Continuando a narrativa...
EURICO , O PRESBÍTERO - PARTE II
EURICO , O PRESBÍTERO - PARTE II
Ante a morte do pai, Hemengarda fica desprotegida e é levada a um convento, pois julga-se que ali ela ficará a salvo da violência peculiar dos árabes. O irmão dela, Pelágio, em defesa da Espanha à frente de um exército como capitão gótico, encarregara um amigo de levar a irmã a esse lugar santo onde as monjas castas faziam oração a Deus. Várias outras pessoas de origem goda também para lá se dirigiram em busca de refúgio.
Perdendo sucessivas batalhas e consequentemente suas terras, os godos ficam na mão do exército árabe que decide tomar o mosteiro. Um dos traidores dos godos vem avisar aos góticos que aos árabes interessam os tesouros que se achavam guardados no interior do mosteiro e as virgens que ali se abrigaram, que seriam propícias para saciar os desejos sexuais dos guerreiros há tanto tempo longe de casa e que trocariam a liberdade dos povos que ali se refugiaram se conseguissem o seu intento sórdido.
Quando recebe essa notícia, abalado o rei visigodo Atanagildo não quer concordar, mas o derramamento de sangue talvez inútil, dado a habilidade e fúria do exército inimigo, faz com que retroceda e concorde com a troca, uma vez que a monja principal do convento lhe aconselha a aceitar, pois haveria muita desgraça inutilmente.Desta forma, abrem-se os portões do mosteiro, o povo é libertado ficando apenas as monjas e as virgens indefesas à mercê de sua sorte. Aquelas trancam-se num porão e à portas cerradas vão rezando incluindo Hemengarda que se recusara a fugir com seu escravo em solidariedade às religiosas.
Na iminência da derrubada da enorme porta, a madre superiora vai degolando as irmãs uma a uma para que não sejam desonradas pelos árabes. Estes, prestes a adentrar ao salão impacientes e incrédulos com o que vêem tentam derrubar as grossas madeiras. Quando a madre se prepara para dar o mesmo fim a Hemengarda que já se conformara com o seu destino, o pesado madeiro cai sobre a pobre freira matando-a imediatamente. Hemengarda é levada pelos inimigos como escrava, pela sua rara beleza serviria os desejos do amir em sua tenda.
Desde o momento da saída que a moça não parava de chorar, assustada e desolada temendo o que lhe estava por vir. Assim que chega à tenda pede ao amir que a deixe chorar e isso acontece em dois dias consecutivos. Enquanto isso acontece, o escravo escudeiro da moça vai até o irmão dela, Pelágio, e lhe informa do sucedido. Ele se revolta e prepara-se para resgatá-la quando recebe um recado do fantástico cavaleiro negro, Eurico que também soubera do acontecido e tomou para si a obrigação de salvar sua amada, pois nunca a esquecera de fato. Assim, proíbe Pelágio de tomar qualquer atitude e convoca doze cavaleiros guerreiros sem família que sob o seu comando resgatariam Hemengarda.
Há nesse romance um aroma de novela de cavalaria, o sabor da aventura de capa e espada cuja ação é constante e prende o leitor para que saboreie sempre o próximo episódio.
Nesse ínterim, na tenda do amir, Hemengarda indefesa e assustada está prestes a ser possuída quando repentinamente, Eurico disfarçado de cavaleiro negro subitamente invade o local saído do nada e o fere quase que mortalmente. Põe fogo na tenda, resgata a amada e com ela foge em seu cavalo por montanhas íngremes e escarpadas. A moça não pode reconhecê-lo uma vez que o elmo e a túnica negra o impedem.
A fuga é narrada com bastante veracidade, os árabes em perseguição dos godos. Em determinado momento, Eurico detém-se para lutar com o inimigo e pede aos outros guerreiros que levem Hemengarda à gruta da montanha, o esconderijo de Pelágio para que ela ficasse a salvo. E a luta encarniçada continua...
UMA REFLEXÃO DE ALEXANDRE HERCULANO, MARAVILHOSA POR SINAL, SOBRE A MORTE:
"Era a hora em que o homem está recolhido nas suas mesquinhas moradas; em que pelos cemitérios o orvalho se pendura do topo das cruzes e, sozinho, goteja das bordas das campas, em que só ele chora os mortos.
As larvas da imaginação e o gear noturno afastam do campo-santo a saudade da viúva e do órfão, a desesperação do amante, o coração despedaçado do amigo.
Para se consolarem, os infelizes dormiam tranquilos em seus leitos macios!...Enquanto os vermes iam roendo esses cadáveres amarrados pelos grilhões da morte. Hipócritas dos afetos humanos, o sono enxugou-lhes as lágrimas."
(Uma reflexão do autor no romance que apesar de se encaixar nas tendências da escola romântica, muito traz do realismo ao descrever sentimentos humanos).
Para se consolarem, os infelizes dormiam tranquilos em seus leitos macios!...Enquanto os vermes iam roendo esses cadáveres amarrados pelos grilhões da morte. Hipócritas dos afetos humanos, o sono enxugou-lhes as lágrimas."
(Uma reflexão do autor no romance que apesar de se encaixar nas tendências da escola romântica, muito traz do realismo ao descrever sentimentos humanos).
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