segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Homenagem póstuma

Amanhã é o seu dia, meu querido pai...É uma pena que seja um dia tão triste para que eu me lembre de alguém tão alegre como você foi. E  mais triste se torna quando há onze anos não conto mais com sua amável presença.
Exemplo de dignidade e humildade acima de tudo, você foi tudo de bom que pôde acontecer em minha vida.
Tenha a certeza, esteja onde estiveres, que você será sempre o meu paizinho querido, aquele  cuja lembrança nem o tempo vai apagar.








"LEMBRANÇA"



Tudo aqui nesta casa me lembra a tua presença: seja o solitário porta-retrato sobre a estante que exibe inocente o teu rosto simpático, ou até mesmo o relógio silencioso de parede com que me presenteaste e que continua trabalhando indiferente.
Aquela tua florzinha preferida no jardim...
O frasco do perfume, intacto no armário do banheiro, ou as roupas imóveis no guarda-roupa das quais não tive coragem de desfazer; os chinelos, o doce preferido, os discos... A Bíblia Sagrada esquecida sobre o criado-mudo...
As suas palavras carinhosas, o sorriso amável, a compreensão, o exemplo e a dignidade acima de tudo.
Você, agora, a sua imagem se esvaem no tempo qual fumaça que se dissipa rapidamente ao sabor do vento.
Sua morada já não é esta.
Engraçado como a fragilidade humana é imensa! Os objetos materiais permanecerão por muitos e muitos anos: uma simples folha de papel com anotações tuas ainda remanesce e remanescerá, não sei até quando, enquanto que de você nada mais restará.
Caminhando pelo cemitério silencioso, carregando o ramalhete que eu mesmo compus com suas flores prediletas do jardim, vou remoendo estas palavras, quase uma oração pessoal.
Revejo a lápide fria de onde o nada é a certeza mais dura que me invade o ser.
“Quando poderemos nos ver novamente, trocar confidências?”
De ti, ficaram-me as mais doces lembranças que um ser humano pode ter.
A vida deve continuar... A guerra não acabou, ainda mesmo que um combatente de ouro tenha tombado.
Nada espero... Nada cobro... Nada exijo... Vou vivendo à mercê da sorte...
A mim, resta-me a capacidade de poder fechar os olhos e recompor já com dificuldade o seu rosto sereno. O sentimento que nos uniu é o mesmo e será eterno, imortal, indiferente à fugacidade do tempo...

Imagem acima retirada do Google Image. Site: cienciatic.blogspot.com.

2 comentários:

  1. Sou eu, outra vez
    Vi agora que havia mais este bonito texto. Como compreendo o que a Cristina diz sobre o seu pai, com as suas, como sempre, belas palavras! Também me lembro do meu pai. Por vezes com saudades e admiração sem fim, por outras, com um misto de perplexidade e de desapontamento. Que bom que a Cristina guarda tantas lembranças boas sobre o seu pai, e que ele lhe é merecedor de tanto carinho. O meu pai foi o meu primeiro grande amor. Achei que podia contar com ele para tudo, que ele me amava acima de tudo, mas nem sempre a vida se veio a revelar assim! Realmente, nas alturas em que mais precisei do meu pai, ele não esteve lá para mim. Muita da tristeza passada da minha vida, dos sofrimentos, devo-o ao feito desconcertante dele, á insanidade que o caracterizava. Mas, tal como a Cristina, vou amá-lo sempre, pelas coisas boas que lhe devo, e vou aguardar pelo dia que nos voltaremos a ver, noutro sítio, noutro lugar.
    Beijinhos,
    Glória

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  2. Olá Cristina,
    Obrigada pelo seu comentário maravilhoso! De facto, como a Cristina diz, não podemos desistir nunca do sonho de encontrar o tal "lugar ao sol". Com perseverança,acabamos por lá chegar!
    O Dia das bruxas já se passou, foi muito divertido. Enfeitámos a casa com bruxinhas, fantasmas, velas. Eu acho sempre que me divirto mais do que os miúdos, nestas alturas.
    Para a semana, no dia 11, vai ser o Dia de São Martinho. É o dia de comer castanhas assadas ou cozidas, muita carne de porco assada, e beber muito vinho novo. È uma festa bem portuguesa e cheia de tradições. As pessoas fazem grandes "magustos", que é o que chamamos às festas das castanhas. É também uma boa desculpa para grandes bebedeiras, mas como é festa, ninguém repara.
    Beijinhos,
    Glória

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