domingo, 30 de julho de 2023

Relíquias...

 



(A piorra - Google search)


Muito tempo já se passou em minha vida e da mesma forma, com a dos meus contemporâneos. Quantas vezes nos pegamos a ouvir músicas que abordam o tema saudade em referência ao passado. Posso enumerar aqui os títulos de algumas delas: "Jovens tardes de domingo", cuja letra relembra momentos outrora felizes de adolescentes que hoje estão na idade madura; "Rapaziada do Brás", maravilhosa letra que ilustra o tranquilo ambiente do Brás da cidade de São Paulo, hoje tão tumultuado; "Pequeno realejo", uma referência a dias longínquos em que o realejo (pequeno instrumento de apenas uma corda que reproduz melodias quando se aciona uma manivela) era tocado na infância do compositor cuja lembrança o faz sofrer ao lembrar da mulher amada...

E não para por aí, acredito que muitos se recordem dessas pérolas que fazem referência a um tempo melhor, pois o nosso passado é sempre o melhor em referência ao presente duro e dificultoso sem o sabor da juventude audaciosa e sonhadora enquanto o futuro é incerto e amedrontador. Muitos poetas abordaram o assunto, alguns com maestria e grande dose de sensibilidade como é o caso de Casimiro de Abreu com seu comovente "Meus oito anos" (Ah, que saudades que eu tenho da aurora da minha vida...); Olavo Bilac com sua famosa frase "Saudade- presença de ausentes" ou ainda a delicada Cecília Meireles com "Retrato" ("Em que espelho ficou perdida a minha face?"). Acredito que Saudade seja uma das matérias preferidas de autores românticos ou não, cada pensador encarando-a sobre seu prisma de raciocínio.

Eu, do meu canto, sou mestra em senti-la romanticamente, sem esquecer de que muitos idiomas não possuem em seu vernáculo essa palavra Saudade necessitando, de frases para exprimi-la ou até mesmo utilizando vocábulos que se adaptem a esse significado tão presente e companheiro do coração! São situações tão distantes pelo amarelado do tempo que de momento a momento afloram à memória, materializando cenas significativas, sejam de cunho afetivo, amoroso, triste, de perdas e muito mais. 

Quando essa profusão de cenas me ocorre, preciso urgentemente registrar em palavras, através desse caderno quase solitário que foi uma das coisas que criei na modernidade e que mais me realiza, uma vez que quando escrevo,  sinto eternizar e perpetuar no meu âmago, passagens que fazem valer a minha existência e que me tornaram o que sou hoje.

Saudades dos antigos objetos, dantes tão importantes: do velho relógio de corda, sem o qual não poderia cumprir horários e obrigações ao vetusto pilão e socador de alho, aliado indispensável das antigas cozinheiras; bem como brinquedos esquecidos como o interessante bilboquê de madeira que atualmente tornou-se relíquia, ou o  gordo pião, personagem constante das ruas, causador de disputas e brigas infantis... A piorra barulhenta que agradava as crianças com seu giro interminável de cores...

Seria uma lista imensa de coisas e coisas, de cenas e cenas que fizeram e continuam escrevendo a história de nossas vidas, ah, a saudade!