Hoje, tenho que escrever.
Não por obrigação, não por dever, mas por vontade, necessidade de registrar
alguns momentos bem vividos, doces e únicos. A despeito da falta absoluta de tempo que o trabalho consome, abandono hoje, o formato
dissertativo, agressivo para escrever uma crônica, arrancada do fundo do
coração....
OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS....
Entrando hoje pelo corredor
do prédio onde moro em direção ao meu apartamento, alguma coisa me fez lembrar
da época em que meu primeiro filho tinha
apenas um ano e fizemos uma viagem à Foz de Iguaçu. Veio essa lembrança forte, de repente, como que
trazida pelo vento frio de maio que me agitava os cabelos.
Quanta saudade! Por alguns
instantes, me senti aquela jovem mãe de jeans e camisa, cabelos soltos,
orgulhosa carregando o filho nos braços como quem carrega um príncipe ou um
pequeno anjo de cabelos louros e lisos, rostinho corado e gracioso...
Agora, essa cena me parece
tão distante como uma foto amarelada do álbum de fotografias esquecido no
guarda-roupa do meu quarto. Por instantes, relembrei a antiga casa, a alegria
da infância barulhenta e sua presença forte se fez sentir em todo o meu ser!
Lembrei-me dos antigos brinquedos espalhados pela casa, enchendo corredores e
quartos. Hoje, o vazio, a casa silenciosa e sossegada longe da algazarra
daqueles tempos cheios de vida. Uma
lágrima me surpreendeu em meus olhos e relutou em cair, enquanto me recordava
da imagem do Ferrorama da Estrela, que montado ocupava quase que toda a pequena
sala, levando apressadamente seus vagões, passando por pontes, engatando e
desengatando seus carros pela via até que viesse o cansaço daquelas mãozinhas
incansáveis. Que pena, os tempos não correram, voaram, os ladrões que
assaltaram nossa nova casa levaram esse presente maravilhoso de infância que a
avó cuidadosamente escolhera para presentear o neto querido...
Lembro-me sim, da jamanta
cegonheira que carregava os carros de passeio e que efetuava várias manobras ao
pressionar seus botões de comando! Da coleção Comandos em Ação, do Caça Bombardeiro, das bonecas da irmãzinha nascida três anos depois, carro da Barbie, Moranguinho e tantos outros que me vêm agora à cabeça!
E você, meu filho, hoje um
homem que carrega sua linda criança nos braços me pergunta se ainda me lembro
desses brinquedos?
Como poderei esquecê-los? São parte da minha vida e embora já apareçam distantes em um passado amarelado,
posso ainda dizer que foram os melhores momentos que passei em toda a minha
existência, instantes sublimes que se comparados à podridão desse mundo que hoje
perante nós se descortina, revelam-se tão sublimes que conseguem me arrancar lágrimas de
saudade!