O Realismo- Naturalismo
apresentou temas polêmicos que não poderiam ser cogitados em outras épocas onde
toda a literatura e ação passavam pelo crivo da Inquisição. Com a perda
do poder do clero, houve maior liberdade em se expor e disseminar as podridões
que eram guardadas a sete chaves...
O
CRIME DO PADRE AMARO – ÚLTIMA PARTE
Essas cenas de visitas de Amaro à casa de tio Esguelhas, a saída regular do
velho para deixar Amélia e o padre a sós, acabam por despertar na filha do
velho um horror e um terrível ciúme de Amélia ao vê-la subir ao quarto com
Amaro e numa das visitas que o cônego Dias faz à paralítica ela lhe conta tudo
o que vê, das idas ao quarto, dos beliscões que o padre dá em Amélia e de toda
pouca vergonha que ela ouve do seu quarto. Perante tal relato, o cônego Dias
sente ímpetos de matar o padre e vai ter uma conversa com ele tentando pôr tudo
em pratos limpos. Amaro reage e se defende jogando-lhe na cara o seu romance
com a senhora Joaneira, ameaça-o e acabam entrando num acordo.
O tempo passa. Numa certa manhã, Amaro procura desesperado o
cônego Dias, Amélia estava grávida. Juntos tentam descobrir uma saída e
planejam casá-la com o seu antigo pretendente, João Eduardo, enquanto a gravidez
estava de apenas um mês. Propõem a solução à Amélia que, a princípio chora e
reluta, mas depois acaba aceitando, o que causa uma certa crise de ciúme em
Amaro deduzindo por si próprio que ela gostou da ideia de trocar de amante. A
criada de Amaro sabe de toda a sua vida, antes ela fora prostituta e o
orienta a procurar uma mulher que servia de ama às crianças que não eram
benvindas e ele se interessa, deixaria
seu filho com essa ama assim que nascesse, dessa forma não despertaria
suspeita.Assim, ele e o cônego vão arquitetando todo o plano para afastar
Amélia de Leiria: Dna. Josefa, irmã do cônego, tivera uma pneumonia e
precisava restabelecer-se no campo, longe da cidade e necessitava de uma
acompanhante, essa seria Amélia que com esse pretexto fugiria dos olhares
curiosos de Leiria. A mãe de Amélia foi facilmente convencida pelo cônego,
difícil foi convencer Dna. Josefa que não queria aceitar o fato de servir de
ajuda indireta a uma vagabunda, como ela dizia, que engravidara de um homem
casado, com certeza...Tudo decidido, Amélia segue viagem para Ricoça, um lugar
distante onde passa o pior período de sua vida, vendo sua gravidez decorrer sob
insultos e humilhações de Dna. Josefa, num tristeza sem fim, sem o amparo do
padre que sumira e este era outro motivo das lamentações de Josefa que o
considerava um santo a serviço de Deus que a abandonara porque ela foi para
aquele fim de mundo por causa de uma mulher qualquer...E assim, a moça
definhava dia a dia, aguardando o nascimento daquela pobre criança inocente que
não tinha culpa de nada. Por essa época, Amélia conhece o abade Ferrão, um
religioso cuja retidão de caráter era singular. A moça conta-lhe tudo o que lhe
aconteceu e ele não se conforma com a tremenda falta de dignidade de Amaro.
Durante as confissões, a orienta e consola, aconselhando-a a aceitar um possível
pedido de casamento de João Eduardo que voltara à Leiria e estava bem empregado
e com situação financeira estabilizada. Amélia vê na figura do abade um pai e
passa a odiar Amaro que aparece uma certa tarde para fazer-lhes uma visita. É claro
que ele não deixa nada transparecer à Dna Josefa, no entanto o desprezo da moça
o irrita profundamente. Nas duas visitas que lhe fizera a atitude fora a mesma
e ele resolve não mais aparecer por ali. Num encontro que tem com a mãe da
Amélia justifica a falta de notícias da moça pela falta de tempo ao cuidar de
Dna. Josefa. Retorna à Ricoça e Dna
Josefa lhe revela a respeito das confissões de Amélia com o abade rotulando-a
de traidora por mudar o seu confessor. Enquanto ela fala, o padre fica pensando,
temendo que ela tivesse contado tudo a respeito dele. Passa a odiá-la e a desejar que a
criança nasça morta, assim como a mãe, pois acabariam assim todos os seus
problemas e ameaças a sua profissão. Passa a tratar a moça com indiferença,
ouvira certa vez que esse argumento funcionava, usa-o e Amélia se joga
novamente em seus braços num momento de carência e fragilidade da gravidez. Por
sua vez, quando a moça tem o bebê, ela nem o vê; Amaro tenciona entregá-lo a uma mulher que matava recém-nascidos
indesejados, porém, arrepende-se quando o pega nos braços e dá dinheiro à
mulher para que cuide dele.
Triste é o fim de Amélia que desespera-se quando não vê o
filho, depois de tão longa e sofrida espera. O abade Ferrão e o médico, Dr Gouveia tentam amenizar a
situação, entretanto o sofrimento da moça aumenta e ela passa a ter convulsões
que acabam por levá-la à morte.Amaro recebe a notícia da morte de Amélia com
desespero, o remorso o corrói, ele tenta resgatar a criança com a ama a quem a
entregara, no entanto ela lhe diz que a criança estava fraca e não resistira.
Desolado, arrependido pela insensatez que causara a morte de
dois inocentes ele se retira para Lisboa, alegando a morte de um irmão, o que
lhe vale uma licença. Antes de partir dá dinheiro para o enterro do anjinho
cuja morte era o responsável indireto. Quanto à Amélia é enterrada em uma
cerimônia triste, longe da mãe e dos amigos. O único amor fiel segue seu
funeral entre lágrimas, João Eduardo que após sua morte vai definhando até ser
acometido por uma tuberculose que também leva sua vida.
Passa-se algum tempo após esses tristes acontecimentos.
Amaro agora em Lisboa encontra-se com o cônego Dias e comentam os últimos
acontecimentos durante o Massacre dos Comunas, uma revolução socialista que reivindica
igualdade de direitos entre os nobres, clero e trabalhadores, lamentando os
fuzilamentos de padres e autoridades por socialistas e republicanos. Por
incrível que pareça os dois padres, Amaro e o cônego, ainda se acham vítimas inocentes das calúnias e não merecedores de tanto desrespeito...
Amaro e o cônego encontram-se ali com o conde de Ribamar
(marido da filha da marquesa para quem a mãe de Amaro trabalhava) o responsável
pela sua nomeação em Leiria. Segundo o conde, as revoluções acontecem e de nada
valem, pois tudo volta a ser como antes, ninguém mais falaria em democracia ou
república, sequer teriam olhos para o mundo de pessoas miseráveis e famintas e
ainda reitera que o povo é privilegiado, pois tudo corre as mil maravilhas...
PRINCIPAIS
PERSONAGENS DESTE LIVRO:
Amélia e Amaro – protagonistas do romance.
Marquesa de Alegros – mulher para quem a mãe de Amaro
trabalhava, financiou seus estudos para padre.
Joana Vieira - mãe
de Amaro, criada da marquesa.
Dna. Luísa – filha mais velha da marquesa.
Tio de Amaro – merceeiro rude e mau que maltrata o menino
Amaro e o põe cedo para trabalhar.
Conde de Ribamar – casado com a filha mais velha da
marquesa, arruma a colocação para Amaro em Leiria.
Padre Silvério – de Leiria, gordo, preguiçoso.
Padre Natário – de língua ferina, vivia blasfemando e
odiava todo o mundo.
Cônego Dias – amante da Sra. Joaneira, mãe de Amélia,
melhor amigo e confidente de Amaro.
Padre Miguéis – grosso
como um aldeão, de maneiras impolidas, arrotava no confessionário.
Padre Gusmão -
falso, de maneiras estudadas para agradar às beatas.
Libaninho – beato,não saía da igreja com jeito afeminado,
não assumido.
Dr Godinho – um puxa-sacos que não se definia
politicamente, dono do jornal.
João Eduardo – apaixonado por Amélia, o amante perfeito, aceitava-a de qualquer maneira.
Ruça – criada da Sra. Joaneira, sofria de tosse crônica,
era magra e tísica.
Dionísia – criada, prostituta, trabalhava para Amaro.
Abade Ferrão – o único padre honesto do romance que
realmente acreditava em Deus e fazia o bem às pessoas.
Dona Josefa – irmã do cônego Dias, mulher de falsa
moralidade que julgava a tudo e a todos segundo sua crença.
Dna. Maria Assunção – outra beata que não saía da barra
dos padres.
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oi
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