quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Boa-noite, caro leitor. O tema hoje é saudade, o sentimento presente na alma daqueles que já viveram  bons momentos e os guardam com respeito num cantinho do coração porque sabem que eles não voltam jamais com a intensidade que foram vividos...

Praça da cidade de Alfredo Castilho (julho/2015)

Velhos tempos, belos dias


Nas últimas férias de julho resolvemos eu e meu marido relembrar o cenário singular de nossa infância, percorrendo vários quilômetros que nos separavam de nossa terra natal.
A ansiedade que nos acompanhava crescia à medida que o carro engolia  quilômetros e se aproximava do destino.
As paisagens familiares da região noroeste do estado de São Paulo exibiam com frequência, lindos e floridos ipês rosa que invadiam o ar com o perfume de suas flores brilhantes ao sol, apesar do vento frio que soprava...
Na verdade, nunca assumira essa saudade, me fazia de forte, mostrando-me perfeitamente adaptada à vida turbulenta da cidade grande, mas confesso que a proximidade do passado foi aos poucos me sufocando e produzindo um aperto na garganta e no coração.
Oh! Que belos campos e árvores frondosas que já haviam abandonado meus pensamentos, ultimamente povoados pelo cimento maciço de prédios, aglomerados de casas, empresas e ruas superlotadas a qualquer hora do dia ou da noite.
Paulatinamente, o meu espírito interiorano de origem identificou-se com o cenário e o ritmo das cidades por que passávamos.
Entrada da pequena cidade de Alfredo Castilho, terra de meu marido: aquela que era uma vilinha, hoje mais se assemelha a uma cidade de porte mediano. Onde estão as ruas poeirentas de terra, as casas simples de outrora, separadas por sebes e cercas de madeira? Onde estão os velhos amigos deixados na fumaça do tempo?
E a velha praça de folguedos infantis, de namoricos juvenis, em que lugar se escondeu? Tudo mudou, se modernizou, a antiga e velha casa hoje totalmente reformada, violada, mascara tudo que se viveu entre suas paredes.
Amigos... A grande maioria já repousa eternamente no velho cemitério da cidade. Os que se podem encontrar apesar da alegria do reencontro, mostram no rosto as marcas do tempo e da vida, a pintura do tempo nos cabelos e o cansaço da jornada nos pés.
Por todas as cidades visitadas o sentimento é o mesmo: saudade e desilusão por não resgatar mais o tempo perdido, pela impossibilidade de viver hoje o que se viveu ontem; as manhãs e tardes gloriosas coloridas da adolescência onde a poesia enfeitava tudo com sua renda sedutora.
Meu Deus! por que não parar o tempo na mais linda fase da vida, onde a alegria pueril acompanha a vida em todos os seus momentos?
Infelizmente, tudo mudou. A praça principal já não é a mesma dos anos dourados, a violência, a depredação invadiram e tomaram lugar, estampadas na grama seca e sem vida em lugar da relva verde e viçosa de outrora; as árvores tristes e secas pela falta de chuva, a fonte luminosa que exibe suas águas turvas, poluídas pelo lixo.
E o velho colégio onde estudei na minha querida cidade de Araçatuba, nada mais se parece com aquele prédio bem cuidado e cheio de vida nos invejáveis bons tempos da educação que hoje tentam  arremedar!
Os versos de Casimiro de Abreu ecoaram por várias vezes em meu pensamento em quase todos os lugares por onde passava: "Oh! que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!"
O prazer do reencontro é imensurável, o resgate do passado, embora machuque, é saudável e traz doces lembranças... E se recordar é viver, vivemos com grande intensidade estas nossa férias...