Onde
está o tão falado amor que se prega hoje?
Os valores que o mundo
ocidental tem valorizado estão muito longe do ideal. A globalização que
envolveu e continua envolvendo países com sua ardilosa retórica traz com a
modernidade, incentivo ao consumo e valorização do material levando à extinção das
emoções e dos bons sentimentos humanos que dantes eram considerados como a retidão
de caráter que qualquer cidadão de bem devia apresentar...
Algumas das mais belas
qualidades do mundo oriental são o amor e o respeito dedicados aos idosos que
se encontram na última fase de vida. Ao contrário das outras civilizações do
ocidente, um velho é considerado pela experiência de vida, sobretudo pelo conhecimento
adquirido ao longo dos anos. E a despeito das lacunas de memória que alguns
possam apresentar, há da parte dos mais jovens uma educação primorosa que
reconhece a dedicação que eles ofereceram aos mais novos durante sua vida num
agradecimento pelo trabalho que eles gastaram com carinho e sorriso nos lábios
ao carregar os pesados fardos da formação dos filhos e netos. Por tudo isso, se
deve valorizar essa atitude oriental tão singular nas pessoas mais jovens,
coisa de se admirar em contraste com o nosso tão apodrecido ocidente que nessa
questão, mostra o reverso da medalha na maioria dos casos observados.
Geralmente aqui, aqueles que
levaram toda uma vida de sacrifício para educar e dar uma formação aos filhos e
netos são considerados estorvo, semelhantes a um sofá velho qualquer que se
joga fora sem hesitaçao alguma. Esquece-se de que estes idosos têm sentimentos e
que nessa fase crepuscular da existência só contam com o amor dos familiares
cujos membros são os únicos com os quais podem compartilhar suas tristezas, sofrimentos,
saudades e alegrias. Eles são seu orgulho, sua razão por ainda continuarem vivos.
Mas não há paciência
suficiente para ampará-los nessa fase sofrida: fazem sujeira, não mostram um visual socialmente aceito por aqueles de personalidade fraca e superficialista que só
valorizam dinheiro, aparência física e futilidades que para nada lhe servirão,
sobretudo como forma de crescimento espírito-intelectual. À semelhança dos
jovens pais que precisando trabalhar colocam a atividade profissional em
primeiro plano e depositam os filhos em creches e instituições privadas de
educação maternal e infantil (com a diferença de que estes não têm como dar
sustento aos pequenos se não trabalharem) estes desnaturados num gesto frio e
racional resolvem seu problema delegando às famigeradas casas de repouso, que
proliferam hoje em todos os lugares, aqueles que lhes deram a vida e os
ampararam quando não eram capazes de se conduzir por suas próprias pernas, e que toleraram todo o tipo de indisciplina e irreverência. Esses pobres abandonados ontem, suportaram toda a sorte de
desrespeito e deram em troca o amor.
Quantas fraldas trocadas,
quantas horas de vigília nos momentos de doença velada com preocupação, numa
dedicação sem fim... Quantas renúncias em prol daqueles que hoje não podem
sequer suportá-los, tratando-os com aspereza e todo o tipo de repreensão! Sem lembrar
as inúmeras vezes do gesto de doar sem nada cobrar, o alimento não ingerido para
prover o desenvolvimento da prole, o desgaste diário do trabalho, às vezes
insano pela falta da formação exigida, no afã de trazer o melhor para a
família.
Não há como compreender o
que sucede hoje nos lares, se é que podemos assim chamar esses locais onde não
há mais a retribuição, onde o amor não é correspondido e devolvido num momento
tão difícil como o é a velhice...
E de nada adianta falar-se
em “melhor idade” ou outros termos paliativos e felizes para representar uma fase em que não se
deseja a companhia de estranhos apenas,em entidades e associações que desenvolvem atividades em um grupo
segregado e excluído, por que não dizer marginalizado justamente por aqueles
que mais os deviam acolher.
São esposas que não têm a
fibra moral e a disposição necessária para ajudar maridos que acometidos de
enfermidades já não são autosuficientes, entregando-se a um comodismo a toda
prova. Maridos e filhos que se perdem em aventuras amorosas, passeios sem fim e
irresponsabilidade total não oferecendo a devida dedicação necessária no fim da
vida, jogando-as em instituições de “repouso” onde ali ficam como muitos dizem “até
que a morte se lembre delas”.
Mas onde é que estamos? Como
não reconhecer que foram depositados nesses lares para que não importunem, para
que não dêem trabalho e impeçam o lazer desses eternos desocupados que só
pensam em si, num egoísmo ridículo e até assustador?
As já citadas “casas de
repouso” na verdade, apesar das afirmações hipócritas de que são uma maravilha
e até podem ser em alguns casos, diga-se de passagem, não podem ser o melhor
para aqueles que mais do que nunca querem estar perto dos que lhes são caros, com quem sempre
conviveram e amaram. Quem gosta de ficar num lugar estranho, longe do aconchego
familiar, apenas convivendo com as amarguras e tristezas alheias ali reunidas,
numa amostra diária de qual será o seu fim, tratado por estranhos sabe-se lá
como...
Onde está a solidariedade
humana que incentiva, ajuda à cura, busca a saúde e recuperação dos seus? Será
que ela ainda existe em algum lugar nesse planeta imbecil, dessa nossa
sociedade artificial?
Ao ler esse texto, muitos
poderão se perguntar: é fácil falar e escrever, o difícil é arregaçar as mangas
e agir... Mas quem disse que será tarefa fácil acolher seus idosos? É tão
difícil como foi para eles cuidarem dos mesmos que se indignarem com minhas
palavras. Justo nos dias de hoje, onde igrejas e associações beneficentes lotam
o mundo, vemos o amor, a compreensão e humanidade cada vez mais longínquas e sem
possibilidade alguma de voltarem a habitar os corações dos ditos “humanos” que
apresentam atitudes indesejáveis não apresentadas até pelos animais mais selvagens.
Não se observa mais a
sensibilidade necessária para essa retribuição de amor e carinho recebidos na
infância, ao invés, nota-se que a frieza, o calculismo e o descaso tomaram seu
lugar. Hoje, se gasta grande parte dos salários com essas instituições “salvadoras”
que segregam os velhos até que sejam buscados pelas frias mãos da morte e que, na
realidade, são casas de negócio, muito bem geridas para dar lucro, pois se não
o conseguem, fecham as portas. Desse modo, há um plano de gestão econômico na
alimentação, no número de funcionários, na atenção dedicada, no mobiliário e na
roupa oferecida, enfim, por melhores que sejam, são lugares deprimentes, que
obedecem a um rigoroso horário de visitas, que não permitem um compartilhamento
familiar que, aliás, já nem existia dantes...
Há uma série de questões que envolvem esse “internamento” dos idosos: haverá a paciência desses que lhe são estranhos nas horas de trabalho, se nem em casa a tiveram? A medicação para que se aquietem será uma constante? Suas necessidades serão atendidas de pronto? Ninguém poderá afirmar com certeza, a não ser se for uma personalidade cuja hipocrisia e dissimulação escondem sentimentos mesquinhos jamais revelados...
Se cuidar de idosos estivesse condicionado ao recebimento de uma herança, tenham a certeza de que as coisas mudariam de figura!Haveria briga entre filhos e parentes para tomarem conta deles...
Há uma série de questões que envolvem esse “internamento” dos idosos: haverá a paciência desses que lhe são estranhos nas horas de trabalho, se nem em casa a tiveram? A medicação para que se aquietem será uma constante? Suas necessidades serão atendidas de pronto? Ninguém poderá afirmar com certeza, a não ser se for uma personalidade cuja hipocrisia e dissimulação escondem sentimentos mesquinhos jamais revelados...
Se cuidar de idosos estivesse condicionado ao recebimento de uma herança, tenham a certeza de que as coisas mudariam de figura!Haveria briga entre filhos e parentes para tomarem conta deles...
E como é triste o fim desses
pobres desamparados... Definham por muito tempo a cada dia e noite, no início, enganando-se com a vã esperança de voltarem ao amado lar entregando-se
finalmente à certeza de que nada mais lhes resta a não ser a solidão e a morte.
É preciso que todos acordem
desse pesadelo do desamor enquanto é tempo, aprimorem as personalidades
indolentes que têm medo de trabalhar e cuidar melhor do que é preciso. Também é
preciso deixar de se viver de modismos e imitações da vida de ficção dos que
consideram “status” de classes privilegiadas dar um “ótimo atendimento” nas
casa de repouso aos seus velhos. É preciso a aquisição de paciência para com aqueles
que nos deram a vida, a retribuição por aquilo que recebemos. É preciso
sobretudo raciocinar, entender o que é a vida, porque muitos ainda não sabem o
que ela é.
Aos egoístas apenas importa
a sua vida mesquinha e insignificante, ao altruísta,valorizar cada vida humana, suas necessidades, demonstrando a riqueza de caráter, a espiritualidade e os
nobres sentimentos...