quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Linguagem digital x encontro presencial

 Parece incrível, mas as mudanças que ocorreram após o século XX, são relevantes no aspecto da interação humana, ressaltando-se que até um tempo atrás os diálogos só aconteciam de forma presencial, hoje...




A atualidade  nos reserva coisas novas que já se tornaram hábitos: o diálogo digital, feito de forma on-line, tão presente nas redes sociais, palestras, conferências, aulas... No início de sua utilização, causava estranheza, desconforto, agora se mostra como uma necessidade. O processo do distanciamento social de caráter físico difundiu-se principalmente durante a pandemia;  uma mola impulsionadora de grande poder que aproximou as pessoas de uma forma diferente, imaterial, porém, como única maneira de proporcionar comunicação entre todos os setores da sociedade, salientando-se que o discurso à distância revela uma grande vantagem perante o contato presencial: não é prejudicado pela barreira do espaço físico uma vez que podemos interagir com cidadãos de qualquer lugar do planeta.

Mas não foi esse o motivo que me levou a criar esse texto. O objetivo é mostrar que a medida que usamos essa linguagem virtual e nos habituamos a ela, verificamos o quão eficiente nos tornamos no sentido de entender o interlocutor do outro lado da tela,  seus sentimentos, sua raiva, o seu contentamento, tédio. Aprendemos com a conversa diária a descobrir o que há por trás das entrelinhas, o que cada internauta pensa, conclui, seus sentimentos e emoções seja pela própria pontuação utilizada, pelo tipo de fonte usada, pela ironia constante nas frases, pelo que deixam de escrever...

Os leitores devem participar de redes sociais e entender o que estou a dizer aqui, quem de vocês já não postou um comentário qualquer,  seja em Facebook, Instagram, Twitter entre outros; quem não está inserido em um grupo de Whatsapp? Este pela convivência diária com os mesmos integrantes nos tornam verdadeiros psicólogos, gestaltistas com um poder de análise surpreendente. Ali são descobertos, os líderes, vaidosos, orgulhosos, hipócritas, os displicentes, tímidos,  os sinceros, os invejosos, os carentes...

Percebemos por exemplo, quando há cumprimentos para aniversariantes aqueles que deixam de parabenizá-lo, ou elogiam demasiadamente apenas alguns dos integrantes, em detrimento de outros. Há quem manipule os diálogos chamando à atenção só para si, não dando importância ao que os demais dizem ou postam. São coisas até divertidas de se observarem. Alguns usam de ironia nos falsos elogios com a finalidade de ferir outros e há até os diálogos agressivos, que usam a linguagem de forma crítica em relação  a algum comentário feito pela pessoa que não apreciam. Há quem necessite de ser amparado, ouvido em suas fraquezas e tropeços pela vida... Muitos se ausentam por não se identificar com os outros, e, felizmente há quem seja sincero, simpático e verdadeiro  em sua conduta. 

Lembrei-me aqui de uma visita que fiz ao blog de um seguidor e o assunto que ele desenvolvia era sobre a atividade de ciclismo urbano, no qual houve a citação de um ciclista que havia cruzado grandes avenidas de São Paulo fora das ciclovias. Postei apenas um comentário ressaltando a coragem daquele cidadão, a realizar tal trajeto, comparando à roleta russa que poderia até levá-lo a acidentes de percurso, quando do nada, alguém que não conhecia não gostou do comentário e iniciamos uma verdadeira guerra verbal de opiniões. De nada adiantava dizer que, infelizmente, não há o devido respeito ao ciclista por parte dos veículos de grande porte, a outra parte usava um discurso agressivo que desceu à mediocridade quando revelou-se chulo, repleto de palavrões, tendo como consequência à exclusão dos seus comentários pelo administrador do blog. Acredito que isso aconteça quando alguém perde em uma discussão, não aceita essa perda, passando a insultar seu parceiro. 

Voltando ao Whatsapp, ocorre ainda que alguns participantes adoram dar lições de moral repassando longos vídeos e geralmente não seguem nada do que ali é exposto, fazendo exatamente o contrário; mensagens que pregam a humildade quando o quem postou é extremamente orgulhoso; por vezes, egoístas exibem mensagens de altruísmo e solidariedade que não condizem com suas atitudes percebidas mesmo no diálogo virtual.

Enfim, tenho pensado  seriamente sobre isso. Chego a associar a participação nestes grupos com  Reality shows tão apreciados por telespectadores hoje:  só sobrevivem  até o final, aqueles que conseguem revelar valores que convençam de sua sinceridade, simpatia, humildade e autenticidade, os demais são excluídos. No grupo de relacionamento à distância é a mesma situação, muitos saem por não apresentar jogo de cintura, amabilidade, humildade ou sinceridade no trato pessoal ou não se sentirem aceitos pelos demais participantes.  

Chego à conclusão  de que o contato virtual realizado nos grupos de internet não são muito diferentes daqueles em que nos relacionamos presencialmente, o ser humano é complexo e nunca conseguiremos entendê-lo em toda a sua psiquê, aí reside a beleza e a motivação da vida, é preciso uma luta diária no sentido de construirmos um mundo melhor, mais sincero e empático.