quarta-feira, 2 de novembro de 2022

 Saudade é a palavra em que se resume o dia de hoje...








SAUDADE...




Sentada em frente a esse ecrã, ao som de pérolas musicais de um passado distante, entretanto, vivo,  presente em meu ser, sinto  mil coisas passarem pela minha cabeça... Lembranças infinitas de coisas e pessoas que já não estão perto de mim; algumas muito especiais, que se foram, mas deixaram um exemplo magnífico como lição de vida aos pobres coitados como nós que ainda carregamos cada qual a sua cruz pelos caminhos da existência; quantas decepções sentidas ao peso dos anos que não podemos mudar, divergências   que nos conduzem ao sofrimento,  frente à  discordância de opiniões, levando muitas vezes ao erro, à má interpretação e até à morte ... 

Quantos se perderam por caminhos incertos da vida, uma grande parte desistindo ou entregando-se a eles. A grande questão é como saber viver. Não nos faltam fórmulas mágicas em mensagens de texto e obras musicais lindas, contudo impraticáveis como regra geral. Entretanto, cada um  sabe quais são suas preocupações e tentamos da melhor maneira nos adaptar e procurar mitigá-las como podemos.

Amigos são poucos com que podemos contar, as barreiras do tempo e do espaço efetuaram seu papel na ação do distanciamento, até mesmo irmãos afastaram-se no afã de cuidar da própria família, restando apenas uma saudade infinita de tempos que não voltam mais. Choramos os mortos, lamentamos nossas perdas, sabendo que um dia também, espera-se que alguém se lembre e chore por nós.

Por que todo o dia de finados nos leva à reflexão existencial? É um dia deveras melancólico que, obrigatoriamente nos conduz a um balanço de nossas atitudes, abrindo caminho para que possamos mudar algumas delas ou, mantê-las. Só posso dizer que tudo se resume em Saudade! Uma preciosa palavra que não existe pelos inúmeros idiomas com essa precisão do termo em Língua Portuguesa...

Saudade  de momentos  de liberdade de expressão, o que realmente não mais existe; todos se calam por medo de coação, de atraírem para sua vida perdas de uma sobrevivência mais tranquila financeira e mentalmente, porém menos felizes! Isso porque se afirma que vivemos em uma de-mo-cra-cia. Leda ilusão! hoje, o debate mais acalorado e sincero é definido como "discurso de ódio", poderia ser assim intitulado: " Cale-se, não tente convencer seu interlocutor sobre a realidade, do contrário..."

Saudade de uma discussão saudável em todos os setores da sociedade, diálogo que levava a soluções e, apesar disso,  conservação da amizade, sem o medo de precisar calar-se ou expor opinião ante o risco  de ser excluído, cobrado pelos donos da verdade! 

Saudade de quando a fraternidade entre os homens não permitia a presença de psicólogos, racismo, homofobia, peconceito, estereótipos entre tantos outros termos ofensivos que são debatidos hoje momentaneamente. 

Saudade dos tempos livres da infância e da juventude, quando a vida era um sonho colorido pincelado com a amizade e amores juvenis!

Saudade de poder viver livre de limitações físicas e mentais, saúde percorrendo todo o corpo até a ponta dos dedos!

Saudade de instituições educacionais que  formavam cidadãos de bem e não se detinham em projetos de vida insanos e utópicos em detrimento de conhecimentos básicos, aplicáveis à vida prática e desenvolvimento cultural verdadeiro nos campos da  arte. É óbvio que se chegamos a esse ponto da necessidade de conduzir crianças e adolescentes a construírem seu próprio caminhar pela vida é pelo motivo de que tudo desmoronou: os alicerces familiares, responsáveis pela formação do caráter dos filhos, desagregando a convivência de todos através de constantes separações, excesso de liberdade, didática dos meios de comunicação de massa,  paternidade e maternidade irresponsáveis, falta de respeito e ética...

 Ao mesmo tempo o estado, manipulador de opiniões, conta com o auxílio de meios de comunicação insensíveis aos reais problemas do ser humano, vivendo vergonhosamente do poder e dinheiro gerado pelas suas ações. Nunca na vida convivemos com tanta vulgaridade, corrupção e anticultura aliadas a falsas informações de grande parte da mídia, a real  responsável por tais atos e que aponta seu dedo acusador para quem não merece.

Saudade de tempos em que não havia tanta jurisprudência na área judicial, desviando-nos da Constituição e de direitos adquiridos por todos, incluindo aí os profissionais, familiares e sociais.

Fala-se da aversão à censura, porém extrapola-se na libertinagem e mau exemplo oferecido a crianças e adolescentes em mensagens indesejáveis no conteúdo  de novelas, filmes, numa tentativa velada de formar cidadãos com desvios de personalidade e por que não dizer, até intromissão na decisão da naturalidade dos fenômenos físicos e mentais esperados de um ser humano em desenvolvimento saudável.

Saudade de quando os profissionais poderiam agir livres, sem imposição de medidas, ou condicionados ao controle de seu  trabalho no momento histórico-político em que vivem sob o perigo de perder seu emprego e,  até em muitos casos, ser preso por agir livremente, pela sua autenticidade e senso de justiça!

É amigos, quando se vive o bastante, chegamos a muitas conclusões, porém não contamos com o respeito e a admiração dos mais jovens, que, infelizmente, veem na velhice insanidade, demência, inutilidade; coisas do mundo ocidental... Apenas o novo importa: roupa e de preferência de grife, bens materiais que lhes deem status social, pessoas para relacionamento, novos países, novas viagens e novas experiências! 

Filhos são para o mundo, ouvimos em altos brados e com isso eles se vão de nós, perdem a nossa convivência e lá estão a sofrer pelo mundo afora, longe de nossos conselhos e orientação quando estamos em plena  maturidade necessária para tanto... Seria cruel dizer "Filhos são para o mundo e os pais para as casas de repouso da vida quando forem um estorvo para eles?

Finados, resumiria Olavo Bilac na frase célebre: Saudade, presença de ausentes" e eu complementaria: "e de tudo que se e foi e que não pode mais ser resgatado..."