terça-feira, 8 de novembro de 2022

 




O dia mundial da água  já passou... Foi em 22 de março. Criada em 1993, pela Organização das Nações Unidas, (ONU) essa data traz como objetivo principal a preservação dos mananciais de qualquer tipo ou tamanho como garantia da sobrevivência do ser humano nesse planeta magnífico chamado Terra.



Foto do rio Tietê na cidade de Salto (maio de 2022).


Terra, planeta água?


Parece inacreditável,  mas a foto acima é do rio Tietê. Servindo populações de todo o Sudeste nacional por mais de 6000 anos, essa fonte importante abastece uma grande parte do interior paulista, percorrendo 1100 quilômetros, abastecendo 62 municípios paulistas antes de desaguar em outro gigante; o rio Paraná. O incrível nisso tudo é que nasce na Serra do mar a aproximadamente 22 quilômetros do oceano, mas a geologia do terreno, faz com que ele tome o caminho inverso...

Se alguém já teve a chance de visitar a sua nascente, pôde perceber a diferença na qualidade da água. A foto que ilustra o texto foi tirada por mim e mostra a degradação, a miséria humana, sua capacidade e poder de destruição. Deus nos dá a pureza, a garantia de uma vida saudável e o homem  transforma em veneno, tornando impraticável a potabilidade daquelas águas. 

Estamos brincando com a natureza? O que ela tem a nos devolver com essa atitude insana, irresponsável? É do conhecimento de muitos que a água própria para o consumo, a chamada água potável existe na proporção de apenas 2,5 % em nosso planeta.  

As agressões começam nas grandes cidades, em São Paulo, por exemplo, é tradicional um grande rio como o Tietê servir de esgoto, receber lixo e detritos sem tratamento sério, obtendo como resultado mudanças lúgubres nesse manancial, que se manifestam pela cor escurecida, textura grosseira e odor insuportável. Entretanto, infelizmente, como é grande o poder de adaptação do homem,  todos acostumam-se com essas irregularidades, fechando os olhos para o problema ou lavando as mãos à moda de Pilatos... Afinal, a labuta diária,  corrida pelo dinheiro, a falta de planejamento e  organização social afastam as atitudes racionais que deveríamos tomar, repudiando essa situação inadmissível.

Aqui na capital paulista, inúmeros foram os mandatos de prefeitos  que fecharam os olhos e apesar de slogans como "Cidade Belezura", Cidade Linda" entre outros,  jamais moveram uma palha para mudar esse quadro triste, e pelo que podemos perceber o rio Tietê está morrendo aos poucos. Viajando de São Paulo para a cidade de Salto podemos constatar essa triste realidade; a eutrofização, ou seja, a poluição das águas por detritos faz crescerem as algas, em consequência disso,  há redução de oxigênio e morte do ecossistema aquático.  Do alto da pequena serra na Estrada dos Romeiros, temos a visão da perda tremenda de grande parte do rio, inclusive, trechos consideráveis em que a água foi substituída pelas algas...

Não entendi até o dia de hoje o porquê de slogans que não condizem com o estado real das coisas... Como desconsiderar um tesouro destes  de que o Brasil dispõe, enquanto outras nações sofrem com a escassez de rios e lagos? Como não arregaçar as mangas e colocar os mananciais como prioridade, como principais fontes de saúde e vida para a população? Os termos"Belezura" e "Linda" soam jocosamente quando passamos e constatamos essa calamidade toda.

Grande alarde é feito hoje em eventos internacionais que tratam do meio ambiente, a falácia toma conta dos homens públicos e dirigentes de países que levam seus depoimentos em nível mundial, mostrando em seus discursos a existência de  grandes projetos, cuja  realização  na prática não acontecem. Vemos a cada dia a extinção das águas potáveis, lençóis freáticos, dos nossos rios e mares sem que nada seja feito de eficiente, que corte o mal pela raiz, que garanta a sobrevivência dos nossos ecossistemas.Uma grande parcela da sociedade é terrivelmente culpada por tudo isso: grandes e pequenas empresas inconscientes que lançam seus resíduos industriais nas águas; grandes mineradoras que maculam com mercúrio o ambiente aquífero visando apenas poder e dinheiro; da mesma forma grupos do agronegócio poluem as águas com uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos; pessoas que utilizam o curso dos rios para nele escoarem embalagens, detritos, animais mortos  e até móveis numa amostra deplorável da ausência de cidadania e empatia. Sabemos de longa data, que as propriedades da água são ausência de cor, de cheiro e sabor. Qualquer criancinha no início de sua instrução acadêmica é orientada nesse sentido, então por que continuamos ou deixamos que essas ações aconteçam, que essas propriedades sejam alteradas?

Países bem estabelecidos financeira e, sobretudo, culturalmente já passaram pelo problema e o resolveram como o caso do rio Tâmisa da Inglaterra,  que travou uma luta incansável durante os anos de 1850 a 1970, entendendo o valor daquele recurso para o país . Da mesma forma, a Europa realizou um trabalho magnífico com  rio Reno durante 20 anos,  e dispondo de 15 bilhões de dólares para  a despoluição de produtos industriais e agrícolas que maculavam a pureza das águas. 

Muitos amigos com quem converso diariamente em um grupo da adolescência, alegam que o rio Tietê ao noroeste do estado ainda está bem cuidado, mas todo o cuidado é pouco, é preciso manter a vigília diária, a reação pronta contra qualquer tipo de ameaça e isso independe de apenas uma região, uma vez que se os detritos aumentam no leito de um rio vão contaminando todo o seu  percurso fluvial.


Para que um tesouro do quilate do rio Tietê seja resgatado, é necessário antes de tudo, vontade, consciência, humanidade, ética, sensibilidade e porque não dizer espírito de trabalho. Tratamento de  qualidade na questão de esgoto, fiscalização criteriosa dos grupos empresariais; fiscais éticos que não façam olhos grossos à causa; população mais educada e passível de punição em caso de crime ambiental; do contrário só teremos doenças e morte. 

De nada valem os discursos vazios em grandes congressos, porém,  distantes da realidade. Palavras que se esvaem ao vento...