quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Hoje, dia de recordações mil, de doces lembranças e visitas a cemitérios...Mais uma vez recorro à frase do maravilhoso Olavo Bilac: "Saudade, presença de ausentes"






Oração improvisada




 Procurei pela pequena Bíblia de bolso que sempre me acompanha pela ocasião de finados, mas hoje não a encontrei, deste modo, trago apenas em minhas mãos; as velas e belos crisântemos amarelos. O vento sopra muito forte, o que me dificulta acendê-las, quanto mais conservá-las assim. Com muito esforço consigo meu intento colocando duas pequenas pedras de granito a protegê-las e, eis que, vejo todo o maço incandescente e, rapidamente, um choro perolado de parafina escorre pelo chão seco.
Ajeito as flores sobre a lápide, tentando preservá-las da força do vento e inicio minha oração:
"Querido pai, que não está mais entre nós, no entanto, nunca esteve tão presente como hoje e sempre em minha vida. Sabe, apesar de não ler aqui uma das passagens ou salmos bíblicos dos quais você sempre adorou e persistiu na leitura até o fim de seus dias, trago hoje minhas próprias palavras em forma de oração...
Sigo minha vida, não sei se pode ter conhecimento de todas as dificuldades, veredas e caminhos tortuosos que vou contornando. Também, dia a dia, vou aos poucos transpondo os obstáculos, dando o melhor de mim, não esmorecendo ou abandonando minha missão no meio do caminho...Tenho tentado ajudar aqueles que de mim dependem com humildade, dignidade e compromisso. Quero que saiba que todas estas lições que aprendi foram ensinadas por ti, ao longo da nossa convivência. 
Os filhos já estão criados e cada qual segue seu caminho. Rogo a Deus que o tenha em sua glória e sabedoria, para que jamais sofras ou passe por alguma tristeza. Acrescento que nada sei sobre os mistérios da vida, mas do fundo do meu âmago, sinto a sua presença, mesmo que em outra dimensão.A paz que reina nesse campo sagrado mostra-se através do canto suave dos pássaros, do balanço das folhas ao vento, do ruído cadenciado dos números dos túmulos que soam como uma triste canção.Se fosse possível, gostaria de revê-lo, nem que fosse por alguns segundos, ou até mesmo em meus sonhos que raramente trazem sua presença.
Gostaria muito de agradecer como sempre faço nesse dia, pela sua dedicação, sacrifício e bondade a toda prova.Assim, venho aqui rezar as orações que aprendi na infância e mostrar para ti que aprendi a lição da solidariedade que me ensinaste: dedicar pelo menos uma delas a todas as almas indefinidamente, como fazias quando visitavas os cemitérios nesses dias de reflexão e homenagens póstumas.Para terminar, vou te contar que aqui em nossa casa sua ausência é muito sentida, seguimos nosso caminho sem grandes mudanças, pretensões ou ambições, da minha parte, tento sempre que possível ser melhor, aprender com meus erros a cada dia que ganho nesse planeta maravilhoso que temos por casa. Não quero me deixar levar ou acreditar na morte como o fez o personagem Eurico, de Herculano ao definir o que é a morte, a indiferença que os mortos sofrem, o egoísmo humano que  é muito cruel. Prefiro acreditar na benevolência, na gratidão e no reconhecimento...
 Tenho agora que partir, os pingos de chuva fina que começam a cair, anunciam que devo me retirar...
Descanse em paz!"


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