terça-feira, 14 de maio de 2013


O Realismo- Naturalismo apresentou temas polêmicos que não poderiam ser cogitados em outras épocas onde toda a literatura e  ação passavam pelo crivo da Inquisição. Com a perda do poder do clero, houve maior liberdade em se expor e disseminar as podridões que eram guardadas a sete chaves...






O CRIME DO PADRE AMARO – ÚLTIMA PARTE


Essas cenas de visitas de Amaro à  casa de tio Esguelhas, a saída regular do velho para deixar Amélia e o padre a sós, acabam por despertar na filha do velho um horror e um terrível ciúme de Amélia ao vê-la subir ao quarto com Amaro e numa das visitas que o cônego Dias faz à paralítica ela lhe conta tudo o que vê, das idas ao quarto, dos beliscões que o padre dá em Amélia e de toda pouca vergonha que ela ouve do seu quarto. Perante tal relato, o cônego Dias sente ímpetos de matar o padre e vai ter uma conversa com ele tentando pôr tudo em pratos limpos. Amaro reage e se defende jogando-lhe na cara o seu romance com a senhora Joaneira,  ameaça-o e acabam entrando num acordo.
O tempo passa. Numa certa manhã, Amaro procura desesperado o cônego Dias, Amélia estava grávida. Juntos tentam descobrir uma saída e planejam casá-la com o seu antigo pretendente, João Eduardo, enquanto a gravidez estava de apenas um mês. Propõem a solução à Amélia que, a princípio chora e reluta, mas depois acaba aceitando, o que causa uma certa crise de ciúme em Amaro deduzindo por si próprio que ela gostou da ideia de trocar de amante. A criada de Amaro sabe de toda a sua vida, antes ela fora prostituta e  o orienta a procurar uma mulher que servia de ama às crianças que não eram benvindas  e ele se interessa, deixaria seu filho com essa ama assim que nascesse, dessa forma não despertaria suspeita.Assim, ele e o cônego vão arquitetando todo o plano para afastar Amélia de Leiria: Dna. Josefa, irmã do cônego, tivera uma pneumonia e precisava restabelecer-se no campo, longe da cidade e necessitava de uma acompanhante, essa seria Amélia que com esse pretexto fugiria dos olhares curiosos de Leiria. A mãe de Amélia foi facilmente convencida pelo cônego, difícil foi convencer Dna. Josefa que não queria aceitar o fato de servir de ajuda indireta a uma vagabunda, como ela dizia, que engravidara de um homem casado, com certeza...Tudo decidido, Amélia segue viagem para Ricoça, um lugar distante onde passa o pior período de sua vida, vendo sua gravidez decorrer sob insultos e humilhações de Dna. Josefa, num tristeza sem fim, sem o amparo do padre que sumira e este era outro motivo das lamentações de Josefa que o considerava um santo a serviço de Deus que a abandonara porque ela foi para aquele fim de mundo por causa de uma mulher qualquer...E assim, a moça definhava dia a dia, aguardando o nascimento daquela pobre criança inocente que não tinha culpa de nada. Por essa época, Amélia conhece o abade Ferrão, um religioso cuja retidão de caráter era singular. A moça conta-lhe tudo o que lhe aconteceu e ele não se conforma com a tremenda falta de dignidade de Amaro. Durante as confissões, a orienta e consola, aconselhando-a a aceitar um possível pedido de casamento de João Eduardo que voltara à Leiria e estava bem empregado e com situação financeira estabilizada. Amélia vê na figura do abade um pai e passa a odiar Amaro que aparece uma certa tarde para fazer-lhes uma visita. É claro que ele não deixa nada transparecer à Dna Josefa, no entanto o desprezo da moça o irrita profundamente. Nas duas visitas que lhe fizera a atitude fora a mesma e ele resolve não mais aparecer por ali. Num encontro que tem com a mãe da Amélia justifica a falta de notícias da moça pela falta de tempo ao cuidar de Dna. Josefa. Retorna à Ricoça  e Dna Josefa lhe revela a respeito das confissões de Amélia com o abade rotulando-a de traidora por mudar o seu confessor. Enquanto ela fala, o padre fica pensando, temendo que ela tivesse contado tudo a respeito dele. Passa a odiá-la e a  desejar que a criança nasça morta, assim como a mãe, pois acabariam assim todos os seus problemas e ameaças a sua profissão. Passa a tratar a moça com indiferença, ouvira certa vez que esse argumento funcionava, usa-o e Amélia se joga novamente em seus braços num momento de carência e fragilidade da gravidez. Por sua vez, quando a moça tem o bebê, ela nem o vê; Amaro tenciona entregá-lo  a uma mulher que matava recém-nascidos indesejados, porém, arrepende-se quando o pega nos braços e dá dinheiro à mulher para que cuide dele.
Triste é o fim de Amélia que desespera-se quando não vê o filho, depois de tão longa e sofrida espera. O abade Ferrão  e o médico, Dr Gouveia tentam amenizar a situação, entretanto o sofrimento da moça aumenta e ela passa a ter convulsões que acabam por levá-la à morte.Amaro recebe a notícia da morte de Amélia com desespero, o remorso o corrói, ele tenta resgatar a criança com a ama a quem a entregara, no entanto ela lhe diz que a criança estava fraca e não resistira.
Desolado, arrependido pela insensatez que causara a morte de dois inocentes ele se retira para Lisboa, alegando a morte de um irmão, o que lhe vale uma licença. Antes de partir dá dinheiro para o enterro do anjinho cuja morte era o responsável indireto. Quanto à Amélia é enterrada em uma cerimônia triste, longe da mãe e dos amigos. O único amor fiel segue seu funeral entre lágrimas, João Eduardo que após sua morte vai definhando até ser acometido por uma tuberculose que também leva sua vida.
Passa-se algum tempo após esses tristes acontecimentos. Amaro agora em Lisboa encontra-se com o cônego Dias e comentam os últimos acontecimentos durante o Massacre dos Comunas, uma revolução socialista que reivindica igualdade de direitos entre os nobres, clero e trabalhadores, lamentando os fuzilamentos de padres e autoridades por socialistas e republicanos. Por incrível que pareça os dois padres, Amaro e o cônego, ainda se acham vítimas inocentes das calúnias e  não merecedores de tanto desrespeito...
Amaro e o cônego encontram-se ali com o conde de Ribamar (marido da filha da marquesa para quem a mãe de Amaro trabalhava) o responsável pela sua nomeação em Leiria. Segundo o conde, as revoluções acontecem e de nada valem, pois tudo volta a ser como antes, ninguém mais falaria em democracia ou república, sequer teriam  olhos para o mundo de pessoas miseráveis e famintas e ainda reitera que o povo é privilegiado, pois tudo corre as mil maravilhas...

PRINCIPAIS PERSONAGENS DESTE LIVRO:


Amélia e Amaro – protagonistas do romance.
Marquesa de Alegros – mulher para quem a mãe de Amaro trabalhava, financiou seus estudos para padre.
Joana Vieira -  mãe de Amaro, criada da marquesa.
Dna. Luísa – filha mais velha da marquesa.
Tio de Amaro – merceeiro rude e mau que maltrata o menino Amaro e o põe cedo para trabalhar.
Conde de Ribamar – casado com a filha mais velha da marquesa, arruma a colocação para Amaro em Leiria.
Padre Silvério – de Leiria, gordo, preguiçoso.
Padre Natário – de língua ferina, vivia blasfemando e odiava todo o mundo.
Cônego Dias – amante da Sra. Joaneira, mãe de Amélia, melhor amigo e confidente  de Amaro.
 Padre Miguéis – grosso como um aldeão, de maneiras impolidas, arrotava no confessionário.
Padre Gusmão -  falso, de maneiras estudadas para agradar às beatas.
Libaninho – beato,não saía da igreja com jeito afeminado, não assumido.
Dr Godinho – um puxa-sacos que não se definia politicamente, dono do jornal.
João Eduardo – apaixonado por Amélia, o amante  perfeito, aceitava-a de qualquer maneira.
Ruça – criada da Sra. Joaneira, sofria de tosse crônica, era magra e tísica.
Dionísia – criada, prostituta, trabalhava para Amaro.
Abade Ferrão – o único padre honesto do romance que realmente acreditava em Deus e fazia o bem às pessoas.
Dona Josefa – irmã do cônego Dias, mulher de falsa moralidade que julgava a tudo e a todos segundo sua crença.
Dna. Maria Assunção – outra beata que não saía da barra dos padres.
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