos matam seus pais de desgosto ao escolher caminhos tortuosos e sombrios, acabando aos poucos com a beleza da paternidade!
Mas, voltando ao início, morávamos em Araçatuba, cidade pequena pelo fim da década de cinquenta, tinha então sete anos quando a mãe ficou doente, precisava de uma cirurgia e decidiu realizá-la em São Paulo onde havia melhores recursos. A reviravolta em nosso lar teve sua presença, cursava então o primeiro ano primário, hoje ensino Fundamental e meu irmão com três anos nem havia entrado na escola ainda...
Resolveram que todos iriam, ficariam na casa de parentes... Mas... Nada deu certo, muitas pessoas não gostam de receber em sua casa e, assim, depois de quatro dias, lá estávamos eu, você e meu pequeno irmão num vagão de trem de volta à Araçatuba.
Não disseste nada. Nada deixaste transparecer. Não percebi que no seu silêncio havia muita tristeza enquanto observava a paisagem já cansativa pela janela do trem.
Ao chegar, a casa da avó materna, a conversa em voz baixa enquanto a diversão e os folguedos nada deixaram perceber.
Deus, não sei, hoje forçando pela memória, parece que seus olhos teimavam em deixar cair as lágrimas que não rolaram. Ainda me lembro da pergunta:
-Pai, aonde você vai?
E a resposta curta:
-Vou no centro da cidade e volto logo... - e antes que manifestasse vontade de acompanhá-lo a complementação:
-Arranje seu material escolar para segunda-feira que você vai estudar na escola próxima daqui, por uns dias, até a mamãe voltar, querida! - percebi uma certa hesitação e melancolia enquanto me beijava e a meu irmão para logo ganhar a rua.
Fizeste mal, meu pai, agora te digo e de onde estiveres, saiba que foram longos dias e noites sofridos onde o pensamento de abandono calou fundo e acompanhou-me pelos piores trinta dias que já vivi em minha infância, sofrimento que só acabou, quando você e mamãe regressaram e me envolveram nos braços, no dia mais feliz da minha vida...
Esta falta volta agora com toda a força e constância. Sei que nada mais poderá te trazer de volta, nem de trem, nem de ônibus...Sei que jamais poderei te abraçar novamente e te presentear, e te abraçar e te beijar como dantes...
Isso machuca, machuca da mesma forma quando criança. A despeito das flores e das velas que acendo e que levam sua fumaça para os ares, das palavras de agradecimento que mentalizo, apesar da leitura dos salmos que repito todos os anos à sua sepultura, não consegui até o momento me conformar...
E não me conformarei, fique sabendo que o seu valor é imensurável, maior que todo o brilho do sol e das estrelas juntas. Você é, foi e será o meu grande amor!