“Brasil, um país rico que não cuida do que tem, pois não realiza um trabalho sério, ético e eficaz em sua administração."
É de longa data o fato de que as
riquezas do nosso país são descuidadas pelos dirigentes e órgãos públicos. As
fronteiras do Brasil, desde há muito, são abertas para estranhos que entram por
nossas florestas, exploram tudo o que têm direito e ainda levam preciosidades
que seriam de grande valia para a nossa economia. Apesar da alegação de que
hoje os tempos mudaram e da exibição de propaganda de uma marinha e exército
eficazes, não é bem essa a realidade, pelo menos há treze anos, no então
governo de Fernando Henrique Cardoso, causas polêmicas envolvendo a Amazônia
ficaram vergonhosamente registradas em uma edição especial da revista Veja da
década de 90, dedicada a descrever a agressão e a corrupção envolvendo comércio
ilegal de madeira, o monitoramento da área num projeto suspeito como foi o
SIVAM e a perda do direito sobre nossa própria floresta através da catalogação
e apropriação de plantas por países estrangeiros. Tudo isso ocasionado pela
falta de ações práticas, excesso de burocracia e falta de pesquisadores
brasileiros, o que contempla a atuação de cientistas e pesquisadores
estrangeiros...
Segundo a Veja Amazônia de 2009,
para que um estudioso pesquise e realize um trabalho na floresta fica
dependente de uma autorização que demora vários meses para ser expedida dependendo de órgãos totalmente ineficientes que criaram o mito da biopirataria.
Será?
Por essa fonte também se toma
conhecimento de que a Amazônia é uma “terra de ninguém” onde os crimes
cometidos ficam impunes, não há ação eficiente da polícia federal representada por
pouco contingente favorecendo o narcotráfico de forma surpreendente.
O texto sobre o qual inicio hoje
nesta publicação será dividido em partes dado a extensão e importância do
assunto, ele versa sobre o território do Acre, sua origem, desenvolvimento e as
lutas pelo seu domínio de que foi alvo durante os séculos XIX e XX.
Existem alguns livros, pouco
valorizados que são além de verdadeiras joias literárias, importantes
documentos pela veracidade de informações do passado, o que hoje não encontramos
mais na literatura atual onde os autores estrangeiros num capitalismo cultural dominaram
este setor e elegeram o gênero da ficção como o principal entre suas criações, obras
que se tornam best-sellers afastando o sucesso dos escritores nativos, que
fadados ao fracasso conservam-se no anonimato de forma que os leitores brasileiros atualmente mais conhecem dos países estrangeiros do que da sua própria nação.
Este é o caso do livro que tomei
por base para falar sobre o Acre e sua questão: Território de Bravos, de
Francisco Marins, apesar de passar por uma literatura infanto-juvenil pouco divulgado e valorizado é uma fonte de informações históricas imprescindível em qualquer biblioteca.
imagem de domínio público: Óleo sobre tela - Brazilian
Forest -Martin Johnson Heade (1864) retirado de: http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3ABrazilian_Forest.jpg
Um território quase perdido pela inércia política -
Parte I
O Tratado de Tordesilhas no século XIX garantiu o direito de posse do
território do Acre aos bolivianos, fato reconhecido pelos brasileiros,
entretanto a falta de ocupação da terra pelos proprietários legais, justificada pelo
difícil acesso ao local, apenas possível pelo Rio Amazonas, favoreceu a
ocupação do lugar pelos colonos brasileiros que para lá partiram e se estabeleceram
para explorar a borracha das abundantes seringueiras (Hevea Brasiliensis) que
proliferavam por ali.
O governo boliviano tomou ciência da gravidade da situação quando se
refugiou no Acre para se proteger de um golpe de estado, verificando a maciça
ocupação dos brasileiros que ali estavam em número assustador.
As florestas do Acre são maravilhosas e se perdem de vista limitadas
pelo Amazonas e Bolívia onde rios caudalosos como o Javary, Purus e Negro além
de outros banham a imensa extensão de terras onde os povoados como Puerto Acre
(antes Puerto Alonso), Xapuri, Vila da Empresa e Caquetá já se haviam formado
por volta de 1899.
A borracha, denominação indígena para pequenos sacos ou bolsas de
carregar água, já era utilizada na época por nativos da região que
extraíam o látex também para a fabricação de sapatos rústicos que serviam de
proteção aos pés, além de utilizá-la para confecção de brinquedos como bolas
pulantes e “seringas” para atirar água, nome que se acredita ter dado origem ao
termo seringueiras.
Estas árvores necessitam de um solo altamente úmido para seu
desenvolvimento e segundo o autor, Francisco Marins, um sábio viajante francês
conhecido por La Condamine, descobriu através dos índios do Acre o leite da
seringueira, o caoutchouc (termo indígena, hoje cautchu) que foi levado à
Europa e teve a sua primeira utilização para apagar traços a lápis, o que antes
era feito com miolo de pão. Nesse aspecto, lembrei-me da minha infância onde
por algumas ocasiões meu pai o utilizava quando perdíamos nossas borrachas.
Já nesta época, o descaso do governo brasileiro no sentido de proteger
nossa floresta e suas riquezas era visível e embora não quisesse que levassem
esse tesouro tão cobiçado, não atuava eficientemente no sentido de impedir que
estrangeiros que adentravam pela mata dele se apropriassem.
Desta forma, a quina,
poderosa planta de onde se extraía o quinino,
remédio precioso para a cura da febre palustre, teve várias mudas levadas para
a Europa. Quanto à seringueira, três mil mudas foram traficadas em 1870 por
Henry Wickham, botânico inglês. Como estas plantas necessitam de um solo
especial, não vingaram. Não conseguindo seu intento, o botânico retornou ao Brasil
e ajudado pelos silvícolas da região do Pará, coletou 70.000 sementes de
seringueiras que levou da floresta em um navio fretado, camuflando-as entre
mudas de bananeiras, burlando facilmente as autoridades fiscalizadoras que
julgaram tratar-se de parasitas e outras plantas comuns que os estrangeiros
sempre levavam. Essas foram levadas e imediatamente plantadas nos jardins de
Kew (famoso jardim de espécimes vegetais em Londres) e as 2000 mudas que
conseguiram sobreviver tiveram como destino o Ceilão, (atual Sri- Lanka) e
Malásia sendo que apenas 400 delas resistiram à travessia. Assim, os ingleses
plantaram essas mudas regularmente, próximas umas das outras conseguindo multiplicá-las,
produzindo muito mais borracha do que o Brasil, cujos seringais foram
arruinados perdendo desta maneira, o Brasil, a autonomia econômica sobre o
produto.
Pelo que sabemos, a maioria dos países obtém lucros dos produtos que
consegue extrair do solo realizando comércio de exportação desses bens. A
extração ilegal nesse caso caracteriza-se como biopirataria ao sistema
econômico mundial. Para países que condenam atualmente a pirataria de seus
produtos eletrônicos e outros, considerando esse ato como antiético punindo com sanções econômicas e ameaçando quem a comete, tal fato apresenta-se como uma
incoerência onde o próprio erro não é considerado revelando-se o ditado do “faz
o que mando, mas não faça o que eu faço”.
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