quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

 

O título desse texto, fala de uma possível volta através do tempo e do espaço...


Reencontro


Eu te conheço de tempos imemoriais...

Não sei precisar de quando, se há centenas, milhares ou até mesmo milhões de anos, ou de séculos. O inexplicável se faz presente nesse caso. Só sei dizer que quando te vi pela primeira vez, senti essa sensação de conforto, bem-estar que só se atinge quando laços infinitos ocorreram desde as mais remotas épocas. Não há certezas sobre a imortalidade da alma, nem da existência de outras vidas, mas, seguramente, do fundo do meu ser, sinto aquela familiaridade, aquela proximidade que só duas almas gêmeas podem sentir...

Uma pena que a distância foi sempre uma constante em nossas vidas, o afastamento de tudo aquilo que embalava o corpo e o espírito foi mais forte e o crepúsculo chegou insensível, trocando o sonho pela realidade crua, fria. Apesar de a vida ser um navio que não podemos governar e  que nos leva a inúmeros continentes, você sempre vai ser a primeira página do livro de minha memória, e nesse caso, o que é o espaço físico, se em um segundo, atravesso a barreira do tempo e revivo os poucos momentos que compartilhamos juntos em sintonia perfeita como só o Cosmo pode ser...

Eu te conheço de tempos imemoriais... Não sei se isso ocorre contigo também, mas acredito do fundo do meu coração, que sim...

 Que estradas anteriores trilhamos, que momentos vivemos juntos em uníssono, que tipo de relacionamento tivemos? Por que essa certeza de harmonia e conexão tão profunda? Quando me perco nessas divagações, o que me vem à mente são páginas amareladas de um livro envelhecido, decorado com lindas guirlandas de flores silvestres a enfeitar uma trilha distante, mas tão presente que me acompanha por toda essa existência.

Se há uma música que possa representar tudo isso, esse amor infinito, milenar é a Serenata de Schubert, cuja doçura e romantismo são profundos e voláteis como a vida... Até mesmo o segundo movimento tão doce da Patética de Beethoven também seria propícia;  a parte final do Noturno opus 9 de Chopin já representaria em sua  tristeza,  a saudade, a impossibilidade do re-encontro. Certamente, trago um espírito muito antigo, onde o clássico sempre ocupou o primeiro lugar, as valsas inebriantes de Strauss parecem me transportar para vetustos  salões  de baile, onde rodopiavam saias imensas  a farfalhar fartura de tecidos, a espalhar perfumes de sândalo e de flores pelo ar.

 Já sei que nessa passagem não mais nos uniremos, nem mesmo para um simples diálogo que poderia ser capaz de constatar essa irmandade de almas. As convenções sociais, o peso do nosso ego e toda a carga emocional que carregamos em nosso pobre cérebro, não deixam que sejamos livres como as crianças o são ao manifestarem suas vontades.

Às vezes, me ponho solitária a olhar para o céu e as estrelas, procurando uma justificativa para esse mistério que me atormenta a respeito da imortalidade da alma, da comunhão com pessoas como tu, que nunca deixaram de ocupar lugar na minha memória. Não se trata de brincadeira, ou até mesmo de traição a outros que nos são caros, o ser humano tem uma capacidade enorme de amar, se a alma não é pequena, como dizia o nosso grande Fernando Pessoa, porém, é uma lacuna muito grande, que a todo o momento precisa ser preenchida ou até mesmo, amortecida com o apoio e carinho desses anjos que nos rodeiam e nos prezam, presentes e que  fazem valer o nosso difícil  dia a dia.

Aprendi a duras penas que a vida é um sopro, que pode se esvair no esconder da lua em uma nuvem rendada, através do pôr do sol, ou durante o cair dos pingos de uma chuva. O que virá depois é um mistério indesvendável para nós, pobres mortais, incertos e ignorantes de todas as leis que nos regem. Mas, apesar de tudo, quando tudo acabar, fica o sentimento do possível reencontro, em qualquer dia, hora ou lugar...