Boa-noite, senhores leitores. Depois de toda a polêmica envolvendo a reflexão da filósofa Simone de Beauvoir em seu desabafo sobre a boçalidade que invade a população e que foi trazida à tona em uma questão do ENEM, venho registrar nestas páginas uma crônica até comovente envolvendo a questão do raciocinar, do pensar, do sair do mesmismo. Espero que gostem.
Quem planta, colhe
Sentada em um banco do vagão do metrô da linha azul, magrinha,
cabeça encurvada, óculos na ponta do nariz e um coque desarranjado na cabeça,
mais parecia uma velhinha vista assim de perfil. Interessei-me em observar
aquela mocinha de atitude senil que, atenciosamente, com uma caneta na mão,
escrevia alguma coisa, o tempo todo em que o trem se movimentava por sobre os
trilhos. Pela distância em que me encontrava, precisei forçar a vista já
cansada pela idade para poder vislumbrar depois de algum tempo o que ela fazia: lições de inglês em
um tipo de apostila colorida. Verifiquei também, que pelos olhos oblíquos e
formato do rosto tratava-se de uma oriental. Vestida de maneira simples; uma
blusa um tanto grande cobria o corpinho magro enquanto os ombros caídos deixavam
perceber que o tamanho da peça era maior do que o corpo que a usava. Só posso
dizer, que aproveitava cada minuto, sem interrupção, para dedicação total à
leitura e a realização de seus exercícios. Olhando ao redor, reparando nos
jovens da sua idade e até mesmo nos adultos ocidentais, constatei que, com
raríssimas exceções, a maioria deles se ocupava com celulares, perdidos nos
Whatsapps e Facebooks da vida, jogos eletrônicos, quando não traziam os ouvidos
tapados por fones a escutarem a cansativa música atual, alguns, em um volume
exageradamente alto que deixava passar um zunzunzum irritante.
Mas, você, menina de ouro, que nem me conhece e nem percebeu
que havia uma observadora a te contemplar, se preparava para a luta da vida,
gastando seu precioso tempo e desperdiçando horas de lazer para sua formação
futura. Você sabia que tempo é ouro e ouro não se joga à toa. Enquanto os
adolescentes ao seu redor entediavam-se com tanta diversão, adquiria cultura e
saber.
Tenho que te dizer algo, sei que talvez nunca entre neste
blog e leia estas páginas que aqui escrevo até comovida. Saiba que me emocionei
com sua figura compenetrada e séria. Saiba que do fundo do meu coração, te
desejo a maior sorte deste mundo e, certamente, ela virá, pois a ventura é
amiga do trabalho e a quem a ele se dedica. Enquanto muitos se lamentam no
porvir a queixarem-se da pouca sorte, em breve, você estará encaminhada, certamente com
um curso superior bem feito, que lhe garantirá a certeza da formação de um
profissional competente e dedicado a seu trabalho. Para você e para poucos a sua semelhança, que vencem pelo esforço, não haverá a rotulação de carente, de sem
chance, de sem isso, de sem aquilo, como muitos que sem a sua força de vontade,
assim são chamados e precisam ser amparados pelos órgãos públicos.
Tenho absoluta certeza de que você, dedicada menina, também
não escolherá veredas obscuras da vida e nem se perderá em uma delas, pois seu
vício maior é o trabalho, que cedo se inicia em forma de estudo e alimento da
alma.
Que não te invejem no futuro, que não sejas agredida ou
roubada, pois fizestes por merecer um lugar ao sol, enquanto aqueles que te
invejarão amanhã, mal sabem o quanto fizeste para chegar onde chegou. Que Deus
te proteja e boa-sorte!