Mais um Natal que chega, desta vez vestido de cinza, sem aquele toque
tradicional de magia e festa como sempre costumamos esperar e sentir. 2020 foi um
ano surpreendente e ao mesmo tempo de mudança de vida, mas os hábitos que
surgiram foram desagradáveis: uso de máscaras, excesso de cuidados de higiene,
coisas que foram nos distanciando obrigatoriamente do costumeiro conviver com
as pessoas, troca de afetos e carinho. O gelo da distância marcou ainda mais e
foi afastando pouco a pouco os seres em todos os setores: no trabalho, na
família, nas reuniões sociais e afetivas.
Ah, e o malfadado grupo de risco! Quanto medo, quanta orientação e
presença diária de slogans e depoimentos massivos que mataram muita gente de
medo e de depressão ...
Não pudemos oferecer apoio moral à família, comparecendo para dar o
último adeus àqueles que nos eram caros.
Desta vez, não houve um alerta que sempre me avisa de que o ano está
acabando e que o Natal se aproxima, como avistar de repente lojas
com produtos natalinos à venda em exposição ou propagandas anunciando a chegada
da festa.
O trabalho antes tão próximo de alunos jovens e adolescentes tornou-se
tão vazio, tão vago, resumindo-se a imagens que pouco a pouco foram
desaparecendo das câmeras para dar lugar a fotos ou iniciais congeladas
inexpressivas e estáticas. Os áudios foram silenciando para muitos
que preferiam usar chats e escrever ao invés de falar.
Salas enormes foram se extinguindo para dar lugar a cinco ou seis
participantes, o que ainda trazia imensa felicidade porque
nos fazia acreditar que alguns discípulos confiavam no árduo
trabalho do professor. Reuniões exaustivas na profissão que triplicavam o
volume de trabalho, cansando sobremaneira, muito mais do que da forma
presencial como era dantes...
Trabalhos maravilhosos presenciais de teatro, musicais e de dança
resumiram-se a podcasts feitos com grande sacrifício para
reunir a todos.
Não sei como explicar, mas esse ano não haverá Natal. Não como sempre
foi, com a liberdade de expansão de sentimentos, comunicação e
confraternização. A miséria econômica gerada pelo desemprego massivo, será
responsável por menos sorrisos nos rostinhos infantis, menor acolhida àqueles
que já não podem mandar um desafio a um novo ideal pelo avançado da idade...
As mudanças não serão
estáticas, não terminarão com a chegada de uma tão aguardada vacina... Sinto
que uma brusca alteração na ordem das coisas, será um processo contínuo, um
domínio do tecnológico em detrimento do humano, anunciando friamente que o
fantasma da automação que se iniciara no passado, agora solidifica-se e
vem para ficar, tomando espaço maior empurrando o artesanal, a ação humana para
segundo plano, exibindo vaidosamente sua superioridade amedrontadora na perfeição artificial, breve substituta de muitos ofícios que dependiam outrora do ser humano.
É um Natal de meditação, de preocupação com o futuro, em que a consciência
social não trará ajuda ante a monstruosa proporção da crise que se
avizinha e progressivamente dá seus passos assustadores...Elevemos nosso
pensamento aos céus esperando o melhor, que nada disso se torne realidade, amém ...