Continuando a narrativa, cabe
aqui mencionar que a má-índole que desrespeita a ética e agride os direitos
humanos não ocorre apenas com religiosos, ela prolifera em todos os setores da
nossa sociedade e tem causado inúmeros danos no decorrer do tempo...
O
CRIME DO PADRE AMARO – PARTE II
Alguns dias antes da chegada em
Leiria, Amaro escrevera ao cônego Dias solicitando-lhe que arranjasse uma casa simples para ficar e o cônego
interessado em arranjar uns tostões a mais para a sua amante, Sra. Joaneira, indica-lhe a casa elogiando-a na sua dedicação doméstica. Na verdade, a real
intenção de Dias era dar menos dinheiro à mulher e assim resolvia-se o
problema.
Finalmente, chega Amaro que é
muito bem recebido por todos. Já na casa, simpatiza-se com Amélia à primeira
vista e esta com ele. Era um rapaz jovem e bonito. Com o passar dos dias, essa
amizade vai se transformando em amor mútuo. Desta forma, torna-se difícil
disfarçar o que estavam sentindo um pelo outro e João Eduardo, antes o centro de
atenção de Amélia, sente-se rejeitado e começa a sentir ciúmes daquelas
conversinhas amigáveis entre os dois jovens. Amélia disfarçava bem seus sentimentos,
mas apesar disso, João Eduardo sentindo-se ameaçado, resolve vingar-se de Amaro.Para tanto, consegue a aprovação do dono do jornal onde trabalhava para
publicar um alerta às mães de família contra a falsidade dos padres que se
escondiam atrás de uma batina para levar as moças à perdição.Citava também, casos de outros padres que possuíam amantes às ocultas e pela descrição que
fazia de um deles não era difícil reconhecê-lo, tratava-se do Padre Brito, amante da mulher do administrador de sua igreja.
O escândalo levantado pelo artigo
faz com que o padre Brito seja mandado embora de Leiria para outra freguesia, a
fim de evitar consequências piores para o nome da igreja. Por sua vez, o Padre
Natário, sempre blasfemador e grosseiro, queria resolver a ofensa na pancada. Quanto
a Amaro que já havia beijado Amélia no pescoço quando passeavam por um sítio,
achou mais prudente mudar-se daquela casa e pede ao cônego que lhe ache outra
para morar. Assim, ele sai dali entre lágrimas da Sra. Joaneira e de sua filha
que o adoravam. Durante o período em que ali vivera, no recato do seu quarto, Amaro ocupava-se apenas com pensamentos mundanos a respeito da jovem, como o
momento em que ela se despia, nos seus seios e outros mais libidinosos achando
que ela devia trocar seu atual confessor por ele, pois só assim teria
oportunidade de ficar a sós com ela e poder dizer o que sentia sem ser
percebido.
Quanto ao cônego, Amaro já o havia
flagrado aos amores com a Sra. Joaneira e julgou-a assim como sua filha como
gente de mau-caráter, num primeiro momento. A nova casa de Amaro é fria, sombria sem a alegria da
anterior, tem uma criada desleixada e o padre resolve se afastar uns
tempos da antiga casa para a tristeza de Amélia que o esperava todas as noites
em vão. Por esse tempo, João Eduardo recebe um cargo no governo civil e resolve
pedir a mão de Amélia em casamento.Quem recebe a notícia é a mãe, que toda
radiante a transmite à filha. A princípio, a moça recusa-se a aceitar o pedido,
mas raciocinando melhor, vê nisso uma segurança para o seu futuro, depois a mãe
não era para sempre e o padre ela poderia continuar encontrando às escondidas.
Revela-se aqui, a pouca retidão
de caráter da moça que tencionava casar-se e enganar o futuro marido. A notícia
do casamento de Amélia caiu como uma bomba sobre Amaro que tentava a todo custo
terminar com aquela estória, precisava livrá-la disso, porém
carecia de um bom motivo e ele veio: o padre Natário descobre o autor do
artigo que manchou o nome do clero e numa reunião entre eles combinam que irão
desmascará-lo. Para isso, iria até a direção do jornal e esclarecer o
fato diretamente com o dono e pressioná-lo. O Sr Godinho era conhecido pelo seu caráter de falsidade e assim sendo,
não iria apoiar o redator do artigo. Quanto a Amaro ficou estabelecido de que
ele ficaria encarregado de dissuadir Amélia do casamento, convencendo-a de que
aquele não seria um bom marido, uma vez que a difamara em um jornal sugerindo
que ela era amante de um padre. E o melhor argumento: ele ofendera um
representante de Deus sem prova concreta alguma, portanto um excomungado.
Conforme sabiam, a moça criada sobre fortes princípios religiosos não aceitaria
um homem assim como esposo. Em seguida, após tentar o plano com Amélia, Amaro
vai ter com Dna. Josefa, irmã do cônego que era madrinha da moça, pedindo-lhe
que reforce esta tese junto à moça, plano que surtiria o efeito desejado.
Após o fato, Amélia escreve uma
carta ao noivo terminando tudo. O infeliz do moço dirige-se a um bar e
juntamente com um amigo de ideais republicanos que ali encontrara, bebe até o amanhecer...
Ao sair do bar, depara com Amaro e lhe acerta um murro de raspão, fato que o
leva ao administrador da cidade, homem que na maior parte do tempo se ocupava em olhar
com binóculos a mulher do alfaiate Teles.
Temendo, porém que o caso
chegasse até os superiores da igreja, Amaro resolve perdoar seu agressor,
ganhando assim mais glória entre seus fiéis que o compararam a Cristo a
oferecer a outra face...
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