terça-feira, 19 de março de 2013


Onde está o tão falado amor que se prega hoje?



Os valores que o mundo ocidental tem valorizado estão muito longe do ideal. A globalização que envolveu e continua envolvendo países com sua ardilosa retórica traz com a modernidade, incentivo ao consumo e valorização do material levando à extinção das emoções e dos bons sentimentos humanos que dantes eram considerados como a retidão de caráter que qualquer cidadão de bem devia apresentar...





Algumas das mais belas qualidades do mundo oriental são o amor e o respeito dedicados aos idosos que se encontram na última fase de vida. Ao contrário das outras civilizações do ocidente, um velho é considerado pela experiência de vida, sobretudo pelo conhecimento adquirido ao longo dos anos. E a despeito das lacunas de memória que alguns possam apresentar, há da parte dos mais jovens uma educação primorosa que reconhece a dedicação que eles ofereceram aos mais novos durante sua vida num agradecimento pelo trabalho que eles gastaram com carinho e sorriso nos lábios ao carregar os pesados fardos da formação dos filhos e netos. Por tudo isso, se deve valorizar essa atitude oriental tão singular nas pessoas mais jovens, coisa de se admirar em contraste com o nosso tão apodrecido ocidente que nessa questão, mostra o reverso da medalha na maioria dos casos observados.
Geralmente aqui, aqueles que levaram toda uma vida de sacrifício para educar e dar uma formação aos filhos e netos são considerados estorvo, semelhantes a um sofá velho qualquer que se joga fora sem hesitaçao alguma. Esquece-se de que estes idosos têm sentimentos e que nessa fase crepuscular da existência só contam com o amor dos familiares cujos membros são os únicos com os quais podem compartilhar suas tristezas, sofrimentos, saudades e alegrias. Eles são seu orgulho, sua razão por ainda continuarem vivos.
Mas não há paciência suficiente para ampará-los nessa fase sofrida: fazem sujeira, não mostram um visual socialmente aceito por aqueles de personalidade fraca e superficialista que só valorizam dinheiro, aparência física e futilidades que para nada lhe servirão, sobretudo como forma de crescimento espírito-intelectual. À semelhança dos jovens pais que precisando trabalhar colocam a atividade profissional em primeiro plano e depositam os filhos em creches e instituições privadas de educação maternal e infantil (com a diferença de que estes não têm como dar sustento aos pequenos se não trabalharem) estes desnaturados num gesto frio e racional resolvem seu problema delegando às famigeradas casas de repouso, que proliferam hoje em todos os lugares, aqueles que lhes deram a vida e os ampararam quando não eram capazes de se conduzir por suas próprias pernas, e que toleraram todo o tipo de indisciplina e irreverência. Esses pobres abandonados ontem, suportaram toda a sorte de desrespeito e deram  em troca o amor.
Quantas fraldas trocadas, quantas horas de vigília nos momentos de doença velada com preocupação, numa dedicação sem fim... Quantas renúncias em prol daqueles que hoje não podem sequer suportá-los, tratando-os com aspereza e todo o tipo de repreensão! Sem lembrar as inúmeras vezes do gesto de doar sem nada cobrar, o alimento não ingerido para prover o desenvolvimento da prole, o desgaste diário do trabalho, às vezes insano pela falta da formação exigida, no afã de trazer o melhor para a família.
Não há como compreender o que sucede hoje nos lares, se é que podemos assim chamar esses locais onde não há mais a retribuição, onde o amor não é correspondido e devolvido num momento tão difícil como o é a velhice...
E de nada adianta falar-se em “melhor idade” ou outros termos paliativos e felizes para representar uma fase em que não se deseja a companhia de estranhos apenas,em entidades e associações  que desenvolvem atividades em um grupo segregado e excluído, por que não dizer marginalizado justamente por aqueles que mais os deviam acolher.
São esposas que não têm a fibra moral e a disposição necessária para ajudar maridos que acometidos de enfermidades já não são autosuficientes, entregando-se a um comodismo a toda prova. Maridos e filhos que se perdem em aventuras amorosas, passeios sem fim e irresponsabilidade total não oferecendo a devida dedicação necessária no fim da vida, jogando-as em instituições de “repouso” onde ali ficam como muitos dizem “até que a morte se lembre delas”.
Mas onde é que estamos? Como não reconhecer que foram depositados nesses lares para que não importunem, para que não dêem trabalho e impeçam o lazer desses eternos desocupados que só pensam em si, num egoísmo ridículo e até assustador?
As já citadas “casas de repouso” na verdade, apesar das afirmações hipócritas de que são uma maravilha e até podem ser em alguns casos, diga-se de passagem, não podem ser o melhor para aqueles que mais do que nunca querem estar perto dos que lhes são caros, com quem sempre conviveram e amaram. Quem gosta de ficar num lugar estranho, longe do aconchego familiar, apenas convivendo com as amarguras e tristezas alheias ali reunidas, numa amostra diária de qual será o seu fim, tratado por estranhos sabe-se lá como...
Onde está a solidariedade humana que incentiva, ajuda à cura, busca a saúde e recuperação dos seus? Será que ela ainda existe em algum lugar nesse planeta imbecil, dessa nossa sociedade artificial?
Ao ler esse texto, muitos poderão se perguntar: é fácil falar e escrever, o difícil é arregaçar as mangas e agir... Mas quem disse que será tarefa fácil acolher seus idosos? É tão difícil como foi para eles cuidarem dos mesmos que se indignarem com minhas palavras. Justo nos dias de hoje, onde igrejas e associações beneficentes lotam o mundo, vemos o amor, a compreensão e humanidade cada vez mais longínquas e sem possibilidade alguma de voltarem a habitar os corações dos ditos “humanos” que apresentam atitudes indesejáveis não apresentadas até pelos animais mais selvagens.
Não se observa mais a sensibilidade necessária para essa retribuição de amor e carinho recebidos na infância, ao invés, nota-se que a frieza, o calculismo e o descaso tomaram seu lugar. Hoje, se gasta grande parte dos salários com essas instituições “salvadoras” que segregam os velhos até que sejam buscados pelas frias mãos da morte e que, na realidade, são casas de negócio, muito bem geridas para dar lucro, pois se não o conseguem, fecham as portas. Desse modo, há um plano de gestão econômico na alimentação, no número de funcionários, na atenção dedicada, no mobiliário e na roupa oferecida, enfim, por melhores que sejam, são lugares deprimentes, que obedecem a um rigoroso horário de visitas, que não permitem um compartilhamento familiar que, aliás, já nem existia dantes... 
Há uma série de questões que envolvem esse “internamento” dos idosos: haverá a paciência desses que lhe são estranhos nas horas de trabalho, se nem em casa a tiveram? A medicação para que se aquietem será uma constante? Suas necessidades serão atendidas de pronto? Ninguém poderá afirmar com certeza, a não ser se for uma personalidade cuja hipocrisia e dissimulação escondem sentimentos mesquinhos jamais revelados...
Se cuidar de idosos estivesse condicionado ao recebimento de uma herança, tenham a certeza de que as coisas mudariam de figura!Haveria briga entre filhos e parentes para tomarem conta deles...
E como é triste o fim desses pobres desamparados... Definham por muito tempo a cada dia e noite, no início, enganando-se com a vã esperança de voltarem ao amado lar entregando-se finalmente à certeza de que nada mais lhes resta a não ser a solidão e a morte.
É preciso que todos acordem desse pesadelo do desamor enquanto é tempo, aprimorem as personalidades indolentes que têm medo de trabalhar e cuidar melhor do que é preciso. Também é preciso deixar de se viver de modismos e imitações da vida de ficção dos que consideram “status” de classes privilegiadas dar um “ótimo atendimento” nas casa de repouso aos seus velhos. É preciso a aquisição de paciência para com aqueles que nos deram a vida, a retribuição por aquilo que recebemos. É preciso sobretudo raciocinar, entender o que é a vida, porque muitos ainda não sabem o que ela é.
Aos egoístas apenas importa a sua vida mesquinha e insignificante, ao altruísta,valorizar cada vida humana,  suas necessidades, demonstrando a riqueza de caráter, a espiritualidade e os nobres sentimentos...