Boa-noite a todos aqueles que apreciam
conhecer fatos históricos e investigá-los como
eu. Bem-vindos ao país
da Carochinha...
História virou
estória...
Não há coisa que mais incomode do que as
constantes reformas ortográficas periódicas, principalmente para aqueles que já
viveram o bastante para mudar o que haviam aprendido.
Creio que muitos da minha geração compreendem
o que quero dizer: tantos anos gastos em memorizar regras ortográficas, de
acentuação, como o saudoso acento grave nas palavras derivadas como cafèzinho,
pèzinho, por exemplo. Quem não se recorda?
Que dizer dos abundantes acentos diferenciais,
então? Parece que toda a palavra tinha acento para diferenciar de outra, tantos
eram os casos em que ocorriam: pêso para diferenciar de peso (é aberto); bôlo
para diferenciar de bolo (com ó aberto), côro para diferir de coro (verbo
corar, cujo o é pronunciado aberto)... E outros tantos milhares de casos.
Vocês podem até achar engraçado, mas não há
graça alguma em varar noites estudando para uma prova séria de português com
todos estes casos e subitamente constatar que todo aquele esforço foi por água
abaixo anos mais tarde.
O pior foi em relação aos pares de palavras
história e estória. Ai daquele que usasse os termos indefinidamente! Ficava
claro que o primeiro termo seria apenas uma menção a relato real, que realmente
ocorrera, enquanto que a segunda opção seria para denominar relato de ficção, da
imaginação de alguém.
Muito bonito, mas não se sabe por que cargas
d’água que repentinamente grafar história com h é a única forma correta. Talvez
por questões xenofóbicas ou políticas pela razão de os americanos possuírem history e story. Valha-me Deus! Isso não vem ao caso, o duro é verificar que
todo o sacrifício foi em vão.
Falando seriamente, e considerando os
significados que as antigas grafias encerravam, mudo de “pato pra ganso” colocando nestas páginas a indignação que invade meu ser ao ver as diferentes versões que vêm nestes tempos sendo imputadas aos fatos históricos do Brasil.
Quem não leu a magnífica obra de Orwell "1984", onde ele cita as mudanças que o Big Brother fazia efetuar nos fatos históricos, adaptando-os a sua necessidade política, manipulando seus funcionários?
Parece que tal fato está ocorrendo na contemporaneidade... Para certificar-se disto, basta apenas estar na faixa dos sessenta anos. Tudo o que estudamos em História do Brasil em nossa jornada escolar foi rigorosamente mudado: o descobrimento do nosso país, não se deu por calmaria como os historiadores afirmavam, ele já havia há muito tempo sido descoberto, foram arranjos políticos que o cederam a Portugal; D. João VI, o nobre português criador do primeiro Banco do Brasil, da Imprensa Régia, teatros, bibliotecas e tantas coisitas mais, atualmente é mostrado como débil mental, um insano vulgar...
O mesmo se dá em relação a Pedro I, seu filho, compositor erudito de mão cheia, autor do maravilhoso hino da Independência, que de súbito assemelha-se a inveterado pervertido sexual, fraco das ideias, incompetente...
Aprendi na escola primária (cujos ensinamentos hoje equivalem ao ensino médio atual) que na primeira frase do Hino Nacional: Ouviram do Ipiranga às margens plácidas (o termo em itálico era um adjunto adverbial de lugar) o que tornava o sujeito da frase indeterminado, e deixava implícita a ideia de que havia pessoas participando do ato. Atualmente, maravilhosos professores que têm resposta pronta pra tudo, nem fazem referência a este acento grave do a e o termo virou sujeito personificando a figura do rio Ipiranga, "as margens plácidas" vira sujeito da oração...
Isso soa como conspiração contra os lusos, significando que não havia espectadores no local... Apenas o rio ouviu, não houve revolução alguma. Já tive ímpetos de visitar a Biblioteca Nacional do Rio para constatar se há o documento original da letra de Osório Duque Estrada, mas desisti, achei que não vale a pena. Mas as novas versões continuam pipocando em todas as fontes modernas.
E o que dizer de Tiradentes? Nada do que se aprendeu nas antigas gerações é verdadeiro: o mártir da independência não nasceu mais em Vila Rica, São João Del Rei ou Rio de Janeiro... Há uma infinidade de informações que se contradizem (e olhem que não faz tanto tempo assim). Segundo novas e modernas fontes, nasceu em Tiradentes, cidade turística que atrai milhares de pessoas ofuscando a pureza e simplicidade de Ouro Preto, Vila Rica, ou São João Del Rei, como preferirem...
Contrariando documentos históricos guardados através dos anos no Museu da Inconfidência, como a sentença de morte de Tiradentes lavrada em juízo e assinada pela rainha, D. Maria I, as partes do corpo do herói foram penduradas no caminho do Rio de Janeiro à Minas Gerais e não na praça Tiradentes ou nos postes de Vila Rica como antes se ensinava e o documento registra.
E, ainda, para pasmar geral, alguns afirmam que ele não foi enforcado, contrataram um artista para representar o fato, sem contar que há filmes de diretores brasileiros mais ousados que mostram Tiradentes como um verdadeiro louco que não apresentava condições para liderar um movimento como a Inconfidência. Da mesma forma, o tal cineasta oferece a imagem de um Tomás Antonio Gonzaga irreverente e ridículo que grotescamente grita seus versos a Marília mais preocupado em sua vaidade e narcisismo do que em seu amor.
De modo que fica ao critério e ao ponto de vista do estudioso; se ele for mais "vivido" há como contestar; se for jovem, aprenderá o que se lhe apresenta no momento. Vive-se assim um momento perigoso e muito fraudulento contra a sociedade.
E para os pouco céticos, (os pouco questionadores ou crédulos), que acreditam em tudo o que leem nestes tempos modernos, registro aqui meu pensamento que deve ser respeitado, afinal, estamos num momento democrático ou não?
Com toda esta profusão de contradições, chego a uma conclusão e, peço aos professores de história que me perdoem, não há mais necessidade de que esta disciplina faça parte do currículo escolar, não é justo exigir que se aprendam “estórias” e em nome delas se reprove alguém. Não existe mais história. Tenho dito!