quinta-feira, 3 de junho de 2021

 A pedido de amigos, resgato aqui algumas memórias dedicadas a um meio de transporte deveras antigo, dois séculos de existência: a bicicleta, uma vez que hoje, 03/06 é o seu dia...







Ontem, hoje, sempre


Palavra nascida na França, o vocábulo bicyclette, deriva do francês. Etimologicamente formado do prefixo latino bi e do grego, kýklos e cyclos nos alerta de que se trata de uma composição por hibridismo, já que junta línguas diferentes, significando veículo de duas rodas.

Mas não foi por esse motivo que resolvi escrever esse texto. Novamente, me voltam os passeios pela memória, já enevoados pelo avançado do tempo. Vejo-me, criança ainda, dengosa e chorona, sempre me olhando no espelho da cristaleira, o que me levou à alcunha de “Maria Cristaleira”. Sorte que cresci uma menina muito sensível e piedosa até dos matinhos que pisava no quintal...

E a bicicleta? Ela chegou por volta dos meus 6  anos, uma Mercswiss, verde para aliviar a carga que meu pai carregava na sua própria bicicleta: minha mãe, na garupa, trazendo ao colo meu irmão ainda bebê e eu na cadeirinha próximo ao guidão. Por vezes para efeito de zombaria, algum passante gritava: “Lotação!”

Jamais me envergonhava disso. Hoje, analisando esses tempos passados, onde o cenário era constituído por bicicletas e charretes e alguns carros esporadicamente, concluo que aquela geração contribuiu para a pureza do ar e preservação da saúde, algo que nos dias atuais não é possível acontecer; o carro se tornou além de meio de transporte principal, uma forma de status social, o que lamento muito.

Aprendi a andar de bicicleta com o auxílio de meu pai: alguns tombos e arranhões e lá íamos nós para todos os cantos, cada qual no seu veículo ao sabor do vento. Certa ocasião, ficou decidido que iríamos de bicicleta a um sítio que meu avô paterno possuía, não me lembro se em Taveira, ou outro local alguns quilômetros distante de Araçatuba. Um calor de 40 graus, pleno verão, ausência da mais leve brisa e um areão que por várias vezes me faziam derrapar e parar, o que para meu espírito infantil, parecia não ter mais fim! Era um grupo até grande de adultos e a menor era eu que ficava para trás, castigada pelas dificuldades do caminho, porém o final feliz, embaixo da amoreira gigante, com sua sombra reconfortante e os frutos doce-mel. Lembro-me do vestidinho branco todo manchado de vermelho-vinho e das repreensões:

-Não vai sair mais, mancha de amora não sai...

E a bicicleta acompanhou-me por toda a minha vida, lembro-me de meu avô materno com sua companheira inseparável, fizesse chuva ou sol a caminho do trabalho na Fábrica de Tanino; das velhas histórias de meu pai com sua bicicleta voadora (motivo de piada no jornal do Frigorífico T. Maia onde trabalhava); das minhas idas já em uma Monark, aos 11 anos às aulas de piano; do primeiro namoradinho buzinando na porta de casa com sua bicicleta toda equipada com buchinhas coloridas, flâmulas e outros adornos da época, apavorando-me com medo de que minha mãe percebesse... 

Ah, como é rósea a infância e a adolescência!

Se bem que, de uma hora para outra deixei de adorar a bicicleta, os passeios nesse veículo maior já não tinham o mesmo sabor delicioso da infância... Voltei a usá-la em São Paulo, entretanto, o trânsito feroz das avenidas não encorajava seu uso e os passeios eram sempre no entorno da represa  Guarapiranga, local maravilhoso na década de 80, hoje impraticável e inseguro. Mudando-me para Rio Claro também a usei várias vezes para ir ao trabalho , e hoje vejo minha filha elegendo-a como meio de transporte...

Acredito que cada um de nós tenha histórias maravilhosas para contar nesse dia de hoje, dia da bicicleta. São reminiscências de um tempo que ainda hoje, voltam com a mesma intensidade e emoção e valem a pena ser relembradas.   

 

 

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