sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Respeito é a base da convivência entre os homens

O que me instigou a escrever este texto foi um comentário de meu marido assistindo uma matéria na TV a respeito das condições de um dos maiores cemitérios de São Paulo: o da Vila Formosa...






O Cemitério da Vila Formosa, um dos maiores da América Latina, está literalmente entregue às traças, baratas, ratos e outros animais peçonhentos: os racionais, que violam, dilapidam o direito do descanso eterno daqueles que se foram, mas que quando vivos, deram sua contribuição para a sociedade, trabalhando e construindo o país...
Um canal de TV mostrou imagens de túmulos totalmente encobertos pela vegetação, semidestruídos, ossários em condições horríveis de depredação... 
O comentário feito que gerou este texto foi: "Que ignorância! deviam acabar com todos esses locais e aumentar crematórios, dado ao grande volume de mortos das cidades grandes! Mortos se tornam lixo e lixo, deve desaparecer... Quem acreditaria que nessas tumbas ainda há alguma coisa?
Ante essa reflexão, assaz materialista, começo a divagar e filosofar. Acrescento que adoro fantasia, sonho e não posso concordar com isso, apesar de partir de alguém a quem amo e respeito durante tantos anos...
Como deve ser doloroso, triste e até cruel  pensar assim... Entretanto esse parecer de que tudo se acaba com a morte, vem ganhando lugar de destaque entre os humanos que procuram ser felizes a qualquer preço enquanto vivos.
Acredito que cada ser é formado a partir da construção de sua personalidade e caráter, que se inicia  cuidadosamente na infância, a partir da mais tenra idade. Venho de um lar onde a figura paterna sempre cultuou e valorizou o espiritual em detrimento do material, onde cada finados era venerado como um ritual: a escolha das músicas (no caso apenas eruditas e orquestrais), visita obrigatória ao campo santo, como era conhecido o cemitério em outros tempos ditosos; visita aos túmulos familiares,  reverenciando a memória dos ancestrais, bem como dos amigos já desencarnados e, principalmente, ao cruzeiro: local onde se rezava e relembrava todos os espíritos que ali foram sepultados após a morte.
Esse rito repetido em toda a minha infância e adolescência não conseguiu ser apagado da minha conduta: considero sempre e me entristeço  ante a partida final de quem quer que seja. Aquele local de sepultamento é o capítulo final de um história de vida, contém toda trajetória,  suas lutas, ideais, trabalho realizado, apresenta um nome a ser zelado, um ser que passa para o etéreo desconhecido e misterioso representado pela materialidade de uma foto e a descrição através de um epitáfio ...  
E o crematório, cujo procedimento vem ganhando espaço nos nossos dias, ocasionado pela própria necessidade, escassez financeira e falta de espaço, além da total falta de sentimentos e sensibilidade, me parece algo que apaga qualquer traço espiritual que ainda possa permanecer daquele extinto, levando para longe sua memória, eliminando um lugar particular onde possa ser lembrado ou sequer registrado na história...
É com uma emoção indescritível que digo isso: a memória de meu pai, apesar de quase vinte anos de separação, permanece intacta e minha visita, principalmente no dia de Finados, é obrigatória. Um laço espiritual nos une, o tempo não conseguiu apagar toda aquela preocupação que ele teve em me educar nesse aspecto. Por essa razão, hoje, neste momento, me preparo como sempre nessa época, a uma visita respeitosa pela sua memória; sei que ali no local não há mais nada de material da sua humilde e delicada pessoa, porém ao chegar ali, no pequeno cemitério de Arujá onde seu corpo descansa, e as árvores balançam seus galhos à mercê do vento, é um lugar de reflexão, de respeito ao seu ser. Ali, de joelhos,  faço minha oração pedindo a Deus que o conserve em sua glória perpétua, leio trechos da Bíblia a qual ele tanto lia em seus últimos e sofridos anos... Faço orações pessoais improvisadas e afasto para sempre o materialismo, cujo efeito nos endurece demais e afasta o aspecto de melancolia e emoção  que o sonho e a fantasia  nos levam...São caminhos mais suaves e leves que nos aproximam mais da existência de um Deus, cuja presença está cada vez mais distante das pessoas dos nossos dias...





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