quarta-feira, 22 de novembro de 2023

A primeira vez

 Para tudo há uma primeira vez...


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Existem vários textos com esse título, eu mesma escrevi um conto  infantil com esse nome: a história de uma mulher que nunca saía de dentro de sua casa. Não via o céu, o sol, as flores do jardim, os pingos de chuva, até que... Aparece em sua casa, uma velha tia que a puxa para passeios sem fim e pela primeira vez, ela conheceu a natureza a sua volta e deu seu primeiro sorriso...

Mas não é sobre essa produção de texto que vou falar. Em meus constantes passeios pela memória, desta vez, me ocorreu um episódio que também justifica o título deste texto...

Corria o ano de 1966 ou 1965. Não consigo precisar ao certo. Talvez se perguntar para meus velhos amigos e colegas de escola, eles se recordem melhor. O ônibus mastigava as velhas estradas cortando o vento que entrava pelas janelas abertas, sem o hermético fechamento  e ar viciado dos condicionadores atuais. Era uma excursão escolar, coordenada pela nossa professora de Geografia com destino à barragem de Urubupungá. A finalidade era de estudo e pesquisa da área e a mestra era exigente. O caminho todo, corpinho de adolescente em uma calça de helanca (tecido muito usado  naquela década) verde-musgo e uma túnica em juta estampada de flores graúdas, lá estava eu: cabelos soltos ao vento observando tudo a meu redor. A fala da professora Sarah constantemente orientava: estamos em uma vegetação de cerrado ou Mata Atlântica; essa rocha é sedimentar do período mesozoico ou paleozoico.  E quantas paradas para coletas de material de rochas, de espécies vegetais... Cuidadosamente, guardávamos em saquinhos para colar no relatório da excursão; trabalho em grupo que valia nota de peso e todos precisávamos dela para fechar o ano. 

"A primeira vez" aconteceu na volta da excursão. Perante o medo de minha mãe de que não me alimentasse adequadamente, mandara uma lata cheia de empadas que ela mesmo fizera, uma delícia, além de biscoitos. Como não tinha muito apetite, dividi com todos que queriam... Quando uma das amigas e colega de classe, de nome Maria Vilma, mostrou uma mamão que trouxera de casa, amarelinho viçoso  e ofereceu à turma. Todos quiseram um pedaço pequeno, apenas eu não quis, nunca experimentara essa fruta e teimava em  não gostar. Quando recusei, ela não se conformou, questionava o porquê, me dizia convincente que a fruta era deliciosa, docinha e afinal conseguiu me persuadir a provar um naco de mamão. Com cuidado, dei uma mordida e me surpreendi, realmente era muito bom!

A história do mamão foi uma grande lição que minha amiga me deu a chance de aprender. Como saber se gostamos ou não, sem experimentar? Principalmente em questões como as frutas de que todos apreciam. Aqui entraria um debate, pois há coisas que nunca devemos provar na vida... 

Agradeço imensamente e não sei se ela vai se lembrar desse ocorrido que me ajudou e me fez mudar a maneira de pensar.

Obrigada, amiga, por conseguir incentivar com seu persuasivo e convincente discurso juvenil uma garota teimosa como eu!