domingo, 14 de março de 2021

 




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Aeternum  (Para sempre)



A noite chega sem vontade, tingindo de escuro as cores alegres da tarde que aos poucos deixa cair seu véu...Noite nublada, sem estrelas, convida à meditação, lembranças que vão desfilando na mente, compondo páginas de experiências vividas. 
A maioria das pessoas recomendam nas redes sociais através de memes e vídeos comoventes que se inicie o dia agradecendo, reconhecendo todas as coisas boas que nos acontecem e aconteceram até agora. Também há muitas que afirmam que devemos estar sempre serenos, aceitando a fase da vida em que nos encontramos, que a chegada da velhice é algo muito natural, e que a resignação deve ser sempre nossa companheira...
Entretanto, não há fórmulas mágicas  para que sejamos ou ajamos como todos afirmam ser necessário. Em um dos grupos de relacionamento que tenho frequentado diuturnamente, alguém disse que o maior valor da vida é nos tornarmos na idade madura, melhores com a progressão da vida em suas várias fases.
Porém, o que dizer de alguém que apresenta uma figura como a minha? Temperamento quixotesco, desde a infância, construída de quimeras e situações fantásticas em que a poesia sempre substituía ou melhor, adornava a realidade, eufemizando situações, colorindo com cores fortes e vibrantes os dissabores, aromatizando agradavelmente as ocasiões festivas ou funestas...
Quero dizer que não vi a velhice chegar, nunca acreditei nela, sempre foi a fantasia quem guiou meus passos: na infância era a Cinderela, a Branca de Neve, a Bela Adormecida... Na adolescência, a viajem através da dança, da música, dos ídolos famosos que me emprestavam asas para voar, e num estalo, tudo passava, como num róseo carrossel; vieram as transformações físicas, o casamento, a chegada dos filhos, a separação deles, reconstrução da vida!
Hoje, me acho num grupo de relacionamento virtual da cidade onde nasci, onde passei minha adolescência e parte da vida adulta...Vejo nas fotos frias, rostos envelhecidos, cabelos pintados com o branco da passagem do tempo, ouço e respondo falas distantes que me perguntam coisas de dantes, das quais nunca me esqueci! Sinto-me em relação àquelas pessoas queridas que comigo estudaram desde a infância como se houvesse pegado uma estrada dentro de um carro veloz que engoliu a distância avidamente e foi deixando para trás todas as emoções, rostos,  cores, vozes e locais que eu tanto frequentei e amei. 
De repente, eis que estamos juntos novamente, na frieza do ecrã do celular a postarmos fotos antigas ou atuais, tentando resgatar o elo que nos ligou durante tanto tempo! As amigas, os colegas de classe, o antigo namoradinho da pré-adolescência... Fotos de pessoas amadas que se foram; entre professores, amigos, um coisa muito surreal!
Quero dizer-lhes que foi um acontecimento muito marcante esse retorno ao convívio mesmo que virtual, e revelo que ainda continuo aquela mesma menina sonhadora de outrora, não sinto a velhice, assim como não senti nenhuma fase da minha vida com o gosto cruel da realidade... Sim, sou um Quixote na versão feminina, e sinto pena de mim... Sinto pena de mim por tudo que não vi passar, por toda a realidade que fantasiei, pela simplicidade que guardei até hoje em meu espírito, por tudo que esperei acontecer e não aconteceu, pela determinação de sempre seguir em frente, sonhando, esperando o melhor para mim e para todos.
Se me tornei uma pessoa melhor, isso não sei dizer, os sonhadores não tem maldade no coração, isso eu garanto, todavia,   apenas as outras pessoas podem avaliar isso, durante o tempo...
Não julgo, não espero nada das outras pessoas, apenas lembro e sinto! E perante a minha visão de sonho, quero dizer que todos vocês foram personagens fantásticos que compuseram o livro da minha vida, cada qual no seu papel, e sempre estarão guardados no cofre dourado da memória...

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