domingo, 19 de janeiro de 2025

 Tudo por dinheiro







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É uma frase célebre, que representa fielmente o mundo em que hoje vivemos. Não querendo puxar sardinha para a lata dos que hoje são cidadãos e cidadãs mais vividos, para não dizer mais velhos, a corrida pelo dinheiro ocupa lugar principal na cabeça dos seres humanos atualmente.

Não foi à toa, que todos os tipos de mídia e meios de comunicação vieram construindo nomes, marcas que foram adquirindo força no mercado e prestígio inigualável enquanto outrora, antes da camiseta e das calças jeans, homens e mulheres vestiam-se elegantemente com trajes sociais costurados em casa ou por profissionais da costura, mostrando a diversidade de gostos que nunca se repetiam na indumentária humana. Era impossível ver alguém exibindo uma T-shirt repleta de frases em inglês ou outra língua, fazendo propaganda ambulante de grifes  famosas, tal qual mencionou Drummond ao escrever o fantástico poema Eu, etiqueta, a  que todos tinham a obrigação de ler e acatar sua mensagem, pois a partir do final do século XIX somos mesmo divulgadores de marcas que a cada momento crescem e expandem seus lucros no centros comerciais. Ora, os jovens são fácil e emocionalmente levados por esse turbilhão de propagandas e campanhas de publicidade que conduzem a uma identidade falsa, que, no entanto, traz prestígio e valorização na sociedade.

O jeans chegou com  força total no final da década de 70 no Brasil, reforçando a ascensão de países ricos que já começavam a impor uma cultura que iria se solidificar ao longo dos tempos. Dificilmente veremos algum ser vivente que não usa um blue jeans ou outra cor dessa roupa tão comum nos costumes do mundo todo.

E além disso, muitos outros hábitos foram se incorporando; atrizes famosas exibindo pele de louça através de maquiagem e cosméticos; calçados de grifes poderosas com que todos sonham e dão seu sangue para adquirir; celulares cada vez mais eficientes e inalcançáveis, medicamentos que prometem, por um preço exorbitante; alimentos mágicos capazes de verdadeiros milagres de beleza e saúde, enfim, são tantos os produtos, que precisaríamos de milhões de páginas para mencioná-los, e agora, poucos seres pensantes sabem que tudo é por dinheiro, nada mais do que isso, e ficou muito fácil convencer, uma vez que as pessoas já se tornaram pouco críticas, conduzidas e tangidas pela mídia como um gado obediente e desalmado que valoriza apenas a aparência física em seus pares, pouco se importando com a essência, o valor que realmente importa no relacionamento humano.

Causa um certo desconforto, e por que não dizer, nojo, quando se verifica que certos homens e muitas mulheres analisam o modo de se vestir, quanto a marcas e grifes, perfumes, joias, celulares, bolsas e outras coisitas mais durante encontros sociais, evitando relacionamento com aqueles ou aquelas que não seguem a corrente; a maré podre, que faz com que verdadeiras flores se murchem,   que belas pérolas percam seu brilho.



terça-feira, 3 de dezembro de 2024

 

Foto da estação ferroviária de Guararema


Lembranças agradáveis



Guararema é um cidadezinha encantadora do interior da cidade de São Paulo. Já me acostumei a passar por lá em incontáveis feriados ou fins de semana. Parece que a cidade foi desenhada e decorada pelas mãos de um arquiteto cuidadoso, caprichoso na criação e extremoso em sua manutenção. Não é à toa que é considerada uma cidade turística, banhada pelo belo Rio Paraíba do Sul.

Em cada canto ou esquina, uma surpresinha agradável: os quiosques rodeando o rio cheio de lojinhas e lanchonetes; o vetusto pau d'alho ornamentado a seus pés por cinerárias e florezinhas coloridas; as inúmeras sorveterias tão bem decoradas, ou ainda, a Ilha Grande, exibindo sua amostra de mata Atlântica, porto seguro das capivaras, peixes e outros animaizinhos silvestres que fazem de lá o seu lar.

Da  última vez em que lá estive, ao estacionar o carro ouvi nitidamente os sinos da igreja Santo Antônio a repicarem, seguidos de uma triste melodia, a Ave-Maria.

Contemplativa como sou, senti a harmonia da música em sincronia com o céu puro e azul, a leve brisa matinal balançando a copa das delicadas árvores ao redor. Enquanto as tristes notas musicais da Ave-Maria de Gounod, penetravam pelos meus ouvidos, minha mente viajava passeando por memórias nada alegres, por instantes de angústia e dor, pelos quais todas as pessoas passam nessa vida atribulada.

Caminhando sempre, já  não ouvia com nitidez a música e sim o apito forte da Maria Fumaça, uma bela locomotiva centenária americana a puxar vagões representando a época, lotados de turistas que chegavam da viagem.

Enquanto visitava o pequeno museu ferroviário, numa sala adjacente à bilheteria, aquele apito e a visão da louçaria, principalmente os pratos e talheres que prestavam o serviço nos restaurantes do trem antigamente, me conduziram aos meus tempos de menina, que olhava com admiração e devorara os pratos de macarrão com paladar infantil que a tudo aceita e gosta.

Apreciei também as antigas peças dos trens de outrora com olhos de adulto que compreendem melhor o funcionamento das máquinas, o que leva embora a magia e o encantamento resultado da ignorância e inocência do olhar de outrora, que a tudo via com admiração.

Infelizmente, as horas passam, chega a hora de voltar pra casa, entretanto, as memórias ocupam um belo espaço, transformando-se em lembranças que nos farão companhia e estarão presentes sempre que quisermos resgatá-las. 

domingo, 11 de agosto de 2024

De onde você estiver...

 Hoje é um dia muito especial para mim, carregado de lembranças bem vividas, de recordações infinitas que me enchem de lições aprendidas com ele que, infelizmente não se encontra mais perto de mim...


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Pai, esta é a minha oração de hoje que lhe dedico nesse dia dos pais e lamento em toda essa data a sua perda, a falta da sua proximidade e cumplicidade para com a minha pessoa. Como é bom ter um pai amigo, sempre sorridente e disposto a ajudar como foi você. Quando digo que me deixaste lições de vida, ponho de lado toda a menção a bens materiais que uma criança pode receber, como conforto, brinquedos e outras tantas coisas mais desse tipo, que não fazem parte da paz espiritual, do carinho e apoio paternos, sempre presentes, que nunca me faltaram, apesar de sua profissão envolver viagens semanais para trazer o bendito pão de cada dia, recursos financeiros para manter uma boa alimentação, educação  que são valores inestimáveis, incalculáveis para o futuro de uma criança.

Sei também e te peço perdão por não ter tido a possibilidade de te oferecer tudo o que me proporcionou, com a mesma dose de carinho, intensidade e comprometimento que me ofertou. A vida é fugaz, traiçoeira e quando menos esperamos leva de nós tudo o que amamos como um pôr do sol, um temporal, um alvorecer... Tudo se acaba, compreendemos tarde demais que não deveríamos deixar nada para amanhã, para depois, para daqui a pouco...

Lembro-me de tantas vezes que ríamos juntos nos nossos encontros de Natal, até mesmo quando ouvia atenciosa as histórias lindas que me contava e que várias vezes me arrancavam lágrimas dos olhos pela emoção que havia em suas narrativas, Hoje aqui, órfã de tua presença ponho-me a indagar o porquê daqueles contos , tão tristes e tão verdadeiros, carregados de emoção que me faziam chorar mesmo depois de adulta.

É meu pai, tua morada hoje não é nesse mundo, até a lápide fria deixei de visitar com a frequência de dantes no pequeno cemitério de Arujá, depois que vi que o tempo me levou também a sua presença material para um frio ossuário localizado no muro daquele campo santo... Me chateei com isso, mas refletindo, nada seu existe ali, nada daquele ser harmonioso que só me trazia paz, segurança e felicidade... 

Não sei de verdade onde você se encontra: fico na dúvida entre acreditar em uma vida eterna que traria conforto espiritual e esperança em te rever um dia,  a reencarnação em que muitos creem e que de certa forma nos afastaria, uma vez que estaria vivendo outra realidade, outra faceta da vida humana, distante da família que fomos um dia, do companheirismo e amor mútuo que trocamos durante 37 anos e convivência, ou o nada assustador e insuportável  que nos grita por dentro que a morte é o final de tudo, a cortina negra insuportável que se cerra para sempre,  e que grita em nossos ouvidos: acabou!

Você se foi cedo, para mim, nem que deixasses essa vida por um século seria compreensível e aceitável a sua ausência.

Não consigo entender por que muitos filhos se afastam de seus pais, até os odeiam, aconselho que vivam e os amem, pois a falta que  nos fazem é absurda e o pior, o mundo não gira em sentido anti-horário...

Pai, só sei que estou aqui, refletindo solitária nesse dia tão importante que deve ser comemorado com seriedade e alegrias, mais uma vez peço perdão por não ter aprendido com você uma única lição, embora tanto tenha batalhado para que eu aprendesse: a crença segura na existência da alma, na existência de um Deus que acolhe todos os que se vão dessa vida material para um plano superior que voltam a reencontrar seus entes queridos e viver para sempre junto deles...



terça-feira, 30 de abril de 2024

A uma rosa

 Castro Alves,  grande poeta do Romantismo brasileiro,  imortalizou-se com seus poemas e um deles, muito belo é o intitulado: "A duas flores". Se o amigo leitor aprecia poesias, há de se lembrar da primeira estrofe:

"São duas flores unidas, são duas rosas nascidas, talvez no mesmo arrebol. Vivendo no mesmo galho, da mesma gota de orvalho, do mesmo raio de sol..."



Imagem própria


Só mesmo uma alma romântica é capaz de dedicar um poema inteiro a duas rosas. Num momento como o nosso, esse fato nem é mais admirado, sequer visto e valorizado como merece.

"Apenas uma flor, não tem nada demais nisso" é o que ordinariamente se ouve.

Entretanto, estou inserida naquele contexto panteísta e gracioso que valoriza a natureza, seus milagres, sua imensa beleza, tentando reunir palavras que traduzam a importância que alguns fatos podem trazer a nossa vida e ao nosso estado de espírito.

Foi o que ocorreu há dois dias na sacada de meu apartamento. Havia quase um ano que em meus passeios de bicicleta pelas praças próximas à Avenida Braz Leme, trouxera uma muda de roseira. Por sinal, trazia várias rosas, enxertadas, pois apresentavam duas cores: champanhe e rosa. De princípio, já sabia que replantando aquela espécie, suas flores teriam apenas uma cor: champanhe ou rosa. Muitas coisas aconteceram durante esse período que a plantei: fiz seu próprio vaso de cimento, adubei, plantei. O primeiro botão não vingou e logo presenciei sua queda com pesar, constatando o ataque de uma praga que combati ferozmente. Após a primeira poda, me surpreendi com três botões fechados que eram exibidos em três galhinhos diferentes. Meu entusiasmo aumentou, ao invés de apenas uma, teria três flores! 

Minha alegria foi impactada quando percebi com tristeza que dois dos botões tinham caído, porém não encontrei vestígios deles como da outra vez... Imaginei que algum inseto poderia estar comendo as flores, passei óleo mineral, em cada folha e no próprio botão que restara.

E finalmente, eis que com orgulho recebi o maior presente da semana: a rosa se abriu e era da cor champanhe, maravilhosa, uma verdadeira mágica da natureza!

Não tenho as duas rosas como no poema de Castro Alves, mas tenho um tesouro único, capaz de encher meu coração de alegria e júbilo, e o melhor: tenho a possibilidade de rever muitas outras na nova temporada de rosas...




quinta-feira, 14 de março de 2024

"Não é feliz quem pensa no passado"

 








Vi essa frase em uma mensagem de um conhecido livro de meditação. Nele, a informação de que coisas passadas nada constroem. Como diz o velho ditado: Águas passadas não movem moinhos."

Complementando, o texto trazia a informação de que não é tão importante saber sobre a vida dos pais, dos avós e daqueles que já se foram, porque o momento é o agora; o presente cria o nosso amanhã.

Concordo com a última parte, não podemos viver apenas do passado, e acredito sinceramente, que a menos que uma pessoa seja  afetada por uma patologia, isso possa acontecer. E se ocorrer, esse indivíduo estará inapto a viver em sociedade, realizar seu trabalho, conviver sadiamente em grupo e até mesmo contribuir de alguma forma em prol da humanidade, uma vez que vive anacronicamente na maior parte do tempo.

Entretanto,  discordo de que devamos não dar importância ao que aconteceu ontem e há muito tempo atrás: temos, eu diria, o dever de conhecer o passado de nossos pais, avós, fatos  e pessoas cujo pretérito foi relevante socialmente, até como uma forma de adquirir e difundir cultura, informação, conhecimento. Somos o que fomos e como poderemos ser, se não conhecemos esses detalhes?

Como ignorar estudos e investigações valiosas que irão contribuir sobremaneira para o nosso presente e futuro?

O que seria então dos estudiosos que se debruçam por horas com o  intuito de construir sua própria árvore genealógica, deslocando-se inúmeras vezes de cidade, do seu estado e até do seu país, movidos pelo desejo crescente de cada vez mais conhecerem a sua essência.

E o que dizer dos historiadores que vasculham fatos ocorridos há séculos para trazer informação e compreensão a um público que não viveu nessa época. Digo mais: cada um de nós tem a obrigação de pesquisar esses momentos distantes no tempo e no espaço, principalmente no momento atual, em que o falso substitui o real assustadoramente a cada dia, a cada minuto. 

Ao viajar, conhecer museus, obras de arte, constatar o que documentos vetustos, mas repletos de verdades revelam no amarelado do tempo. Recordo-me agora da sentença de morte de Tiradentes, exposto no Museu da  Inconfidência em Ouro Preto: "Sua casa será salgada para que não cresça ali nenhuma planta, será enforcado em praça pública, o corpo será esquartejado e suas partes colocadas nos postes de Vila Rica", contrariando as informações que nos passam atualmente de que o corpo foi exposto nos caminhos do Rio de Janeiro, e que Tiradentes não foi enforcado, um ator representou a cena... Qual das informações será real? A página amarelada do tempo em um documento e a caligrafia impecável do século XVIII, o sinete do rei, a assinatura? É óbvio que falam muito mais... É de extrema importância que estejamos atentos a isso.

O que dizer então de pessoas como eu? Apesar de adorar a vida e seu momento presente, cuidadosamente fiz meu livro de vida construindo ou reconstruindo-a por infinitos momentos: de alegria, de orgulho, de satisfação e de pesar, por que não? Se isso faz e ocupou parte de nossa vida? Revelo aqui que elaborei três livros de vida ou álbuns de vida de cada fase vivida... Livro 1, da infância à vida adulta; os namoros, amores, os amigos, a escola... Fatos relevantes, documentos, cartas, cartões postais, de Natal, casamento... E me foi muito útil, hoje na idade madura, além de me trazer o prazer da recordação, o reviver de emoções, comprovou fatos que ajudaram a construir a aposentadoria, uma vez que sempre guardei tudo e era tachada como "acumuladora". Agora os caprichados scrapbooks causam inveja em quem os vê... Só quem registra suas memórias sentirá o prazer que sinto em compô-las, lê-las, reviver fases que nunca mais voltarão, pelo menos nessa vida. 

O livro dois trata apenas de momentos na profissão, prendas e mimos em cartões, cartas de alunos que me causam júbilo e me ajudam a valorizar o que construí.

O livro três será de momentos inesquecíveis com os filhos, viagens, curiosidades até a aposentadoria e vida atual e está ainda em construção.

Só temo do que acontecerá com eles, se eu me for... Haverá alguém que os conserve, ou serão encontrados em algum local? Talvez sejam aproveitados por uma alma sensível como a minha...

Sou obrigada a discordar do autor do texto de meditação por esses e por inúmeros outros motivos que não me é possível registrá-los na totalidade aqui.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

A duas cruzes

 Boa-noite, caros leitores. Essa crônica de hoje nasceu da curiosidade, da alma inquieta que sente vontade de saber sobre tudo o que ocorre e ocorreu em algum instante da vida...





Passo de carro pela Rodovia dos Romeiros já há bastante tempo. Elegemos essa autoestrada como ponto obrigatório de muitos passeios de sábado. Andando por ali, sei da intensa luta do rio Tietê contra todas as intempéries e maus tratos a que o seres humanos o submetem, como a intensa camada de espuma branca que polui suas águas outrora límpidas e claras; os esgotos que nele são insanamente despejados de forma constante, resultando na eutrofização de seu líquido precioso, favorecendo a aparição das inocentes, mas ameaçadoras algas verdes que destroem o seu oxigênio, causam mau-cheiro e morte de peixes e animais fluviais. Vejo também, que  muitos trechos do curso já foram perdidos por esse processo, exibindo água podre, grossa e estagnada, aos poucos perdendo a guerra da sobrevivência para a imensa quantidade de igarapés que teimam em barrar seu caminho. Chego a me indignar muito com essa causa,  os homens estão brincando com algo muito sério e um dia em breve, não mais adiantará o arrependimento, todos sentirão na pele as consequências desse descaso para com a natureza.

A estrada,  um verdadeiro paraíso que culmina próximo das cidades de Itu e Salto é um verdadeiro milagre da natureza ainda em festa. Rodeada de  Mata Atlântica, exibe vegetais de porte alto, nas duas margens do rio, fornecendo sombra abundante e amena por todo o percurso; bambuzais imensos, eucaliptos vetustos e elegantes. 

Pelo motivo de ser muito estreita e pouco movimentada, a rodovia é palco dos ciclistas que fazem seu treino ordinário, além de motos, romeiros em época de festas religiosas responsáveis por dificultar a passagem dos carros por conta da enorme quantidade de cavalos, burros e charretes. Por volta da quaresma, muitos cumprem suas promessas carregando pesadas cruzes, sacrificando-se para agradecer ou pedir uma graça até chegarem ao santuário da pequena cidade de Bom Jesus de Pirapora.

Vou relembrando com relativa facilidade tudo que vejo por aquele caminho; a gruta em uma das margens, as fontes de água natural, a pequena  capela e  a sala de velório próximo à cidade de Cabreúva. Ouço por vezes quando paramos para um lanche, o canto nítido dos pássaros, o rumorejar agradável das águas do rio, o canto estridente das cigarras, proporcionados pelo silêncio da estrada.

Entretanto, no último sábado, meus olhos fotografaram algo que nunca tinha visualizado naquele caminho: duas cruzes  relativamente pequenas, branquinhas, posicionadas simetricamente uma junto da outra. No mesmo instante, deixei de observar a natureza para divagar involuntariamente em pensamentos instigados por aquelas imagens. Pessoas tiveram ali, naquele local, suas vidas interrompidas, por um acidente, provavelmente. Dificilmente vemos veículos de grande porte, apenas pouquíssimos ônibus e caminhões trafegam. As curvas são acentuadas, sinuosas, à esquerda e a direita,(vou relembrando o que significa cada uma das placas), perigosas se usadas com abuso de velocidade, teria sido esse o motivo das duas mortes? 

Muitas vezes, deparamos com animais de grande porte como cavalos à margem da estrada a pastarem tranquilamente, irresponsabilidade de seus donos que despreocupados e negligentes concorrem para que catástrofes certamente aconteçam... Teria sido essa a causa das duas cruzes? O local muitas vezes durante temporais é inundado pelas águas revoltas do rio que parece se vingar da humanidade; há desmoronamentos, quebra de asfalto, quedas de árvores, que hipoteticamente teriam encurtado o tempo daqueles dois pobres seres, que poderiam ser um casal de jovens apaixonados, ou velhos sonhadores; um pai ou uma mãe com seu filho ou filha, enfim, enquanto me perdia em pensamentos sobre as duas cruzes nem me dei conta de que já havia chegado na cidade de Salto.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Um...Dois e....Qual o mistério do número 3?

 Números são extremamente importantes em nossa vida, criados há um par de séculos nem é possível exprimir em apenas  uma página sua utilidade em nossa existência, mas o 1, 2, 3 é um mistério que gostaria de descobrir...




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O leitor não deve talvez ter atentado para essas situações que vou relatar abaixo; quem sabe até tenha passado pela cabeça de alguém esse enigma que envolve o número três. É três para tudo. Como uma barreira poderosa ele limita momentos decisivos em várias ocasiões em que a emoção corre solta.

O pai diz aos filhos: "Um... Dois...Três, já! Pode pular! Em brincadeiras divertidas de adivinhar, de correr ou até mesmo saltar de um lugar alto para seu colo. Como é poderoso o algarismo 3 nesses momentos... Alguém já parou para pensar sobre esse detalhe?

Entre amigos, acontece também: "Vou contar até três, se não responder, está fora!" 

Quantos já não foram excluídos de folguedos em grupo através dessa limitação...De quem? Do número 3, é óbvio!

E no cotidiano? Na vida prática, em telas de computador, celular ou outro dispositivo como em caixas eletrônicas de banco? Acontece o mesmo e vem a mensagem "Após 3 tentativas sua senha será bloqueada!" Já viu poder igual? 

E na escola? "3 dias durante o ano para chegar atrasado, excedeu esse limite, será penalizado, cuidado!" Como se esse três definisse toda uma vida escolar na questão de pontualidade...

Quando ocorre aquele soluço involuntário e desagradável que perdura além do tempo suportável, o que se ouve? "Beba 3 golinhos de água devagar..." E incrivelmente o poder do número 3 faz seu efeito, fazendo valer o que prometeram...

Ao tentar carregar um objeto de peso além do normal...Ao passar um paciente da maca para a cama do hospital...

Mas ainda não para por aí...Quem já não passou por uma sessão de fotos e ouviu o fotógrafo dizer: "Um, dois, três....Olha o passarinho!" E instantaneamente, definido por um número, já temos uma foto registrando momentos que ficarão eternizados em nossa memória...

Três tem poder de definição, de limitação, de fim, de expectativa, de decisão! Desconheço qual a razão de se empoderar tanto um valor numérico em relação aos outros.

Mas não termina por aí ... Nos clubes de tiro, ou em campeonatos, parques de diversão que propiciam acertar um alvo qualquer, o que se ouve? Ou simplesmente conta-se mentalmente? "1, 2, 3, fogo!" É impressionante, digo até, inacreditável essa presença tão marcante em inúmeras situações...

Fora a história dos três beijinhos "Pra casar!" 

Não poderia, ser um ou dois?

Em diálogos sobre vida familiar há sempre a ressalva no número de filhos: "Um é pouco, dois é bom, três é demais!" 

Olha ele aí novamente, se impondo de forma categórica, estabelecendo seu limite implacável...

Tenho absoluta certeza, de que se o leitor se deixar levar pelo raciocínio nessa questão vai encontrar, mil outras ocasiões em que isso pode acontecer. 

A efeito de diversão coloque em seu comentário abaixo qual nova situação em que você verifica o poder do número 3. Agradecerei imensamente a colaboração.

 E para não perder o hábito :"1, 2, 3, esgotaram-se minhas reflexões!"

Ah, o número três...





domingo, 31 de dezembro de 2023

Remar sempre, enquanto der...

 



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Quem gosta de escrever ou aprecia literatura, convive com as metáforas e parábolas que ainda aparecem em alguns textos, felizmente. Eu mesma já usei muitas parábolas, em especial gosto muito do semeador no sentido de espalhar conhecimento, a semente do bem. Hoje usarei uma nova parábola ou metáfora, as duas se confundem e no fundo apresentam quase que as mesmas características. 

Foi conversando com uma antiga amiga no grupo de Whatsapp que ela surgiu. Ao indagar se eu estava bem, respondi que ia remando e que enquanto remasse tudo estava bem. 

Paro aqui para reflexões sobre a nossa grande viagem que é essa vida, a dádiva que recebemos de nossos pais e de forças superiores, inexplicáveis para mim até o momento. Se pensarmos bem já nascemos remando um pequeno barquinho  em um lago manso e tranquilo nas entranhas de nossa mãe...

 Mais tarde, na inquietude da infância, no mundo de sonhos em que estamos mergulhados, lá vamos nós novamente remando agora em uma rápida lancha a motor, movidos pela avidez de conquistarmos territórios novos a desbravar sem temor.

Surge em nossas vidas uma nova fase, a adolescência, colorida em todo o seu trajeto, coberta de flores perfumadas e maravilhosas. Tudo é magia nesse período em que tentamos pilotar um lindo e rápido iate cor -de - rosa  ao sabor do vento, que nos leva a cada hora para um lugar diferente, misterioso e desconhecido e, na tentativa de afirmação, surge o amor encantado, que nos leva a construir castelos de areia que muitas vezes são derrubados pelo vento.

Chega rapidamente a idade adulta, nos pegando de surpresa e, nos sentindo senhores de nós mesmos, elegantes e amadurecidos, donos do nosso próprio destino  conduzimos ao mar de aventuras o nosso transatlântico sofisticado em direção a um porto seguro onde possamos ancorar com segurança a nossa vida...

Mas durante a  roda viva dessas remadas, o tempo voa. Ah! feito inimigo, e sem que queiramos ou consintamos, nos arrasta para o mar de incertezas, de dúvidas sobre o nosso próprio destino, totalmente perdidos, sem uma bússola que nos informe onde chegar. As forças e o vigor da juventude ficaram para trás, agora não há como se preocupar com o corpo físico, vaidades supérfluas, ilusões incertas. Navegamos em nosso pequeno barco à vela, ao sabor do vento que nem sempre é brando e agradável, convivemos com a tormenta, perda de muitos amigos navegantes, mas a despeito de tudo, ainda conseguimos remar quando a escassez da brisa se faz presente.

Que assim seja! Enquanto remarmos, a favor ou contra o vento estaremos bem, a lançar pequenos desafios num velejar manso, porém a salvo, cortando lentamente os mares em busca de um lugar ao sol que nos proteja do frio agressivo e assustador. 

Até um dia em que deixamos de remar...


terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Glória à Inteligência artificial, desrespeito ao ser humano



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 Ninguém pensa mais em outra coisa a não ser na tecnologia de ponta, criação de novos dispositivos sejam eletrônicos ou virtuais, para mudar a vida humana, antes tão física, no entanto, hoje, tão desmaterializada e digital. 

As pessoas se enlevam com a ideia de carro autônomo, viagens interplanetárias, seres de outras galáxias, mistérios além da vida e tantos outras distanciando-se cada vez mais da matéria. Inteligência Artificial, então, passa a ser a febre do momento, até parece que a capacidade de pensar e criar do ser humano deixou de existir atualmente, desde que esse recurso apareceu. Robôs criados para imitar e superar os homens, carregados de sentimentos que futuramente substituirão a nossa espécie, segundo muitos, oferecendo inúmeros benefícios e serviços no sentido de poupar trabalhos aos humanos, entretanto, roubando inúmeros empregos que deixarão a todos na inércia física e mental, entregues ao lazer eterno, à depressão profunda, à pobreza econômica,  ofertando prejuízos de ordem  física e emocional.

Não é impossível pensar numa possível guerra entre humanoides e robôs quando aqueles se sentirem roubados em suas profissões e inferiorizados em sentimentos sendo substituídos por esses artefatos modernos. Novos ciborgues serão criados equipados com armas para se defenderem de ataques humanos destruidores.

O mundo passa por terríveis mudanças e ameaça aos cidadãos; o excesso de emigração é outro ponto  que engole culturas e muitos empregos que já são escassos; fato gerador de inúmeros incômodos e revoltas num futuro não muito longínquo.

Voltando ao campo cibernético, ante a tanta tecnologia glorificada e santificada cuja apropriação o humano anseia e reverencia, há o reverso da medalha: o total descaso e desrespeito a vidas humanas.

Há muito, o valor de uma vida, deixou de existir, vemos apenas o dinheiro a considerar cada ser que o possui, enquanto outros desfavorecidos de capital são tratados como vermes ou peças descartáveis de um jogo de interesses infinitos. Há desrespeito na Saúde, nas filas de espera para atendimento, profissionais sem qualidade que apenas pensam em lucro; inúmeras ouvidorias sem ética que nada resolvem culminando em óbitos fora do tempo; na Educação sucateada que oferece educadores corruptos e violadores de juramentos prestados em suas formaturas; na Justiça em que as leis são criadas em benefício dos próprios legisladores imorais e poderosos; na Política cujos cargos já não são mais exercidos com a lisura e honestidade necessárias para administrar os recursos públicos... 

E o  que ocorre  é quase um paradoxo: na mesma medida que o mundo se desenvolve tecnologicamente acontece a deterioração do ser humano em relação a seu par: pessoas já não se conhecem mais, amigos físicos são coisas do passado, encontros virtuais substituem os presenciais, diálogos se desmaterializam até nos próprios lares cuja comunicação é feita através de mensagens de celulares em muitos deles; os ambientes dantes lotados de pessoas em relacionamento como cinemas, salões de baile e praças públicas deram lugar a espaços virtuais frios e distantes das redes sociais e sites de relacionamento. E em cada segmento da sociedade a história se repete.

Nunca se viu um desrespeito tão grande assim às pessoas... Isso será  progresso?



quarta-feira, 22 de novembro de 2023

A primeira vez

 Para tudo há uma primeira vez...


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Existem vários textos com esse título, eu mesma escrevi um conto  infantil com esse nome: a história de uma mulher que nunca saía de dentro de sua casa. Não via o céu, o sol, as flores do jardim, os pingos de chuva, até que... Aparece em sua casa, uma velha tia que a puxa para passeios sem fim e pela primeira vez, ela conheceu a natureza a sua volta e deu seu primeiro sorriso...

Mas não é sobre essa produção de texto que vou falar. Em meus constantes passeios pela memória, desta vez, me ocorreu um episódio que também justifica o título deste texto...

Corria o ano de 1966 ou 1965. Não consigo precisar ao certo. Talvez se perguntar para meus velhos amigos e colegas de escola, eles se recordem melhor. O ônibus mastigava as velhas estradas cortando o vento que entrava pelas janelas abertas, sem o hermético fechamento  e ar viciado dos condicionadores atuais. Era uma excursão escolar, coordenada pela nossa professora de Geografia com destino à barragem de Urubupungá. A finalidade era de estudo e pesquisa da área e a mestra era exigente. O caminho todo, corpinho de adolescente em uma calça de helanca (tecido muito usado  naquela década) verde-musgo e uma túnica em juta estampada de flores graúdas, lá estava eu: cabelos soltos ao vento observando tudo a meu redor. A fala da professora Sarah constantemente orientava: estamos em uma vegetação de cerrado ou Mata Atlântica; essa rocha é sedimentar do período mesozoico ou paleozoico.  E quantas paradas para coletas de material de rochas, de espécies vegetais... Cuidadosamente, guardávamos em saquinhos para colar no relatório da excursão; trabalho em grupo que valia nota de peso e todos precisávamos dela para fechar o ano. 

"A primeira vez" aconteceu na volta da excursão. Perante o medo de minha mãe de que não me alimentasse adequadamente, mandara uma lata cheia de empadas que ela mesmo fizera, uma delícia, além de biscoitos. Como não tinha muito apetite, dividi com todos que queriam... Quando uma das amigas e colega de classe, de nome Maria Vilma, mostrou uma mamão que trouxera de casa, amarelinho viçoso  e ofereceu à turma. Todos quiseram um pedaço pequeno, apenas eu não quis, nunca experimentara essa fruta e teimava em  não gostar. Quando recusei, ela não se conformou, questionava o porquê, me dizia convincente que a fruta era deliciosa, docinha e afinal conseguiu me persuadir a provar um naco de mamão. Com cuidado, dei uma mordida e me surpreendi, realmente era muito bom!

A história do mamão foi uma grande lição que minha amiga me deu a chance de aprender. Como saber se gostamos ou não, sem experimentar? Principalmente em questões como as frutas de que todos apreciam. Aqui entraria um debate, pois há coisas que nunca devemos provar na vida... 

Agradeço imensamente e não sei se ela vai se lembrar desse ocorrido que me ajudou e me fez mudar a maneira de pensar.

Obrigada, amiga, por conseguir incentivar com seu persuasivo e convincente discurso juvenil uma garota teimosa como eu!


quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Quais são as mudanças?

 Volto a escrever nesse espaço amado, num dia especial. Hoje é 15 de novembro, data dedicada a lembrar a proclamação da República, acontecida no ano de 1889...



👸?




Houve um época, meus queridos amigos conterrâneos e contemporâneos que esse dia constava obrigatoriamente do Calendário Escolar para apresentação de atividades cívicas ilustradas em grandes desfiles em ruas  e avenidas públicas; cada escola com sua respectiva fanfarra e marcha até um ponto de concentração onde discursos eram apresentados, poemas eram declamados em favor à Pátria amada e sua liberdade do jugo monárquico.

Quem não se recorda disso? Acredito que todos em sã consciência são capazes. Isso, durante a década de 1964, uma vez que o regime político era o militar de extrema direita, criticado hoje por muitos políticos e eleitores. Entretanto, tudo tem seu aspecto positivo, lembro-me de me destacar em declamações nas datas cívicas desde os anos 60,  emocionando-me com os versos de um Olavo Bilac, maravilhoso em A Pátria, que ainda me ecoam na memória: "Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste! Criança não verás nenhum país como este!"  Assim como muitos outros poemas que nos faziam adorar e louvar nosso berço natal.

Faz muito tempo que tudo isso mudou, não entoamos hino cívico algum em nossas escolas; não são bem-vindos pelo regime de esquerda que hoje vigora, é proibido lembrar o período ditatorial muito mais admirar alguma de suas ações.  Ouvimos o Hino Nacional apenas em campos de futebol e campeonatos esportivos. Por essa razão, muitos não sabem o hino de seu próprio país, quanto mais o Hino da Proclamação da República, (afinal esse foi o meu motivo em escrever esse texto) que se iniciava com a linda frase poética: "Seja um pálio de luz desdobrado sob a larga amplidão destes céus..."

Antes, o povo brasileiro vivia, segundo dizem, sob o jugo da monarquia, que esbanjava luxo e riqueza em detrimento dos pobres súditos, escravizados física e economicamente através de pagamentos de impostos exorbitantes...

Infelizmente, não podemos precisar ao certo se o fato era verídico, vivemos e acreditamos no que lemos produzido por historiadores e documentos, e documentos não podem mentir; através deles, verificamos muitos avanços produzidos durante a monarquia como a Criação do Banco do Brasil, de teatros, imprensa, biblioteca, abertura dos portos e muitos outros na administração de D. João VI em 1808 no Brasil. 

O que dizer do Príncipe D Pedro I? De uma intelectualidade e musicalidade singulares que produziram o primeiro hino Nacional Brasileiro ( Hino da Independência); ou de Pedro II, que revelou em suas atitudes um amor extremo ao Brasil, levando um travesseiro cheio de terra brasileira em seu exílio?

A república chegou  em 1889 com promessas de liberdade, equidade e ordem. Isso terá realmente acontecido? Temos vivenciado governos insanos, que não demonstram ética nem tampouco humanidade e justiça que justifique  à nação que valeu a pena a mudança.

Hoje o regime dito libertário escraviza, não garante segurança, nem liberdade alguma, principalmente a de expressão... 

Os reis ofereciam um dia para que a população fizesse suas reclamações no dia do "beija-mão" e atualmente? Conseguimos manifestar individualmente nossos anseios aos chefes políticos?

Mudanças...

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Enquanto Deus assim o permitir...

 Boa-tarde a todos que me honram com sua presença nesse espaço onde todos são bem-vindos para leitura, reflexão e discussão saudável e democrática. Aproxima-se a dia de finados, data especial para nos lembrarmos daqueles que tanto amamos e que se foram para a eternidade...


pixabay



Faz alguns anos que deixei de escrever nessa data, pelo fato de gerar tristes lembranças de uns dias por que ninguém deseja passar ou relembrar. 

Todos nós jamais estaremos livres de enfrentar momentos de dor e sofrimento, a perda de entes queridos. Seja uma mãe, um pai, uma tia ou primos amados, até mesmo amigos a quem tanto prezamos, cuja presença não teremos mais, apenas nas páginas da memória.

Uma das mortes que até o momento me calou mais fundo, foi a do falecimento de meu pai. Com apenas 69 anos, lutava contra um vírus que adquirira no hospital após uma transfusão de sangue decorrente de um acidente automobilístico. Mas estava bem, fazia sua dieta corretamente em meio a restrições terríveis na alimentação. Quando sofreu uma queda em sua residência em Arujá, necessitou de internação frente à fratura que sofrera e lá de repente, sem nenhum aviso, veio a indesejada notícia.

Residia por essa época, ano de 1999, na cidade de Rio Claro, e me preparava para o fim de semana de folga do trabalho para lhe fazer uma visita, quando justamente na sexta-feira, fui comunicada da triste ocorrência. Tudo o que aconteceu naquele dia, trago guardado fotograficamente em minha memória, foram os dias mais dolorosos por que já passei e não os desejaria ao pior inimigo, se tivesse.

Como faço habitualmente nessa data, visitarei o pequeno cemitério, tranquilo, levando a singeleza das flores brancas e amarelas ao local onde seu corpo repousa há 24 anos. Crio minhas próprias orações, leio passagens da Bíblia Sagrada que ele tanto amava ler nos seus últimos e sofridos anos. Acendo velas e ali fico por um bom tempo até que as lágrimas da parafina escorram como um pequeno rio.

Passo-me a lembrar de muitas cenas que compartilhamos juntos, momentos felizes, tristes, engraçados...

Nesse finados, irei sozinha fazer essa visita, minha querida mãe já não consegue pelo avançado da idade subir a grande rampa de acesso ao campo santo, muitos perdem a ilusão de comparecerem a esse local por não encontrarem significado nesse ato  que continuo fazendo por vários anos.

Mas o meu espírito romântico acredita, ele não aceita ainda a frieza dos crematórios que não nos deixa um local para que possamos meditar e refletir sobre aquela pessoa que nos deixou. Muito triste a ideia de cinzas ao vento e tudo se acaba de repente.

Nesse finados, irei novamente ao cemitério, levarei flores e velas, lerei páginas da Bíblia e, meditando, terei a imagem viva daquele que me proporcionou conviver com as maravilhas e infortúnios da nossa passagem por esse planeta, enquanto Deus me permitir.


sábado, 7 de outubro de 2023

Romantismo sombrio





www.escritacriativa.com.br




 Em meio a várias efemérides deste mês, hoje, 07 de outubro é aniversário de morte de um grande escritor: Edgar Allan Poe.


Nascido em Boston, Estados Unidos, em 1809, teve uma vida conturbada e sem paz. No entanto, em um recorte de jornal, mostra-se a sua morte em 07 de setembro, porém as biografias de sua vida afirmam com unanimidade a data de 07 de outubro de 1849 com 40 anos. São detalhes que não conseguiremos precisar ao certo. Contudo, o que realmente importa é prestar uma homenagem a um escritor que soube escrever no gênero terror como poucos sabem ou conseguem fazer.

O leitor gosta de escrever? Já tentou imaginar uma cena de terror, usar sua imaginação e conseguir despertar interesse de alguém através de um texto? Se tentar fazer, verificará  como é difícil criar um cenário e enredo deste tipo. Lembro-me de meus alunos no Ensino Médio, em 2019, último ano em que lecionei. Sugeri em uma das aulas de redação que criassem um conto de terror. E ainda facilitei colocando um bom trecho de uma história intitulada "Nunca fale com estranhos". Eles deveriam criar apenas um final, um desfecho no gênero.

Recordo-me que rimos muito das criações produzidas, iam para o cômico, grotesco e a única coisa que não despertava era o medo, algo típico que esse tipo de narrativa deve fazer em quem lê. Realmente, é dificílimo conseguir esse objetivo na produção de texto.

Edgar Allan Poe, fez isso com maestria. Muitos afirmam que ele escrevia sob efeito do álcool, pois era alcoólatra e acreditam que nas crises de Delirium Tremens (estado de abstinência de álcool) produzia contos e poemas sinistros que causam arrepios de horror. Sabemos que nesse estado acontecem alterações no sistema mental do indivíduo causando alucinações e muitos outros sintomas.

Sob esse estado ou não, o mestre das histórias de terror criou o assustador poema "O corvo" em que como ninguém explora os horrores que o animal transmite através de sua aparência lúgubre. Em "Annabel Lee", Poe conta em versos sua triste vida amorosa, pois a querida esposa morreu muito cedo e a horripilante sensação que ele sente ao dormir com o cadáver no sepulcro. E não para por aí, alguém já teve oportunidade de ler O gato preto? Os horrores do personagem que alimenta um ódio terrível pelo animal e o acaba matando, emparedando e que para sua loucura não está morto? São momentos de suspense e medo, verdadeiras obras de arte no gênero terror.

Tanto em "A queda da casa de Usher" ou "O barril de Amontillado" trazem temas trágicos e assustadores em que a morte é sempre a personagem traiçoeira que trama e apresenta ambientes demoníacos e insanos.

O escritor perdeu cedo sua mãe, aos dois anos de idade,  o  pai o abandonou e foi adotado; por sorte seu tutor lhe proporcionou estudo de qualidade. Casou com 27 anos e a esposa com 13 anos. A morte da amada em 1847 levou-o ao alcoolismo e à depressão. Os relatos sobre sua vida afirmam que possivelmente ele teria sífilis e cirrose que foram a causa de sua morte. Suas obras só alcançaram o sucesso depois que faleceu.

Considerado um romântico sinistro, provavelmente da mesma linha do escritor inglês Lord Byron, Edgar Allan Poe merece ser lembrado e admirado pela contribuição que trouxe à literatura americana e mundial.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Verde Tesouro

 E hoje é o dia dela. Uma das coisas mais importantes e belas que a natureza pode nos oferecer: a árvore.


freepick


A natureza é sábia assim como tudo que nela existe. Incrível como encontramos uma árvore em qualquer lugar aonde quer que vamos. Se elas existem nas grandes e pequenas cidades, certamente alguém as plantou e cuidou delas para que pudessem sobreviver e ofertar sua sombra, ar puro, frutos ou flores totalmente livres, sem pagamento algum. Um milagre que muitos não reconhecem e têm a coragem de destruir...

A árvore nos proporciona momentos agradáveis sob o aconchego de suas ramas frondosas, nos oferecem seu tronco forte para que o utilizemos para nossa mobília, meios de transporte fluvial, moradias, combustível fóssil para aquecer muitos lares pobres ou sofisticados, instrumentos musicais e tantas outras coisas...

Hoje nesse 21 de setembro, sabemos que a consciência ambiental quanto a conservação dessa espécie tem deixado muito a desejar apesar de inúmeros projetos e campanhas no sentido de preservá-las e de multiplicá-las para a nossa própria sobrevivência nesse planeta. Parece que a insensibilidade e o desrespeito tomou conta de grande parte dos seres humanos, que praticam atos insanos como queimadas, derrubadas e toda a sorte de agressão contra aquela que só oferece benefícios e conforto à vida.

Que será de nós quando elas não mais existirem para purificar o ar que respiramos, para controlar o tempo, proporcionar as chuvas regulares, a estabilidade do solo, para ofertar o oxigênio que respiramos?

Por experiência própria, já visualizei crianças na mais tenra idade a destruírem, arrancarem abruptamente tenras futuras árvores pela raiz sem que seus progenitores nada dissessem ou orientassem. Que tipo de formação é essa que uma família pode oferecer a seus filhos cuja consequência pode ser o fim da vida humana se essa ação se generalizar?

Estamos falhando em algum aspecto da educação familiar e escolar para que atos como esse aconteçam. É dever de todo o cidadão ficar atento e ensinar às crianças, sejam seus filhos ou não. É uma questão de responsabilidade coletiva conscientizar, orientar, fazer amar a natureza e tudo que faz parte dela.

Guilherme Aniceto em seu poema à árvore diz em sua última estrofe:

"a árvore envelhece

começa muda, mas tem muito a dizer

e diz — ouve quem quer e quem sabe

interpretar da natureza as preces"



sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Desconhecido?

 Boa-noite, leitores deste blog. Ontem, 14 de setembro, foi o dia do frevo; um ritmo contagiante, cujo nome provém da palavra ferver... Mas não vou escrever sobre esse assunto de amplo conhecimento por todos...

musimed.com.br



O assunto é  outro e deveras intrigante: como é possível que pessoas com um talento singular, um potencial incrível possam ficar no anonimato. 

No final de 1992, se não me falha a memória, concluí o curso de piano em primeiro grau. São oito anos de estudo do instrumento nesta primeira fase e mais três anos no segundo grau. Não sei se atualmente possa ter ocorrido alguma mudança nesse aspecto.

Morava por essa época na cidade de Rio Claro, estado de São Paulo. Entrei no conservatório aos quarenta anos, decidira terminar oficialmente esse estudo, realizei um teste de classificação e obtive o quinto ano de piano. Decorridos  mais três anos, houve a entrega de diplomas e apresentação dos formandos. Cada um tocou uma música diferente no auditório do Colégio Köelle, uma escola conceituada da cidade. Lembro-me que interpretei a peça Aragonesa de Massenet ,da ópera El Cid. Uma das alunas, se não me engano de nome Carolina, interpretou um maxixe intitulado Zurara. Ficamos curiosos para conhecer o histórico daquela composição, no meu caso particularmente, nunca ouvira falar em tal partitura e do seu respectivo autor, Benedicto Leite.

Era uma música bastante atraente, alegre, sincopada como no caso do maxixe, ritmo considerado como "tango brasileiro" que lembra a polca e a habanera  que nasceu por volta de 1870, na segunda metade do século XIX, possivelmente de origem africana. Na época, bastante explorado, o maxixe foi um dos ritmos que a maestrina e compositora Chiquinha Gonzaga usou e um deles, O corta-jaca foi muito criticado, pois sua dança erótica era considerada chula e imprópria no próprio discurso de Rui Barbosa. 

No entanto, não é o maxixe o tema desse artigo. Devo dizer que a ideia da interpretação e amostra de Zurara foi de uma das donas do Conservatório Musical Rio Claro, a simpática e querida Vera que apresentou a composição e um pouco da vida de Benedicto Leite, compositor rioclarense. Os anos passaram e concluí o segundo grau no instrumento piano em 1995.

Porém, da interpretação de Zurara até o momento, já se passaram 31 anos, e ontem , ao iniciar pela manhã meu incansável estudo de piano, encontrei em meio a inúmeras pastas de partituras, a de nome Zurara e resolvi escrever nesse espaço sobre seu autor. Qual não foi a minha surpresa ao pesquisar que o grato compositor está invisível para a mídia; encontramos apenas um homônimo, político maranhense de destacada proeminência, cujo nome serviu para criar uma nova cidade no nordeste brasileiro.

Após pesquisa incansável, pois não escrevo ou passo informações sem fazê-la, inclusive no canal Rio Claro e no acervo histórico do município, chego à  triste conclusão de sua inexistência para o público que aprecia a arte musical mais tradicional; apenas a sua partitura encontra-se à venda em um ou dois sites da internet. Em um desses deles, questionei a falta de informações sobre o compositor na mídia escrita e falada e aguardo impaciente a resposta.

Ficou a lembrança de que Benedicto Leite apreciava composições campesinas, da vida dos escravos da fazenda, que era um jornalista além de compositor e viera tentar a vida em São Paulo, entretanto desgostando-se profundamente da cidade grande... Nada mais, perdi o contato com a dona do conservatório que infelizmente hoje, já não existe mais na cidade...

Constatei o poder da mídia no seu papel de destacar e manter imortal  a memória daqueles que viveram intensamente uma paixão, dedicando-se por toda uma existência a um ideal. 

Não foi o que ocorreu com o autor de Zurara.


sites de pesquisa

Canal Rio Claro - acervo histórico do município

fundaj.gov.br

domingo, 3 de setembro de 2023

Símbolos são poderosos?

 Boa-tarde, desculpem o atraso em escrever mais um texto. 

Já pararam para pensar como um simples sinal pode tornar-se poderoso, existir e resistir há séculos e até milênios? Se tem alguma dúvida sobre isso, leia o texto abaixo.



https://www.pngwing.com/pt/free-png-hnnmp

https://www.gettyimages.com.br/ilustrações/símbolo-yin-yang



https://www.pngegg.com/pt/png-yjwcf





A alma humana é complexa. Mais complexa ainda é a capacidade de fixar e até empoderar sinais ou símbolos que nos são estrategicamente e intencionalmente divulgados. O poder que adquirem é imensurável e em muitos casos o ser humano é capaz de participar de guerras, revoluções, manifestações para defendê-los...

Basta verificarmos as bandeiras. Símbolos simples, formas singulares estampadas em tecidos, cuja simbologia pode representar países, cidades, times de futebol, partidos políticos... Capazes de inflamar multidões, com a competência extraordinária de transformá-las em verdadeira "Turba multa" responsável pela destruição, violência e até a morte, se os ânimos não forem controlados. 

Os símbolos funcionam como um logotipo, uma forma simplificada de trazer em um único sinal a representação e conteúdo  de toda uma entidade com todas as suas características e pretensões, portanto eles não existem sem uma intencionalidade, quem os cria, tem pleno conhecimento disso. 

Talvez, o  mais antigo deles seja de caráter transcendental, uma vez que ultrapassa a linha do limite físico para o espiritual. A cruz que há muito tempo simboliza o Cristianismo, teve seu uso no Egito antigo (Antiguidade Clássica) como representação do deus Serápis cujo símbolo era uma cruz. Com a sua adesão ao Cristianismo, esse sinal se fortaleceu, tornou-se intocável, poderoso e imaculado, levando ao temor e caindo em pecado e castigo àquele que o desrespeita. E são vários tipos de cruzes, como a da fé cristã ao antônimo da cruz suástica, simbologia do terror e da destruição como é concebida atualmente. Poucos sabem de que ela existe há cinco mil anos aproximadamente, por tribos indígenas em cultos religiosos dos astecas, celtas, budistas e gregos antes de ser o símbolo do Nazismo... 

Tanto no Ocidente como no Oriente há a crença em símbolos como o do budismo, das pirâmides, do infinito (um sinal como um 8 deitado) que remonta à antiga Bíblia, representando uma linha sem fim que integra a vida e a morte como um ciclo atemporal,  infinito.

Não menos importante é o Yin Yang, que na filosofia chinesa simboliza o tempo em forças opostas que se complementam, uma em cor preta e outra branca em perfeito equilíbrio da natureza.

Os chamados símbolos ou logotipos como quisermos denominá-los, atuam de forma exponencial no mundo comercial, cada empresa procurando esmerar-se em construir o seu melhor, entregando às empresas publicitárias, desenhistas essa tarefa de representá-los de forma eficiente no mercado como meio de obter lucro e fidelização de clientes em nível local e global com o advento da globalização. Nem todos sobreviverão sem o apoio de marketing e ações constantes de divulgação.

Atentemos para estes símbolos com o devido conhecimento de como surgiram, o que são  e como vieram para ficar.

Fontes de pesquisa:

pt.wikipedia.org

uol.com.br

vareurgente.com

lucianalimasemijoias.com.br



segunda-feira, 14 de agosto de 2023

O show tem que continuar

 

freepick



Essa frase tão conhecida no meio artístico, aplica-se também ao cidadão comum como nós, que embora sem o glamour e o brilho do estrelato, não deixamos de nos exibir nesse imenso palco que é a vida.

Por aqui passamos uma única vez. É provável que haja uma nova existência em outras épocas futuras ou já passadas, mas nada cientificamente provado até o momento atual.

A realidade é que sempre atuamos nossos papéis que são variadíssimos, contracenando com tantos outros personagens de nossa esfera de convivência diária. Muitos deixam de participar por alguns atos, retornando como protagonistas ou secundários. Alguns se retiram para sempre, porém deixando lembranças do seu desempenho por todo um ciclo... Mas o show tem que continuar, aconteça o que acontecer.

E os gêneros são distintos para cada momento ou etapa da vida: são textos que envolvem dramaticidade, tristeza e melancolia, alegrias ou até mesmo ódio, insatisfação, frustração e tantos outros.

O que realmente importa é a qualidade da atuação que deve ser sincera espontânea, sem artificialidade ou hipocrisia, mas principalmente carregada de emoção para que possa impressionar, marcar momentos e perpetuá-los para sempre. E a nossa vida é preenchida com essas imagens que povoam toda a nossa existência em todas as suas etapas.

Essa parábola que envolve uma comparação da vida com um palco já foi largamente utilizada por vários autores e se adapta perfeitamente à realidade humana pela semelhança entre os papéis reais com os de ficção: perdas de origem amorosa que carregam uma carga de dramaticidade e tristeza inigualáveis; assim como a de entes queridos que se afastam para sempre do nosso convívio. Papéis de ordem profissional; cada um com seu próprio palco individual acompanhado de atores e cenários respectivos. E ainda há aqueles que representam os vilões impiedosos que só fazem causar o mal e transtornos àqueles que os rodeiam trazendo um cenário macabro, causando repulsa e indignação de todos. 

Há uma tênue linha que separa a realidade da ficção, e que apenas os cérebros saudáveis conseguem perceber, enquanto que os incapacitados mentalmente não são capazes de discernir.

 Por todos esses motivos, é que existe a reflexão: A arte imita a vida, ou vice-versa,  frases que carregam grande dose de veracidade. 

Pensem sobre isso!


segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Cada ação tem uma reação

 


(Freepick)




E também um resultado que pode ser analisado em pouco tempo ou em algumas décadas...

Refiro-me aqui à retirada da disciplina Música do  currículo das escolas públicas de uma maneira geral, fato catastrófico que repercutiu drasticamente na formação cultural dos alunos deste país. Segundo pesquisa, na fase áurea da Educação brasileira essa matéria foi lançada oficialmente no currículo através do decreto  19.890 de 1931 e era denominada por Canto Orfeônico, tendo como destaque nesse campo, o maestro Heitor Villa-Lobos que no ano seguinte, assumiria a posição de diretor da superintendência de educação musical do Brasil. Ao nome dele está também relacionada a criação do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, órgão formador de professores da área. Certamente, educadores aposentados mais antigos deste período ou até anterior a ele podem certificar essa ocorrência se ainda estiverem vivos e com sua capacidade mental  preservada.

O resultado dessa ação, foi a produção de um público mais bem formado em sua cultura geral, articulado em apresentações e análise de conteúdos musicais , em que eram visíveis a sensibilidade e afinação tão necessárias neste assunto.

 Iniciei meus estudos  em música a partir do curso ginasial, hoje conhecido por Fundamental 2 no ano de 1962, portanto me beneficiando, felizmente, dessa dádiva que é o conhecimento musical. Não havia limites e nem barreiras na aprendizagem. Todos nós estudantes desse período cantávamos afinadamente e com sentimento todos os maravilhosos hinos cívicos do Brasil, o que em nada nos prejudicou, pelo contrário, levou-nos ao desenvolvimento de respeito ao país e a seus símbolos. Atualmente, convivemos diariamente com jovens que não conhecem letra e música do próprio Hino Nacional e não por sua culpa, pois são privados deste ensino. Se entoamos o hino pátrio, muitos professores se assustam e já mencionam se estamos querendo a volta da ditadura militar, coisa totalmente absurda; não há relacionamento algum a esse respeito, embora naquela época o ensino público se apresentasse como o de melhor qualidade da escola pública brasileira, não necessitando de cursinhos preparatórios para ingresso nas universidades. Graças a essa época, iniciei com dificuldade meus estudos de piano que só pude concluir com 43 anos no Conservatório Musical de Rio Claro, hoje extinto.

Já nos estudos do Normal, curso que na época formava  professores, contávamos com excelentes profissionais, cuja formação era invejável, como o Maestro Raab, meu professor de música do 1º ano, com aulas ao som do piano em que lançava desafios vocais, como modular a voz e  produzir variações em determinados trechos do Hino à Bandeira, estimulando o conteúdo vocal do aluno, uma coisa fantástica! Como sempre amei essa disciplina, saía-me muito bem e sempre tirava as melhores notas. 

A LDB (Lei de Diretrizes e bases da Educação  o ano de 1961, a de número 4.024 mudou o nome da disciplina que passou a ser denominada como Educação Musical perdurando por uma década apenas, até a sua extinção do currículo com a LDB 5.692 que a substituiu pela matéria Educação Artística.

Analisando hoje, após várias décadas, constatamos o prejuízo visível que tivemos; os educadores já não possuíam a formação específica da área, raramente um ou outro professor lidava com isso e fomos nos perdendo na obscuridade e ausência desse material que nos deixava profundamente felizes e capazes de compreender  a teoria musical.

Esse fato pude verificar quando ingressei no magistério em 1973: alunos totalmente desafinados, inibidos quando precisavam produzir um conteúdo vocal ou instrumental.

Nesse ponto é que me questiono incansavelmente: "Qual o benefício que essa atitude legal obteve com essa medida?"


domingo, 30 de julho de 2023

Relíquias...

 



(A piorra - Google search)


Muito tempo já se passou em minha vida e da mesma forma, com a dos meus contemporâneos. Quantas vezes nos pegamos a ouvir músicas que abordam o tema saudade em referência ao passado. Posso enumerar aqui os títulos de algumas delas: "Jovens tardes de domingo", cuja letra relembra momentos outrora felizes de adolescentes que hoje estão na idade madura; "Rapaziada do Brás", maravilhosa letra que ilustra o tranquilo ambiente do Brás da cidade de São Paulo, hoje tão tumultuado; "Pequeno realejo", uma referência a dias longínquos em que o realejo (pequeno instrumento de apenas uma corda que reproduz melodias quando se aciona uma manivela) era tocado na infância do compositor cuja lembrança o faz sofrer ao lembrar da mulher amada...

E não para por aí, acredito que muitos se recordem dessas pérolas que fazem referência a um tempo melhor, pois o nosso passado é sempre o melhor em referência ao presente duro e dificultoso sem o sabor da juventude audaciosa e sonhadora enquanto o futuro é incerto e amedrontador. Muitos poetas abordaram o assunto, alguns com maestria e grande dose de sensibilidade como é o caso de Casimiro de Abreu com seu comovente "Meus oito anos" (Ah, que saudades que eu tenho da aurora da minha vida...); Olavo Bilac com sua famosa frase "Saudade- presença de ausentes" ou ainda a delicada Cecília Meireles com "Retrato" ("Em que espelho ficou perdida a minha face?"). Acredito que Saudade seja uma das matérias preferidas de autores românticos ou não, cada pensador encarando-a sobre seu prisma de raciocínio.

Eu, do meu canto, sou mestra em senti-la romanticamente, sem esquecer de que muitos idiomas não possuem em seu vernáculo essa palavra Saudade necessitando, de frases para exprimi-la ou até mesmo utilizando vocábulos que se adaptem a esse significado tão presente e companheiro do coração! São situações tão distantes pelo amarelado do tempo que de momento a momento afloram à memória, materializando cenas significativas, sejam de cunho afetivo, amoroso, triste, de perdas e muito mais. 

Quando essa profusão de cenas me ocorre, preciso urgentemente registrar em palavras, através desse caderno quase solitário que foi uma das coisas que criei na modernidade e que mais me realiza, uma vez que quando escrevo,  sinto eternizar e perpetuar no meu âmago, passagens que fazem valer a minha existência e que me tornaram o que sou hoje.

Saudades dos antigos objetos, dantes tão importantes: do velho relógio de corda, sem o qual não poderia cumprir horários e obrigações ao vetusto pilão e socador de alho, aliado indispensável das antigas cozinheiras; bem como brinquedos esquecidos como o interessante bilboquê de madeira que atualmente tornou-se relíquia, ou o  gordo pião, personagem constante das ruas, causador de disputas e brigas infantis... A piorra barulhenta que agradava as crianças com seu giro interminável de cores...

Seria uma lista imensa de coisas e coisas, de cenas e cenas que fizeram e continuam escrevendo a história de nossas vidas, ah, a saudade!

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Uma carta para o passado


googlesearch


                                                                        

Muitos afirmam que o hábito de ficar relembrando o passado, ou seja, "as águas passadas que não movem mais moinhos", já diz o provérbio, não é saudável, uma vez que não construímos novas imagens, novos modelos de esquematização mental, perdendo possibilidades  de modernização e oportunidades de desenvolver raciocínio cerebral e novas formas de encontrar soluções. Acredito que os profissionais da área médica possam explicar melhor esse processo.

Porém, quando se nasce com um coração apaixonado e romântico, como já disse antes; na linguagem musical de Nazareth, um coração que sente, não é possível evitar essas excursões pelos doces momentos vividos e trilhados até o momento. 

Desde o período em que me entendi por gente, sinto que sempre fui uma pessoa carente de  muito amor e cuidados, não que não os tenha recebido de meus pais, mas uma alma essencialmente sensível como a minha fazia com que qualquer contratempo me deixasse muito triste. E as lágrimas sempre foram meu ponto fraco, pois rolavam e ainda rolam  com a maior facilidade frente a algum acontecimento que me magoe profundamente. Essa característica me valeu a alcunha carinhosa de Maria Cristaleira,  um apelido gerado pela semelhança com meu próprio nome, Maria Cristina.

Senti na pele essa dor, quando uma prima que me é hoje muito cara, resolveu passar uns dias em Araçatuba e no primeiro dia em que me visitou, mencionou que gostaria muito de ter vindo para rever a banana pintadinha. E pronunciada com um sotaque paulistano, totalmente irritante e pedante para mim antes, calou fundo nas minhas entranhas, ainda mais partindo daquela menina de pele branquinha, sem marca alguma, pele de pêssego ou melhor, maçã, uma vez que apresentava um corado saudável.

Lembro-me de ter chorado muito após aquela visita. Olhei-me repetidamente no espelho enquanto pensava: "Banana pintadinha"... Que ódio, e na tentativa de eliminar as sardas, enlouquecia minha mãe na busca de produtos que as eliminariam. Isso por volta de meus nove ou dez anos. O tempo passou, meu pai, gostava demais de brincar com coisas mais sérias, só para me ver chorar. Certa vez, disse-me que eu não era filha deles, apenas meu irmão o era. Eu tinha sido encontrada por eles em uma caixa, ele dizia sorrindo. E depois desmentiu, talvez arrependido e sabendo  como era a 'cristaleira". Não falei nada, recordo-me de ter realmente acreditado naquilo... Aquela criança, o meu irmão, nasceu quando tinha quatro anos e era  maravilhoso, pele branquinha e rosada, mas ponderava que meu pai também tinha sardas em seu rosto... Chorei muito com o espectro da dúvida e até hoje questiono: será?

E quando chegou a pré-adolescência, então. Apaixonada pelas histórias infantis principalmente a Cinderela de Perrault, sonhava com os príncipes encantados que surgiriam no meu caminho. Adorava as músicas que acompanhavam a narrativa e até hoje me emociono ao interpretar "So this is love" e " A Dream is a wish your heart makes" ao piano e às vezes cantarolar essas preciosidades de um passado já distante.

Comecei a ter namorinhos muito cedo, cada um deles amava mais que o outro e quando tudo se acabava, chegava à dramaticidade de querer morrer, chorava por dias seguidos, inconformada com o fim que para mim era muito doloroso e talvez para aqueles príncipes nada significasse. E guardo a lembrança querida de cada um deles, até o momento em cada cantinho do coração . 

Minha mãe afirma até hoje que nunca teve coragem de me dar um tapa, pois do contrário, teria que aturar aquele pranto por dias e dias.

O tempo passou, o mundo girou, a vida foi me ensinando que as perdas são normais durante seu percurso, o que acho totalmente cruel. Talvez, nunca entenda ao certo qual a finalidade de todo esse sofrimento.