Parte IV - última parte
Comentando o livro Território de Bravos de Francisco Marins
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Como deve ser gratificante conseguir alcançar um objetivo
após esforço próprio e muita luta. Luta contra diversos empecilhos: inimigos,
animais selvagens, doenças. Só mesmo os bravos são capazes de realizar tal
façanha. Uma pena que nos dias de hoje já não haja homens com este propósito
tão determinado e coragem além da morte. Pobre da nossa geração, oprimida,
controlada no corpo e na mente já não é capaz de enviar desafio algum.
Psicologicamente dominada, já não lhe resta ideal pelo qual lutar. O famoso “pão
e circo” representados pelo futebol, carnaval e outras festas populares já
saciam todas as personalidades do mundo hodierno. Os facebooks da vida passam a
impressão de uma falsa inserção e organização sociais; nunca o homem esteve tão
isolado, solitário e sem objetivo.
A vitória em Volta da Empresa renovou os ânimos e impulsionou
Plácido de Castro para continuar na luta, o próximo alvo seria agora Puerto
Acre cujo delegado boliviano, temeroso envia uma carta ao presidente de seu
país para que reconheça o poder do exército brasileiro e se renda entregando o
Acre ao Brasil antes que ocorra um massacre dos soldados bolivianos, sem contudo
obter resposta positiva. A guerra continua.
Por esse meio tempo, Plácido ainda não totalmente curado da
febre palustre que o acometera, piora, mas não desanima e comanda suas tropas de uma maca. Corre um
boato da sua morte, o que ele desconhecia é que esta notícia fora espalhada
por um soldado seu, um traidor entre seus comandados, que fingindo ser seu amigo
o apunhalava pelas costas. Por que razão existem pessoas cuja fraqueza de
caráter e ética maculam os bons ideais e luta dos dignos? Assim Plácido de
Castro tem que reforçar o seu comando na guarnição de Bom Destino e encorajar
seu grupo para que continue a luta e num esforço sobre humano vence em Iquitos
e inicia uma caminhada de 16 dias retornando a Volta da Empresa de onde
iniciaria o ataque a Puerto Acre, seu próximo alvo.
O inimigo que havia desanimado com a vazante nos rios, fato
que impossibilitava o transporte de ajuda do exército americano e boliviano, ganha
agora fôlego novo com as chuvas que aumentaram o nível das águas, mesmo apesar
do sofrimento com a falta de alimento e provisões.
Quando uma pessoa tem a nobreza de caráter e ética acima de
tudo procede como esse herói brasileiro que por milagre conseguia vitórias
consecutivas: avisava o inimigo do dia em que atacaria e ainda oferecia seu
hospital improvisado para os possíveis feridos, convite não aceito pelos
bolivianos.
Nesta empreitada, na primeira investida perde 50 homens, e o
comandante do exército antagonista é ferido. Plácido comanda o ataque do antigo
Afuá (barco tomado dos bolivianos, agora denominado Independência pelos
brasileiros). O inimigo temendo a proximidade do nosso exército havia estendido
uma corrente dentro das águas do rio de forma que navio algum poderia rompê-lo
para aproximar-se. Mas a tática do comandante brasileiro é impecável, pois
conseguem após muito risco e coragem destruir os elos da tal corrente e atacam
agora maciçamente o inimigo.
Numa atitude covarde, o exército boliviano simula a paz,
empunhando uma bandeira branca apenas para localizar a posição de Plácido e
atingi-lo, mas a perspicácia e experiência impressionantes deste gaúcho
pré-determinado descobrem a manobra conseguindo livrar-se a tempo.
No meio político, esta luta começa a incomodar os ânimos, a
notícia da bravura dos brasileiros, sua persistência e vontade chegam aos
ouvidos do Barão de Rio Branco que se indispõe com o presidente da Bolívia
pela falta de patriotismo querendo entregar o território aos americanos, coisa
que o Brasil não iria permitir. Ante tal decisão o governo boliviano resolve
reforçar seu exército firme no propósito de derrotar Plácido de Castro.
Finalmente, em contrapartida, o governo brasileiro resolve finalmente entrar na
luta concentrando tropas do exército no Amazonas e Mato Grosso.
Todos esses fatos não chegaram aos ouvidos de Plácido e seus
soldados uma vez que embrenhados na mata não contavam com nenhum meio de
comunicação que os informasse. Além do mais, o rádio ainda não havia sido inventado. Começa
por esse período a descoberta de que um
soldado de nome Alexandrino em suas tropas estaria ameaçando e se indispondo
com os demais companheiros. Tomando conhecimento, o comandante repreende
severamente este comportamento desleal do seu soldado,ganhando com esse ato um
inimigo vil que agiria às ocultas.
Plácido consegue vencer todas as batalhas, o inimigo se
rende finalmente e a curiosidade é grande, todos querem conhecer esse herói,
tão brilhante líder cuja bravura fora
responsável pela vitória de seu exército, porém ao conhecê-lo surpreendem-se
com um jovem de 29 anos, simples que não
os humilha e sim explica amavelmente a razão de sua luta: amor às terras
brasileiras ameaçadas de serem perdidas e caírem nas mãos de capitalistas
americanos.
É lavrado um documento de posse do território ao Brasil, O
Tratado de Petrópolis, em 17-11-1903.
Tratando com descaso toda a luta empreendida por Plácido de
Castro o governo brasileiro nomeia José Olímpio da Silveira como governador do
Acre pagando com indiferença toda a luta sofrida e sacrifício empenhado.
Como se isto não bastasse para punir esse herói, ele é morto
em uma emboscada na floresta empreendida pelo soldado Alexandrino, que há muito
vinha planejando sua morte.
Após mais de um século da morte de Plácido de Castro, a
situação se reverte. Muitos não dão o mérito ao caudilho alegando que ele nada fez,
que a sua luta nada significou como força para anexação deste território ao
nosso país. Afirmam também que o maior herói seria o Barão do Rio Branco que
através da sua diplomacia conseguiu ampliar nossas terras em 32%. Quanto aos
Estados Unidos, o intromissor crônico nas questões de posse de terra, foi
indenizado em 110.000 libras pela quebra de contrato e despesas de advogado, negociação tática do mesmo barão astucioso.
Entretanto, fica uma certeza no ar: Quem arregaçou as mangas
para lutar diretamente, conjuntamente com os seringueiros desenvolvendo
estratégias de guerra? Quem enfrentou situações perigosas, lutando a despeito
da doença demonstrando um espírito de coragem e ética e patriotismo a toda
prova?
Há uma tendência a desmerecer nossos antepassados, destruir
nossa história, denegrir nossos nobres descendentes e bravos lutadores em
favor do Brasil disseminando a dúvida de possível construção lendária e mística
de herói.
Porém, o bom-senso há de nos guiar sempre, reconhecendo a coragem e o amor que estes valorosos brasileiros dedicaram a sua nação.
Porém, o bom-senso há de nos guiar sempre, reconhecendo a coragem e o amor que estes valorosos brasileiros dedicaram a sua nação.
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